VENEZUELA: DIÁLOGO E VIOLÊNCIA EM SEUS RESPECTIVOS LABIRINTOS (Parte 4)




Aharonian, jornalista uruguaio, viveu na Argentina e agora vive na Venezuela (Foto: Internet)
Aram Aharonian, citando Nícmer Evans: “Ainda que sem um governo de conciliação, a perda das conquistas sociais logradas no governo de Chávez, baseadas numa mais justa distribuição da renda petroleira, seria outro detonante, neste caso, dum conflito social”.

Por Aram Aharonian, de 02/05/2014 (o artigo vai aqui por partes, traduzido do portal Nodal – Notícias da América Latina e Caribe)

Entre o otimismo e o ceticismo

A aceitação do diálogo por parte do governo é considerado por alguns setores bolivarianos como um sintoma de debilidade e como a antecipação dum “pacto” de governabilidade e alteração do poder com o setor menos retrógrado da oposição.

O ex-vice-presidente José Vicente Rangel não é otimista. “Resulta muito custoso mais adiante sentar-se em torno duma mesa quando está à sua frente alguém que tem um punhal escondido ou está pronto para desprezar a mesa a qualquer momento. Repito, o dialogo não pode começar e seguir com semelhante ambiente de incerteza e de dúvidas”, assinalou. “São estas considerações que me fazem mostrar neste momento cético em torno do resultado da iniciativa”, agregou.

Assegurou que o diálogo acelera as divisões portas adentro da coalizão opositora, onde uma dezena de integrantes mostram seu desacordo com qualquer intento de diálogo, e “estão dispostos a se afastarem” da MUD (Mesa da Unidade Democrática – coalizão opositora) para “continuar com o intento de golpe de Estado”.

Por sua parte, o colunista Toby Valderrama assinala que “se a oligarquia assassinou Chávez, como o insinuam do presidente até os ministros para baixo, a pergunta é: o que vem mais a seguir, para que o assassinaram? A sinalização clara, indica, vem do diálogo entre a MUD e o governo, e todas as análises apontam no rumo da restauração conservadora, ao regresso do capitalismo, a um novo assassinato do Comandante, que é o assassinato do Socialismo. É assombrosa a rapidez com que se produz a entrega”, sustenta.

Dentro da oposição, a aceitação do diálogo é reconhecida pelos que ainda que não tenham questionado as ações violentas nas ruas, tampouco as convocaram. O setor extremista ausente do diálogo (os partidos Vontade Popular, Projeto Venezuela e Aliança Bravo Povo) o rechaça e chantageia os outros grupos para que só se fale duma rendição do governo, acusando-os de “entreguistas que se dobraram ao regime castro-comunista”.

Agora que os dirigentes opositores puderam fazer a catarse por cadeia de rádio e televisão, começaram novas reuniões, algumas privadas, onde se analisam proposições concretas para possibilitar o que a cidadania espera, que comecem a perceber alguns resultados. E se posteriormente, como é de se esperar, se começa a observar o ressurgimento da economia, o aumento da produção, e se rompem os níveis de desabastecimento de hoje, então tudo terá valido a pena, avalia Eleazar Díaz Rangel, diretor do jornal Últimas Notícias (diário privado de maior circulação do país).

Registraram-se alguns passos rumo adiante. Foi realizado um segundo diálogo, com a presença de chanceleres da Unasul e o representante do Vaticano, e a Assembleia Nacional aprovou a designação de sete deputados titulares e quatro suplentes da bancada da MUD para os comitês encarregados da renovação de 10 magistrados do Tribunal Supremo de Justiça e três reitores do Conselho Nacional Eleitoral.

Enquanto isso, o cientista político Nícmer Evans assinala que qualquer sinal dum governo de conciliação ativaria o setor radical do chavismo, colocando a Venezuela num abismo que geraria satisfação somente a aqueles setores que respondem a interesses transnacionais. “Porém, ainda que sem um governo de conciliação, a perda das conquistas sociais logradas no governo de Chávez, baseadas numa mais justa distribuição da renda petroleira, seria outro detonante, neste caso, dum conflito social”.

Mas, no momento certo, chegou a Semana Santa e as diatribes se postergaram até depois da festividade… (Continua amanhã - as partes 1, 2 e 3 foram postadas nos dias 5, 6 e 7/maio)

Tradução: Jadson Oliveira 

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