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(Foto: flickr/cc/Shuck - Carta Maior) |
"Agora podemos verdadeiramente dizer que nosso país foi
traído", protestou o Subcomandante Marcos, do Exército Zapatista de
Libertação Nacional.
Por Max Ocean, do Common Dreams - reproduzido do portal Carta Maior, de 09/08/2014
Na última quarta-feira, o Senado mexicano
aprovou um plano de reformas energéticas que abrirá o setor para investimentos
estrangeiros e privados de multinacionais petrolíferas, marcando o final de um
período de 75 anos no qual a companhia petrolífera - Pemex - permaneceu
estatal. É o início do que muitos apontam como uma nova onda de exploração
corporativa dos recursos naturais do país.
O rendimento do petróleo mexicano declina enquanto a produção em milhões de
barris diários do país diminuiu na última década. A jogada é uma tentativa de
dar vida ao setor, encorajando o investimento privado. Essa abertura para os
investimentos só foi possível devido a uma emenda constitucional assinada em
dezembro.
O pacote de leis aprovado na quarta-feira só precisa ser assinado pelo presidente
Enrique Peña Nieto – ele próprio lançou a reforma junto com outras mudanças, no
intuito de aquecer o crescimento econômico. Peña Nieto diz que a nova reforma
irá prover até 2 milhões de novos empregos no setor de energia.
Apesar de a Pemex ter sido mal gerenciada pelo estado, o México não tem um
histórico de receita de privatização voltado para a população em geral. E é a
população que irá arcar com a dívida inexplicável da Pemex, a qual o analista
político Leo Zuckerman estima em torno de 850 pesos mexicanos para cada
cidadão.
Quase um terço da receita do governo mexicano vem da Pemex, essa receita
contribui em 40% com o que é gasto com educação pública, assistência médica,
infraestrutura, segurança e programas sociais. Logo, não é de se surpreender
que a votação mostrou que 83% da população mexicana se opôs a modificar a Constituição.
De acordo com o LA Times, existem poucos detalhes disponíveis publicamente
sobre como a Pemex “gastou seu dinheiro no decorrer dos anos e as razões para
estar com uma grande dívida.” Mas John Saxe Fernandez e outros professores da
Universidade Nacional Autônoma do México acreditam que a abertura para
investimentos privados foi causada por oficiais do governo mexicano, e
especificamente pelo ministro das Finanças, cedendo às pressões do FMI e do
Banco Mundial. De acordo com Saxe Fernandez, entre 1990 e 2004 o governo tomou
100% da receita da Pemex e cobrou $8 bilhões adicionais dos oficiais. “O
objetivo?” diz Fernandez – “Nas palavras do Banco Mundial: ‘levar a companhia
ao ponto de venda.’ ”
“Agora podemos verdadeiramente dizer que nosso país foi traído,” escreveu o
Subcomandante Marcos, então líder do Exército Zapatista de Libertação Nacional,
quando a emenda constitucional estava sendo ‘empurrada’ em dezembro. “Nós já
vimos esse tipo de ‘roubo disfarçado’ antes, essa promessa de progresso por
meio da reforma constitucional. Os únicos frutos desse tipo de manobra são
problemas, problemas como a desapropriação agrária que destruiu o campo
mexicano e foi alcançada por meio de mentiras como essas ‘reformas’.”
No dia 31 de julho, o blog Mexico Voices relatou que o ex-candidato a
presidência e líder ‘moral’ renomado do Partido da Revolução Democrática (PRD),
Cuauhtémoc Cárdenas Solórzano, liderava o esforço para exigir um referendo
público nas eleições do ano seguinte, o que iria permitir que as mudanças
constitucionais fossem revertidas. “Nós já temos as assinaturas e o apoio
necessário; mais de 3 milhões de cidadãos estão pedindo o referendo,” ele
disse.
O México possui o oitavo maior depósito de gás de xisto no mundo - 13 bilhões
de barris de óleo de xisto - potencialmente tornando o país o próximo campo de
batalha contra o fracking. A Pemex já conduziu a perfuração de 19
poços experimentais de gás de xisto nas fronteiras da região do Nuevo
Leon-Tamaulipas.
O câmbio (A mudança) do país para uma indústria privada de energia contrasta
com a conduta dos países da América Latina que nacionalizaram seus setores de
energia nos últimos anos.
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Tradução de Isabela Palhares
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