CUBA: PESQUISADOR ANALISA POSSÍVEIS CENÁRIOS DA MUDANÇA



Luis Suárez Salazar (Foto: Carta Maior)

A palavra da moda em Cuba é atualização. É assim que o governo chama o processo que deve chegar a uma economia onde o Estado não passe de 60%.

Por Martín Granovsky, do jornal argentino Página/12 – reproduzida do portal Carta Maior, de 03/06/2014
Chicago - Ele vive, pesquisa e leciona em Havana, onde integra o Comitê Acadêmico do Mestrado em Relações Internacionais, responsável pelo Instituto Superior de Relações Internacionais Raúl Roa García, que faz parte do Ministério de Relações Exteriores de Cuba. E, ao mesmo tempo, o cientista político Luis Suárez Salazar desfruta não apenas de intercâmbios na América Latina (foi membro diretivo do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais e é um participante ativo de seus encontros), mas também dos Estados Unidos.

Em Nova York, Suárez Salazar participou de um seminário sobre Cuba organizado pela Clacso e pelo observatório latino-americano da New School. Depois, voou a Chicago para o congresso da Associação de Estudos Latino-amerianos. Ali, no espaço da Clacso, conversou com o Página/12 sobre o que Cuba chama desde 2011 de “atualização”, que é a mudança econômica – mas não apenas isso.

Nos últimos anos, os cubanos com quem se pode falar – funcionários ou pesquisadores, ou cidadãos que andam por Havana – parecem conjeturar, próximos aos cenários de tentativa e erro, e estão esperançosos de que as transformações sociais deem certo. Dizem bastante “acredito que” e “tomara”.

Realmente, hoje, em diferentes setores da sociedade cubana, é possível encontrar muitas margens de incerteza relacionadas ao impacto da atualização. Na vida cotidiana, na família... Em tudo.

Por que justo agora?

Porque é o momento em que a atualização está enfrentando um de seus temas mais complexos, que é a eliminação da dualidade monetária. Não é um ato simplesmente administrativo. Não é uma decisão abstrata sobre se a economia continua com o peso cubano conversível ou com o não conversível. Tem a ver com um fato real, e se a estrutura econômica do país não puder sustentar essa decisão, ao final se poderão reproduzir fenômenos que já ocorreram em outros países. Pode ser que mude a moeda, mas a inflação a devora e você vai cortando os zeros. Por isso, é melhor não simplificar a realidade.

Não é um jogo de letras entre o peso cubano, o CUP, e o peso cubano conversível, o CUC.

Não. No fim do caminho de eliminação da dualidade, nos campos econômico e social, o problema maior é saber qual será o poder aquisitivo real da moeda, seja ela qual for. Quantos bens e serviços poderei adquirir para satisfazer as necessidades básicas e essenciais. Isso gera incerteza em muitas pessoas. Já existe uma espécie de costume à dualidade monetária. As pessoas e as famílias vivem estabelecendo estratégias diante dessa realidade. Sem considerar o mercado negro, que é outro assunto – um cubano domina o panorama de quatro mercados, incluindo o dos autônomos.

Seja ela má ou boa, essa é a realidade do costume cotidiano.

E a partir daí pode haver um elemento de contradição porque todo processo complexo gera contradições. O essencial, é claro, é que a economia tenha capacidade de sustentação. Que setores-chave, como o alimentício, não dependam tanto das importações, porque importariam inflação. E que, simultaneamente, se realize com êxito o reordenamento empresarial para a chamada empresa estatal socialista. Se não há uma medida única para avaliar a eficácia, tudo se distorce. O setor estatal continua sendo um componente enorme da economia e funciona com mais de uma moeda.

Mas o plano de atualização econômica quer reduzir o peso do setor estatal na economia.

Sim, a aposta é de que o setor estatal mantenha um peso de apenas 60 ou 70 por cento. Cuba era uma das economias mais estatizadas dos processos socialistas. Estavam fora os pequenos agricultores e as cooperativas agrícolas. O Estado mantém o controle do comércio exterior.
Para continuar a entrevista na Carta Maior:

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