VENEZUELA: DIÁLOGO E VIOLÊNCIA EM SEUS RESPECTIVOS LABIRINTOS (Parte 2)




Aram Aharonian, jornalista uruguaio, viveu na Argentina e agora vive na Venezuela (Foto: Nodal)
María Corina Machado, Lepoldo López e Antonio Ledezma não participam do diálogo e seguramente estarão em desacordo com qualquer conclusão a que se chegue, pois ali dificilmente se aprovará a renúncia de Nicolás Maduro.

Por Aram Aharonian, de 02/05/2014 (o artigo vai aqui por partes, traduzido do portal Nodal – Notícias da América Latina e Caribe)

A violência chegou para ficar?

Depois de dois meses e meio,  a estratégia de distúrbios de ruas não conseguiu provocar a procurada fratura na Força Armada que, por sua vez, houvesse podido significar o derrocamento do governo de Nicolás Maduro.

O certo é que as ações das últimas semanas apontaram em outra direção, a de evitar a normalização da vida política, impedir a estabilização do modelo que está vigente desde o processo Constituinte de 1999, mas que pareceria requerer, para afiançar-se a longo prazo, duma dinâmica funcional entre governo e oposição.

Este processo foi inaugurado a partir do encontro de dezembro do presidente com governadores e prefeitos de oposição, mas o governo não soube aproveitar o momento, se mostrou lento na tomada de decisões, quiçá compelido por demasiadas pressões internas e eternas e maus assessoramentos.

Se postergou o novo sistema cambiário (que ainda não se sabe bem para onde avança ou retrocede), os temas institucionais como o das comissões da Assembleia Nacional e a renovação dos poderes públicos, o que foi aproveitado pelos fatores adversos ao modelo econômico, social e político, numa grande ofensiva de restauração conservadora, na qual a cartelização dos meios de comunicação locais e sobretudo internacionais jogou papel protagonista.

Hoje, quando começamos maio, parece factível um entendimento sobre os poderes públicos, dado o aumento de postulantes opositores ao Conselho Nacional Eleitoral e ao Tribunal Supremo de Justiça, enquanto se buscam modalidades de acordo sobre a Controladoria e a Procuradoria Geral, sobre candidatos com um perfil pouco beligerante.

A oposição começou a jogar, simultaneamente, em diferentes cenários, recorrendo a ações cegas cuja meta não era a de gerar simpatias populares e sim a de desestabilizar o governo, socavando a base elementar da governabilidade: ordem pública, paz, livre circulação.

Para o opositor Leopoldo Puchi, a estratégia da violência aponta rumo ao governo, «mas também rumo aos setores da oposição que timidamente vinham  internalizando a ideia de se considerar parte do sistema, com posições críticas frente aos déficits institucionais e as perversões da burocracia, porém sem propiciar uma ruptura com os fundamentos do modelo.(…) Se realmente o governo quer avançar no diálogo tem que aliviar as tensões e conceder petições à oposição”.

Nos últimos dois meses, o governo se comprometeu a fazer públicas várias informações, como o caso dos 20 bilhões de dólares desaparecidos, denunciados pela ex-presidenta do Banco Central, Eglée Betancour, ou quem são os que queriam assassinar o ainda preso Leopoldo López. Tampouco se sabe o que aconteceu com os terroristas que vinham do Oriente Médio, nem com os oito cidadãos de Trinidad e Tobago detidos, supostamente vinculados à Al-Qaeda, nem com o capturado “cérebro” das “guarimbas” (barricadas). O tempo passa, e a falta de informação incide na perda de credibilidade.

A oposição joga em todos os cenários. Em um, María Corina Machado, Lepoldo López e Antonio Ledezma exigem que Maduro renuncie já à presidência, numa postura maximalista. Não participam do diálogo e seguramente estarão em desacordo com qualquer conclusão a que se chegue, pois ali dificilmente se aprovará a renúncia de Maduro. (Continua amanhã – a parte 1 foi postada ontem, dia 5)

Tradução: Jadson Oliveira

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