CONSELHOS DE JUNHO: SOBRE A PARTICIPAÇÃO POPULAR



(Foto: Carta Maior)

A um tipo de democracia na qual os Direitos pertencem àqueles que se classificam previamente para participar da vida política com base na raça e no poder econômico, Carlos Marighella denominava Democracia Racionada.

O PT não pode unir monoliticamente o executivo para forçar o Congresso a mudar. O caminho da Venezuela, Bolívia, Equador ou Argentina não está na sua gênese. A única maneira de superarmos a Democracia Racionada é pela pressão das ruas.

Os manifestantes das ruas têm motivos para duvidar do governo e contestá-lo em muitas coisas, mas é preciso saber quando ele emite sinais de avanço real.

Por Lincoln Secco, no portal Carta Maior, de 15/06/2014

Goste-se ou não do que aconteceu em junho de 2013, é preciso aceitar que aquele mês abriu um novo ciclo político no país. De fato, ele não “produziu” algo novo, mas como todo acontecimento histórico, ele marcou uma passagem.

É preciso também admitir que não sabemos ainda o sentido de junho. Exibiram-se ali imagens contraditórias. Mas há algo nítido naquelas multidões desencontradas que pararam rodovias, ocuparam câmaras municipais, cercaram sedes de governos e atearam fogo no que puderam: aquilo não cabia nas instituições que os anos de 1980 nos legaram.

Nem os partidos de  esquerda (porque a Direita se organiza pela Grande Imprensa), os sindicatos ou os órgãos representativos do Estado eram suficientes para aplacar novas fúrias e antigos ressentimentos.

A figura mais popular da política brasileira, Lula, declarou publicamente que o seu partido podia não gostar daquilo, mas era o povo que estava nas ruas.

Todavia, nos dias de tormenta ele não se arriscou a liderar nada.

Foi a presidenta Dilma Roussef quem apresentou uma proposta: o plebiscito para a reforma política. Mas ela não se dirigiu ao “povo” e sim aos seus pares, os quais querem qualquer coisa exceto uma  reforma política.

Agora, ela volta à carga e assina um decreto que regulamenta a participação popular junto aos órgãos de governo. Seria perda de tempo argumentar com as diferenças filosóficas entre socialistas e liberais ou chamar os cientistas políticos para debater a democracia representativa e a participativa. Nossos políticos não são assim tão interessados em ideias.

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