PROTESTOS E COPA: FORTALECER A DIREITA? AS RUAS E GREVES PEDEM SUA “FATIA DO BOLO”



Na quinta-feira (dia 22), em SP, o MTST realizou o ato "Copa sem Povo, tô na Rua de Novo", que reuniu, segundo os organizadores, cerca de 20 mil pessoas – 4 mil, segundo a polícia militar (Foto: Mídia Ninja/Carta Maior)

Para Natália Szermeta, do MTST, as manifestações querem "uma fatia do bolo que não está chegando para a periferia e para os trabalhadores"

Por André Cristi e Natália Natarelli, no portal Carta Maior, de 23/05/2014

Representantes de categorias em greve e movimentos sociais negam que manifestações e paralisações estejam acontecendo somente por causa da Copa do Mundo e que tenham como objetivo desgastar o governo da presidenta Dilma Rousseff. Entretanto, assumem que o megaevento realça as contradições de um país que financia estádios e obras bilionários, incentiva a especulação imobiliária e continua com sérios problemas de infraestrutura e serviços públicos.

"Estamos sendo atacados e chamados de oportunistas, de usar a Copa para fazer luta. Quero reforçar que o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) faz luta e coloca essas pautas há muito tempo. Nós não achamos que seja oportunismo e menos ainda nossa intenção é derrubar ou diminuir a popularidade do governo Dilma. E muito menos alavancar qualquer candidatura de direita. Nós estamos tentando conseguir uma fatia do bolo que está sendo distribuído para todos e não está chegando para a periferia e para os trabalhadores", disse Natália Szermeta, uma das lideranças do MTST.

O maior falseamento que se pode fazer da situação do país é negligenciar a eclosão de greves, paralisações e manifestações, principalmente nos grandes centros urbanos: greve de policiais militares em Pernambuco, professores do estado, do município e rodoviários do Rio de Janeiro, 15 mil operários das obras da Petrobrás em Cubatão, professores da rede estadual de Minas Gerais e da prefeitura de Belo Horizonte, paralisações da Justiça Federal em mais de 5 estados, greve nacional da polícia civil nesta quarta-feira, 21, entre muitas outras mobilizações.

Nesta semana, São Paulo foi palco de novos atos dos professores municipais e do MTST e foi pega de surpresa pela greve dos motoristas e cobradores de ônibus que pararam a cidade terça e quarta-feira (20 e 21) apesar de seu sindicato. Além disso, funcionários, professores e estudantes da Universidade de São Paulo declararam greve geral para a próxima semana e os metroviários sinalizaram que também podem parar na próxima terça-feira.

Algumas categorias, como os professores e funcionários em greve do Rio de Janeiro, decidiram apoiar explicitamente os atos contra a Copa, inclusive se incorporando a eles. Para Tarcísio Motta, ex-diretor do Sindicato Estadual dos Professores de Educação do RJ (Sepe) e professor do Colégio Pedro II (em greve), "os gastos da copa e os desmandos da Fifa evidenciaram o papel dos governos enquanto parceiros dos lucros do grande capital, enquanto os problemas estruturais da população brasileira não são enfrentados. A greve dos Garis, dos operários do Comperj, dos rodoviários estão inseridas nesta conjuntura e abrem a possibilidade real de conquistas históricas para os movimentos sociais”.

Outras categorias decidiram pautar a mobilização independente da relação com o megaevento. Os professores municipais de São Paulo disseram que, de acordo com o calendário, estão na data-base de reivindicação de aumento salarial. “O nosso movimento não é contra a Copa, é pela educação. Tanto que dia 14, na assembleia que realizamos, foi votado que nos incorporássemos à manifestação na Paulista e 95% dos presentes foi contra. Lógico que nós não ignoramos as atitudes do governo que deferiu investimentos de recursos públicos na construção de estádios. Eu comparo, lógico. A prefeitura deu 420 milhões para construção do Itaquerão, para a Odebrecht. Com esse dinheiro daria para construir 210 escolas de Educação Infantil”, disse Cláudio Fonseca, presidente do Sinpeem (Sindicato dos Professores do Ensino Municipal de SP).

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