ALÍ RODRÍGUEZ: “AVANCEMOS NAS AÇÕES CONCRETAS” (Parte 2)



Alí Rodríguez (Foto: Página/12)
Entrevista com o venezuelano Alí Rodríguez, secretário geral da Unasul.

Foi multiministro de Hugo Chávez e hoje ocupa na Unasul o mesmo posto inaugurado por Néstor Kirchner. Alí Rodríguez Araque explicou numa entrevista ao Página/12 que só com mais integração a América do Sul poderá competir com as corporações gigantescas que se sustentam mediante o processo de concentração econômica. O papel dos trabalhadores. Um plano para controlar os recursos naturais.

Disse que o poder real da América do Sul pode estar nos recursos naturais, e por isso pediu contar com “uma visão” para controlá-los.

Por Martín Granovsky, no jornal argentino Página/12, edição de 15/06/2014 (a parte 1 foi postada no domingo, dia 22)

Poder real (continuação)

Durante sua conferência na UMET, Alí falou no princípio e no final sobre o papel dos sindicatos na integração. Estavam, entre outros, Víctor Santa María, do Sindicato dos Encarregados de Edifícios de Propriedade Horizontal, e o dirigente dos docentes particulares Horacio Ghilini, fundador do anti-menemista (do ex-presidente do auge do neoliberalismo Carlos Menem) Movimento dos Trabalhadores Argentinos e atual secretário de Políticas Econômicas e Sociais da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) que é liderada por Antonio Caló (a poderosa CGT argentina atualmente está dividida).

“Estou vivamente impressionado”, disse no começo. “Que os trabalhadores tenham criado uma universidade é em si mesmo uma revolução.” E sobre o final de sua fala disse: “Pensemos em encontros de trabalhadores nos quais também, além de discutir as condições de trabalho e os salários, possam abordar grandes temas de estratégia que têm a ver com o destino do nosso povo”.

Rodríguez citou como exemplo a unidade sobre os critérios energéticos alcançada dentro da heterogênea Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), da qual foi secretário geral. E acrescentou: “Quando a gente vê os grandes movimentos da geopolítica mundial, nossos países parecem condenados a ser meros espectadores. Que poder real de atuação temos para influir se estamos fragmentados ou separados? E o digo mesmo para países tão grandes como o Brasil. Agora, se nos reunimos podemos desenvolver uma estratégia de extração racional de minerais, de água, de florestas, de terras para produzir alimentos, de desenvolvimento industrial”.

Disse Alí que “no intercâmbio entre nossos países os produtos superam as matérias primas, mas no intercâmbio extra-regional as matérias primas superam os produtos manufaturados”. “Os excedentes de capital os exportamos”, lamentou. “Então, as matérias primas que mandamos regressam como produtos manufaturados, e os capitais regressam em créditos bem caros. Se requer muita ciência? São lógicas de “kindergarten”. Nossos trabalhadores ou estudantes, além das lutas salariais e das reivindicações estudantis, estão propondo estes temas? Os povos, como os homens, são tão grandes como os desafios que se propõem. Os trabalhadores devem propor, opinar, indagar, perguntar, e não apenas numa universidade mas também nos bairros e nas fábricas.”

Alí, que durante sua breve estadia em Buenos Aires – “me encanta esta cidade”, disse – esteve acompanhado pelo sociólogo brasileiro Theotônio dos Santos e se reuniu com um grupo de jovens pequenos e médios empresários, incursionou também no tema dos meios de comunicação. “A integração deve ser um problema de todo o povo”, disse. “Por isso necessitamos de formas de comunicação para transmitir as mensagens de maneira que o grau de análise que alcancemos não fique confinado em pequenos círculos políticos ou acadêmicos. Necessitamos que as ideias se transformem em poder. Em políticas. Dificilmente cheguemos a ter grandes cadeias de jornais, de televisão, de rádio. O professor de Simón Bolívar, Simón Rodríguez, dizia que ou inventamos ou erramos. Inventemos.”

Segundo o secretário geral da Unasul “é importante debater estes temas em encontros de trabalhadores sul-americanos, e não apenas discutir a exploração do capitalismo”, porque “uma das formas de mudar o regime capitalista de exploração é justamente que os países logrem crescer integralmente”.

Propôs uma estratégia com quatro elementos. Um, um plano para a extração, “e não só dos minerais mas também da riqueza florestal, agrícola e de hidrogeração elétrica”. Outro, uma estratégia de industrialização de produtos primários. Terceiro, uma estratégia para criar empregos estáveis e dignos. E quarto elemento, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

Disse que o poder real da América do Sul pode estar nos recursos naturais, e por isso pediu contar com “uma visão” para controlá-los.

Pôs o exemplo do lítio. “Bolívia, Argentina e Chile representam juntos 90% das reservas de lítio do mundo”, disse. “O lítio é essencial para as grandes baterias recarregáveis. No Chile há pouco tempo mostraram um ônibus que se move a lítio. Na Bolívia já conseguiram fabricar uma bateria boliviana. Se esses três países se pusessem de acordo numa política sobre o lítio, e se mais países se pusessem de acordo em desenvolver cadeias produtivas a partir do lítio, não seria bom para a Bolívia, para vocês (argentinos) e para o Chile e também para os outros países? Por acaso são sonhos inalcançáveis? Eu não acredito.” (Continua)

Tradução: Jadson Oliveira

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