“O
futebol é o carro-chefe das emissoras de televisão, tanto que, na Argentina, o
que fez, a presidente da Argentina [Cristina Kirchner]? Deu para a televisão
pública. Tirou esse privilégio”.
“...a
imprensa internacional se valeu muito por conta dos protestos, que, na verdade,
eram legítimos pelo que eles reivindicavam, mas estavam batendo na coisa
errada. Não é a Copa que está tirando dinheiro dos hospitais. O sistema que é
ruim, e tira dinheiro dos hospitais e tira dinheiro da escola”.
Por Bob Fernandes, direto de São Paulo –
reproduzido do Terra Magazine, de
11/06/2014
Terra Magazine
ouviu Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-presidente do Palmeiras e à época testemunha de
episódios decisivos em relação à Copa que se inicia nessa quinta-feira, 12.
Aqueles eram dias em que a Fifa e o governo do Brasil debatiam a escolha da
sede da abertura do Mundial. Belluzzo foi também integrante da comissão do
Clube dos 13 que negociaria os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro
pelos anos seguintes, até 2015.
Negociação essa uma batalha, que tinha – e teria – o
vencedor de desde sempre, a TV Globo. E que, dizia-se, teria também como
interessados a Rede Record e a Rede TV!, e uma oferta, não da Globo, de algo
como R$ 5 bilhões pelos direitos de transmissão.
Como se sabe, o presidente do Corinthians, Andrés
Sanchez, chefe da delegação do Brasil na Copa da África do Sul, implodiu o
Clube dos 13 e assim facilitou a negociação para a Globo. Como se sabe, a Copa
do Mundo terá como palco de abertura o estádio do Corinthians, o chamado
Itaquerão.
A propósito de tanto, de todo esse enredo que chega ao
Itaquerão, Belluzzo recorre ao filósofo alemão Friedrich Hegel:
-A verdade é o todo…
Ainda a propósito de tanto, a presidência do Palmeiras e
algumas coronárias operadas depois, Luis Gonzaga Belluzzo resume:
-O futebol brasileiro, também o brasileiro, é assim, não
vamos nos iludir, é jogo sujo, é uma sujeira. A minha passagem pelo futebol me
ensinou que a política do futebol é uma das coisas menos desejáveis, e, mais,
eu acho que a política do futebol deveria sofrer uma alteração muito profunda,
com uma mudança de homens… (o futebol) só com escafandro e, na verdade, algum
traje espacial para te defender da contaminação, da sujeira.
Terra Magazine: Quando da escolha, ou véspera
da escolha de São Paulo como sede da Copa você era presidente do Palmeiras,
está certo?
Luiz Gonzaga Belluzzo:
Sim, está certo.
E também estava na comissão de negociação do
Clube dos Treze para a venda dos direitos do Campeonato Brasileiro…
A venda dos direitos de transmissão, que nós queríamos
transformar em uma licitação.
E o que aconteceu? É essa história que nós
vamos contar.
Bom, a gente tem que começar a história com a eleição do
Clube dos Treze. Eram dois candidatos: o então presidente e hoje presidente do
Grêmio Fábio Koff e o candidato Kléber Leite, que foi presidente do Flamengo,
empresário de futebol e que tinha interesse em vários eventos esportivos como
empresário.
Eles eram candidatos de que forças?
Ele era candidato do Ricardo Teixeira e do Marco Polo Del
Nero, eles fizeram várias reuniões na Federação Paulista. A eleição foi uma
eleição difícil, porque não era tão simples assim cooptar muitos presidentes…
Havia ligação entre a eleição e a venda dos
direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro…
Isso, na verdade essas relações entre a CBF e os direitos
de transmissão sempre foram muito claras, históricas. E tem gente que
sobreviveu e até assumiu posições econômicas superiores a sua trajetória pessoal,
gente que era uma espécie de intermediário nessa negociação, gente que ainda
elege presidente de clube e ainda palpita por aí…
Negociação essa que sempre se deu com a
Globo.
Com a Globo, exatamente. A Globo que, na verdade, dava, e
ainda dá, muito importância ao futebol em sua programação. E nós, na verdade,
conseguimos, foi o Ataíde que fez isso, Ataíde Guerreiro, que hoje é
vice-presidente de futebol do São Paulo, ele conseguiu eliminar o direito de
preferência que a Globo tinha…
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