"Com o tráfico era difícil, mas hoje temos medo da polícia.
Medo e antipatia. Tem muito morador inocente morrendo em becos, vielas, eles
matam mesmo".
Por Jefferson Puff - da BBC Brasil no Rio
de Janeiro - de 22/08/2014
"Quando
a morte bate na porta da sua casa, você começa a ver as coisas de uma maneira
muito diferente. No começo eu acreditei, quando se falava em UPP com objetivos
sociais, colocando esportes, trazendo iniciativas para aproximar a comunidade,
mas não foi isso que aconteceu. É uma pacificação de mentira. A gente não está
na África nem em Israel, mas vivemos uma guerra também, e aqui no Alemão não se
usa bala de borracha e não tem primeira abordagem. Aqui você morre logo."
Denize Moraes da Silva, de 49 anos, nasceu
e cresceu no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro.
A comerciante perdeu em 27 de maio o filho
Caio Moraes da Silva, aos 20 anos, atingido por uma bala no peito quando
tentava sair de um tumulto gerado por uma manifestação na favela em que
trabalhava como mototaxista. A investigação ainda está em curso, mas Denize
acusa a polícia e diz ter testemunhas. Para ela, o clima nas UPPs está ficando
cada vez mais tenso.
"Para mim não restam dúvidas de que
foi a polícia. Há testemunhas, até mostraram para o meu cunhado o policial que
atirou. Foi um tiro no tórax, com a clara intenção de matar. E meu filho era
trabalhador, sempre foi. Nunca tinha se envolvido com nada", afirma.
Consultada pela BBC Brasil, a Delegacia de
Homicídios (DH), que investiga o caso, diz que o inquérito ainda está em
andamento. "Foi realizada perícia de local. Familiares e testemunhas foram
ouvidos, além dos policiais militares. As armas foram apreendidas e
encaminhadas para confronto balístico, e a delegacia aguarda o resultado dos
laudos da perícia", informou a DH em nota.
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