(Foto: Nodal) |
Por Aram Aharonian, jornalista uruguaio, viveu na Argentina e agora vive na Venezuela - do portal Nodal – Notícias da América Latina e Caribe, de 02/06/2014 (a primeira parte foi publicada no domingo, dia 8)
Adeus ao diálogo?
Na Venezuela, o diálogo se dá em meio duma guerra basicamente política (com assomos de componentes armados, como no caso das guarimbas [barricadas na rua] com participação de franco-atiradores e elementos com armas de fogo, e com outros tipos de armamento, como coquetéis molotov e morteiros de fabricação caseira). Uma guerra, e isto há que dizê-lo, que não tem ainda um vencedor claro. A Revolução ganhou quase todas as batalhas até agora, mas não pôde aniquilar o inimigo, por diversas razões.O certo é que as forças e a base da direita continuam sendo importantes, e com capacidade para seguir arremetendo.
Há distintas aproximações ao tema da paralisação da mesa de diálogo por parte da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD – aliança de partidos opositores), entre elas o da chantagem da ultra-direita, a ala terrorista e violenta, que tem força dentro da oposição, apoios externos – não só financeiros - consideráveis, sobretudo de setores dos Estados Unidos, Colômbia e Espanha.
Hoje, os analistas levam a sério a advertência de Maduro sobre o plano direitista de colapso e golpe em junho, apesar de considerar impossível a massificação da violência. A operação de colapso pode ser levada a cabo com a infiltração de paramilitares nos estados fronteiriços com a Colômbia, com cabeças de ponte fortes em Táchira e Zulia.
No entanto, para o golpe, necessitam de forte participação de militares. Há base de apoio na Força Armada que lhes permita derrocar o governo sem resistência interna?
Um golpe de Estado tradicional não contaria com apoio internacional, mas poderia gerar uma situação de violência e instabilidade (o povo chavista e os militares leais iriam ao combate em defesa da institucionalidade) que conduzisse a uma extensão do plano de conspiração, com a inclusão de forças mercenárias que pudessem finalmente produzir um “cenário líbio” e a posterior intervenção estrangeira em qualquer modalidade.
Estaria a mesa servida para o que Chávez chamou a “guerra dos cem anos”, a guerra revolucionária prolongada, que iria mais além das fronteiras da Venezuela. É de se supor que a direita não está medindo as consequências a longo prazo.
Na Venezuela, atualmente, o capitalismo está vigente e o socialismo é um projeto. A Venezuela é um país capitalista com um governo popular e antiimperialista que lidera um projeto de transição ao socialismo, projeto que ainda está distante de se fazer realidade plena.
Popularidade
A população responsabiliza Maduro pela crise, ao redor de 23 pontos, mais do que ocorria com Chávez no final de seu governo. A escassez é agora o principal problema do país na boca da população e as tentativas de atribuí-la à guerra econômica têm se diluído no tempo, pelo que seu coeficiente de impacto sobre a popularidade de Maduro é agora muito elevado.A variável insegurança, que nunca afetou a popularidade de Chávez no passado, começa a se fazer sentir na popularidade de Maduro. Mas o certo é que a derivação do protesto rumo a ações focalizadas mais radicais, como as barricadas e as guarimbas, recebe níveis de repúdio superiores a 70% e o coeficiente destas ações sobre a popularidade de Maduro é de caráter positivo.
Estatisticamente, os protestos radicais, longe de prejudicar a popularidade de Maduro, o ajudam a recuperar parte do estrago ocasionado por seus erros econômicos, os quais, tomados isoladamente, provocaram uma maior perda de popularidade, mas que são parcialmente compensados pela atenção maior que ocasiona o protesto radical que, em algumas oportunidades, termina em atos vandálicos, provavelmente manipulados e infiltrados, mas que igualmente não agradam as grandes maiorias.
Sem dúvida alguma, a única coisa que sustenta a oposição, em seus diferentes matizes, é sua aposta unívoca ao caos. Parece que o venezuelano está condenado a dormir com o inimigo…
Tradução: Jadson Oliveira
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