Santos ganhou o segundo turno do domingo graças ao apoio da esquerda (Foto: AFP/Página/12) |
O presidente reeleito aspira a um
governo de unidade: para Iván Cepeda, congressista do opositor Polo Democrático
Alternativo, que curiosamente apoiou a candidatura do presidente, “o maior
perigo é encarnado pela extrema direita, que quer acabar com o processo de
paz”.
Por Katalina Vásquez Guzmán – de Bogotá, no
jornal argentino Página/12, edição
de hoje, dia 17
Com a vitória
assegurada – quatro anos mais no poder –, Santos não hesita ao responder à imprensa.
Na tarde de ontem, inusitadamente muito quente na capital colombiana, o reeleito
presidente explica aos repórteres que seu governo será da unidade; a unidade
nacional. Tecnicamente, no entanto, quase a metade do país está contra seu
governo: 6.881.000 colombianos votaram no seu concorrente, Oscar Iván Zuluaga,
o candidato da direita, o candidato de Uribe, o candidato que defendia acabar
com a saída negociada do conflito e incrementar a confrontação armada contra-insurgente.
Após
vencer com a campanha da paz, o desafio agora é governar a guerra, além de não
decepcionar com os diálogos da paz e de enfrentar a oposição de direita que
desde a mesma noite da eleição desqualificou o triunfo de Santos com palavras
incendiárias. Para o Centro Democrático, encabeçado pelo ex-presidente Álvaro
Uribe, e cujo candidato conseguiu quase a metade dos votos, Santos ganhou pelo
abuso de poder, porque comprou votos, porque ameaçou, e porque os grupos ilegais
pressionaram o povo a favor do presidente. Para a equipe do mandatário e os
analistas, o resultado nas urnas mostrou, mais do que o respaldo a Santos, o
fastio pela guerra. “Não ganhou Santos, ganhou o desejo de paz”, como diz em
manchete o blogueiro Juan Caicedo.
Para Iván
Cepeda, congressista do opositor partido Polo Democrático Alternativo, que
curiosamente apoiou a candidatura do presidente, “o maior perigo agora não vem
da dinâmica própria duma negociação de paz, menos dum conflito tão longo como o
nosso; o perigo está encarnado nessa extrema direita que quer acabar com o
processo de paz e que não esconde tal intento”. Segundo o comunicado lido por
Uribe, “em nome da paz, o governo de Santos levou a cabo a maior corrupção da
história”. Polarizada e dividida a sociedade colombiana, a oposição forte está
agora na direita. Enquanto a esquerda parece mais tímida após apostar no voto
santista, ou como dizem, no voto pela paz. “Apesar de termos apoiado a opção cidadã
de votar pela paz, não renunciamos nem
vamos renunciar à nossa condição de oposição política”, assegurou Cepeda, do
Polo Democrático Alternativo, em entrevista ao Página/12. O atual parlamentar,
que fará parte também do próximo Congresso – dividido principalmente entre as forças
uribistas e os partidos que apoiam Santos –, explicou que eles apoiarão toda iniciativa
a favor do fim da confrontação armada, mas continuarão atentos à gestão de
Santos.
“Se
mantiver sua orientação neoliberal neste segundo mandato, vamos fazer ouvir outra
vez nossa voz no Parlamento e nas ruas. Em tudo que tenha a ver com a manutenção
da posse da terra em poucas mãos, com as concessões à exploração energética e
às empresas de mineração, tratados de livre comércio, continuar acabando com um
direito como a educação... Em tudo isso, Santos vai encontrar em nós uma
cerrada oposição”, disse Cepeda a este jornal.
Continua em espanhol:
El líder del Polo, el senador Jorge Robledo, que se negó a apoyar la
reelección, llamó duramente a sus copartidarios en su cuenta de Twitter,
afirmando que “los polistas debemos desnudar que Santos usa la paz como
taparrabos para ocultar sus políticas retardatarias. Que no nos traten como a
bobos”. Cepeda, quien representa gran parte del movimiento de víctimas de todo
Colombia, no ve con tan malos ojos las negociaciones con las FARC. “Aunque
durante su paso por el Ministerio de Defensa se cometieron violaciones a los
derechos humanos (falsos positivos), a Santos hay que reconocerle que lleva,
por primera vez, un proceso de paz con éxito, donde vemos resultados concretos
con las FARC después de medio siglo de violencia. Asimismo, ha mantenido
relaciones respetuosas con Venezuela, Ecuador y Nicaragua, y con las fuerzas
sociales y de izquierda del país”, declaró Iván Cepeda, hijo de Manuel Cepeda,
del Partido Comunista y la Unión Patriótica, asesinado por paramilitares con
convivencia del Estado.
“Aquí tenemos todavía un largo camino por recorrer que no es fácil. Toca
abordar temas como la justicia, las víctimas, la eliminación de grupos
paramilitares, la búsqueda de un modelo que garantice la dejación de armas, y
en general, las garantías para que la respuesta a los problemas estructurales
que tiene Colombia no sea la violencia”, es el análisis del parlamentario
Cepeda, en medio de una pausa de la sesión del Congreso, cuando algunos
aprovechan para rumorear sobre las fuertes declaraciones de Uribe y lo que
estará esperando la izquierda a cambio de su apoyo a Santos. “No dimos un apoyo
con aspiraciones burocráticas; no esperamos dádivas. El asunto es hacer posible
que la paz se negocie”, aseguró el representante.
Santos, que ganó el ballotage (o segundo turno) paradójicamente gracias
a que esta oposición de izquierda se puso de su lado, sigue invocando la
palabra paz. “Será una paz estable y duradera con justicia social”, detalla en
la rueda de prensa, donde además reconoce que el Congreso en gran parte está en
manos del uribismo, esta oposición de derecha radical que, si se suma a la
tradicional, logra más de la mitad del país versus el reelecto mandatario.
“Para nosotros –agrega Cepeda –, lo tercero fundamental en este nuevo período
será confrontar la ultraderecha en el Congreso y en las calles.” Según el
defensor de derechos humanos y líder de víctimas, a este país además le urge
que se tomen cartas con Alvaro Uribe: “Hay que exigir para Uribe – explica –
unos juicios penales por su responsabilidad en la guerra, en crímenes de lesa
humanidad y en relaciones con el paramilitarismo y el narcotráfico. Hay que
hacerlo ya, ya, ya”.
Tradução
(parcial): Jadson Oliveira
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