O ato se converteu numa demonstração de unidade do kirchnerismo (Foto: Dafne Gentinetta/Página 12) |
Cerca de 20 mil militantes
kirchneristas se reuniram no Mercado Central (em Buenos Aires) em mesas de
debate: Jorge Capitanich abriu os trabalhos com as palavras do título acima.
Carlos Zannini, no encerramento, sublinhou “que não se trata de procurar
candidatos, e sim de interpelá-los e empoderar a sociedade para que cada pessoa
reclame seus direitos”.
(Este blog publicará outras matérias sobre
este mesmo evento, traduzidas do Página/12. O objetivo é mostrar um dado
político relevante: ao contrário dos governos “progressistas” do PT/Lula/Dilma,
os governos “progressistas” de Néstor/Cristina Kirchner têm o respaldo, o
empurrão e a cobrança duma militância ativa, inclusive da juventude)
Por Julián Bruschtein, no jornal argentino Página/12, de 28/04/2014
A militância
kirchnerista lotou o mercado central para debater e consolidar seu espaço
político. “A tarefa principal não é procurar candidatos (lembrar que Cristina
não pode concorrer a uma segunda reeleição em 2015), e sim interpelá-los e
empoderar a sociedade para que cada trabalhador, cada pessoa, reclame seus direitos”,
disse o secretário Legal e Técnico, Carlos Zannini, que foi encarregado de encerrar
o ato que havia começado às 12 horas. Ministros, governadores, prefeitos, deputados,
legisladores e dirigentes circularam como iguais no mar de gente (cerca de 20
mil pessoas segundo os organizadores) que se reuniu em Tapiales para um debate
massivo, pacífico e com muita ordem, apesar das várias agrupações que estavam
representadas.
“Não se
equivoquem. Não estamos transitando os últimos 20 meses dum fim de ciclo (oposicionistas
argentinos sempre dizem que o fim do governo de Cristina é o fim dum ciclo),
estamos transitando o início dos 20 meses que nos darão a continuidade dum projeto
político”, assinalou o chefe de Gabinete (equivalente no Brasil a chefe da Casa
Civil), Jorge Capitanich, ao dar o pontapé inicial da jornada de debate no
auditório Néstor Kirchner do Mercado Central, num ato em que esteve acompanhado
pelo dirigente de La Cámpora (uma das principais entidades do movimento
popular, especialmente forte entre a juventude, ligada ao kirchnerismo), Andrés
Larroque, e pelo governador (da província – estado – de Buenos Aires) Daniel
Scioli. Entre os que o rodeavam estava o presidente do Partido Justicialista (peronista)
bonaerense (da província de Buenos Aires), Fernando Espinoza, que também saudou
a convenção da militância k (kirchnerista).
“Este
marco está mostrando uma unidade de concepção e de ação”, observou o prefeito
de La Matanza, agregando que a plenária significava “a chave que nos vai
continuar abrindo as portas rumo ao aprofundamento duma Argentina para todos”. O
deputado Eduardo “Wado” De Pedro, o governador de Entre Ríos, Sergio Urribarri,
e prefeitos da região em torno da capital se achavam no prédio do Mercado para
participar do encontro da militância kirchnerista.
Duas bandeiras
gigantes com as figuras de Néstor Kirchner dum lado e a presidenta do outro ornavam
o edifício principal do Mercado Central e se destacavam no alto sobre as 10
barracas que abrigaram os grupos de discussão. A comissão de Urbanização e Acesso
ao Habitat teve na mesa os dirigentes sociais Luis D’Elía, de MILES, e Milagro
Salas, da Tupac Amaru (duas entidades dos movimentos sociais), ademais do
prefeito de Morón, Lucas Ghi, entre outros. “Nós não existimos para o Governo
da Cidade (é como eles se referem à prefeitura de Buenos Aires, que é governada
por Mauricio Macri, um dos aspirantes da direita à presidência). A Villa 31 (a
“favela” mais famosa da capital argentina) nem sequer aparece num mapa”, apontava
uma mulher madura contando a experiência em seu bairro ao trocar pontos de
vista com os dirigentes. De quando em quando se escutava um estalar de aplausos
logo após alguma intervenção festejada nas barracas.
“Plenária
da Militância. A Militância Debate Constrói Futuro”, foi o lema do encontro que
mobilizou os cerca de 20 mil militantes. A data do encontro evocava os 11 anos completados
desde que Néstor Kirchner ficara às portas da presidência, ao obter o segundo
lugar na votação geral, resultando na renúncia do ex-presidente Carlos Menem de
disputar o segundo turno da eleição presidencial. De alguma maneira, essa data
inaugurava o modelo político-econômico hoje encabeçado pela presidenta Cristina
Fernández de Kirchner.
No prédio
não havia diferenças entre dirigentes e militantes, mas sim “militantes com
responsabilidades distintas”, como se escutava no meio dos comentários. O
ministro da Defesa, Agustín Rossi, caminhava entre as pessoas até que alguém lhe
pedia uma foto entre o mar de camisetas das agrupações que se diferenciavam por
suas cores. As brancas com celeste eram de La Cámpora, as celestes completas de
Novo Encontro, as amarelas do Movimento de Unidade Popular e as negras com o
perfil de Evita em branco da Corrente Peronista Descamisados, todos misturados.
Em qualquer lugar onde se batia o olho havia grupos de militantes de distintos
movimentos debatendo ou tirando um descanso dos debates.
Os temas eram
distribuídos pelas barracas: Recursos estratégicos e recuperação do Estado;
Comunicação e batalha cultural; Justiça, segurança e direitos humanos; Pátria
grande e política internacional; Gestão, desenvolvimento local e federalismo;
Políticas de inclusão social; Educação, ciências e tecnologia; e Pensamento
nacional. Na sombra da barraca de Trabalho e Produção se encontraram dirigentes
de quase todas as centrais sindicais. Ali se misturavam trabalhadores da
Gráfica Patricios com os da Associação dos Trabalhadores do Estado, que escutavam
atentos o ministro do Trabalho, Carlos Tomada, o secretário geral da Central dos
Trabalhadores da Argentina, Hugo Yasky, o empresário e dirigente da União
Industrial Argentina, Juan Lascurain. Ademais dois dirigentes da Foetra
(entidade dos trabalhadores das telecomunicações), Ricardo Ladarola e Carlos
Marín, um da CTA e outro da CGT. Nas proximidades Abel Furlan, líder da
seccional Campana da União Operária Metalúrgica e mão direita de Antonio Caló,
dava sua adesão com sua presença.
“Este é um
lugar de encontro e síntese onde se entrecruzam os companheiros de forma
horizontal. É um ponto de inflexão na construção política”, disse Larroque em
conversa com Página/12 logo após o ato de encerramento, e acrescentou que
“logramos a recuperação da política como ferramenta de transformação. Sob a
condução de Cristina, a direção tem que representar a militância e os
militantes têm que representar os moradores. Essa correia de transmissão é o que
importa para construir de forma coletiva”.
As barracas
foram fechando uma a uma com o canto da marcha peronista para a mudança até o cenário
onde estava armado o ato de encerramento. As grades foram cobertas pelas agrupações:
Kolina, o MUP, a Corrente Peronista Descamisados, La Cámpora, o Movimento
Evita, Novo Encontro, a Frente Grande, JP bonaerense e inúmeras bandeiras com a
inscrição de Unidos e Organizados foram o pano de fundo e davam a ideia da
transversalidade da proposta. Depois dum vídeo onde se sintetizaram os 11 anos
do modelo kirchnerista em frases e imagens de Néstor Kirchner e da Presidenta, o
hino foi entoado com entusiasmo.
Zannini
destacou que “a tarefa principal não é procurar candidatos, e sim interpelá-los
e empoderar a sociedade para que cada trabalhador, cada pessoa reclame seus direitos”,
dirigindo-se aos militantes, pondo em segundo plano a escolha duma candidatura
presidencial, e dando passagem a que se dispersasse a multidão que havia
participado da jornada, cujas conclusões serão elaboradas nos próximos dias.
Tradução: Jadson Oliveira
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