(Foto: Página/12) |
Experts em guerra declararam que
com as pistolas (de fabricação alemã) exportadas foram mortos mais seres
humanos do que com as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki.
Os pacifistas do mundo esperam
agora que o governo alemão feche definitivamente essa empresa armamentista que
cometeu o delito de exportar armas à Colômbia através dos Estados Unidos.
Por Osvaldo Bayer, de Bonn, Alemanha – reproduzido do jornal argentino Página/12, edição de 05/07/2014
Já falamos
em artigos anteriores dos 100 anos transcorridos desde a Primeira Guerra
Mundial. 1914. Com milhões de jovens soldados mortos. Mas o ser humano não
aprende da história. Enquanto os políticos, os sacerdotes, as associações feministas
prometeram depois das duas experiências de terror o “Nunca mais”, a realidade –
com uma hipocrisia desmedida – nos mostra a outra cara. A realidade. Justamente
quando se cumprem os 100 anos da insuperável estupidez humana, desmedida, da
Primeira Guerra Mundial (nem falar da segunda 1939-45), a ministra alemã da
Defesa, Ursula von der Leyen, anunciou que se vão armar os aviões Dohner, os
pequenos aviões de observação sem piloto. Vão ser “atualizados” com todas as
armas que levam os aviões de guerra; bombas, foguetes, metralhadoras, etc. etc.
Isto causou
uma reação plena de angústia e tristeza na Alemanha pacifista, aquela que quer
aprender de seu passado de guerras e busca a paz eterna. Justamente uma mulher,
Ursula von der Leyen. O governo escolheu precisamente uma mulher como ministra
da Defesa (ou da Guerra, como se dizia antes) porque, em si, a mulher é
decididamente pacifista, porque traz vida. E mais, a ministra Von der Leyen é mãe
de sete filhos, nada menos. Que melhor modelo para buscar a paz, que é a vida. No
entanto, comoveu a opinião pública aconselhando nada menos que fazer agressivos
os aviões de observação. A polêmica começou. Quando o jornal Süddeutsche
Zeitung lhe perguntou: “Por que armar os drones?”, ela respondeu: “Porque nos
últimos meses tivemos a experiência que a segurança é somente uma espécie de
fotografia instantânea, porque desde os conflitos na África e as crises no
Oriente Médio até os problemas no Iraque e Ucrânia nos levaram ao convencimento
de que um mundo em plena paz não é nada natural, mas que temos de criá-lo. É muito
difícil calcular como os conflitos vão se desenvolver no futuro no mundo. E para
isso deveremos ter preparada a defesa de nossos soldados e soldadas (?) com
armas úteis”.
Quer
dizer, para combater as armas, mais armas. Como único remédio. Mas o que tem o
ser humano em seu cérebro? Se até uma mulher, mãe de sete filhos, acredita nas
armas como único remédio. O que podemos esperar para o futuro?
Se acaba
de publicar o apoio que as duas igrejas cristãs, a católica e a evangélica, deram
em 1914 aos exércitos de cada país em guerra e a bênção de seus mortos, ao
invés desses sacerdotes percorrerem as frentes de batalha mostrando a cruz
entre ambos os contendores. Todos cristãos.
Mais
armas, já. E pior ainda. O jornalismo alemão destes dias se tem ocupado do grande
negócio da venda de moderníssimas pistolas germanas ao governo da Colômbia.
Apesar da Alemanha ter proibido essa venda a países com conflitos internos,
como a Colômbia. A negociação se fez assim: a empresa alemã Sig Sauer, de
fabricação de armas, exportou aos Estados Unidos 98.000 pistolas ultramodernas
marca SP2200 por 70 milhões de dólares. E os Estados Unidos as entregaram à polícia
colombiana para combater a guerrilha.
Agora ficou
tudo às claras. O fabricante de armas se defende dizendo que ele exportou aos Estados Unidos. Mas a verdade é
que a empresa estadunidense importadora tem relações de dependência com essa
fábrica alemã. Um ardil por demais sujo. Se acredita que durante anos foram
realizados esses negócios para armar exércitos e polícias de governos ou
ditaduras amigas. As investigações comprovaram que as armas são fabricadas em
Eckenförde, dali são exportadas a Exeter, Estados Unidos, e desse lugar
enviadas à América Latina. Os estudos demonstraram que com essas armas já morreram
mais de meio milhão de latino-americanos. Agora se está investigando como milhares
dessas pistolas chegaram à Líbia, na África. Também foram encontradas essas
armas ultramodernas em Kajastán. Incrível.
Um país
que teve duas guerras atrozes num quarto de século continua fabricando armas
para o mundo. Que não é outra coisa senão exportar a morte. Experts em guerra
declararam que com as pistolas exportadas foram mortos mais seres humanos do que
com as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Na última década, a Alemanha
permitiu oficialmente a exportação por um bilhão de euros de pistolas e munição.
Em 2013 foram permitidas exportações de armas por 135 milhões de dólares. 43% mais
que no ano anterior. E aqui cabe outra vez a pergunta: por que diante desta
realidade não reagem as igrejas e os partidos políticos que se dizem
democráticos e os intelectuais e operários de toda Europa?
Os pacifistas
do mundo esperam agora que o governo alemão feche definitivamente essa empresa
armamentista que cometeu o delito de exportar armas à Colômbia através dos
Estados Unidos. E que comece uma campanha para terminar definitivamente com o
comércio de armas.
Quando os
movimentos pacifistas do mundo poderão triunfar e terminar com o grande negócio
da violência? Quando chegaremos a realizar o sonho do filósofo Kant da paz
eterna?
Tradução: Jadson Oliveira
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