“Se ganha Santos, muito seguramente vamos assinar a paz em breve”, afirma Ávila (Foto: EFE/Página/12) |
O cientista político Ariel Ávila analisa
o enfrentamento entre Zuluaga e Santos: observou, em entrevista a Página/12,
que o uribismo tem muito poder, que o eleitorado não avaliou na hora de votar
que é um delito espionar informação do Estado e que Santos não conseguiu
explicar a importância do diálogo de paz.
Por Katalina Vásquez Guzmán, de Bogotá, no jornal argentino Página/12, edição de ontem, dia 27 (o
título acima é deste blog)
Faltam 20
dias para o segundo turno das eleições presidenciais na Colômbia e cada minuto é
fundamental. Depois de se saber que Oscar Iván Zuluaga terminou como vencedor
nas votações do domingo, com 29% dos votos frente a 25% obtido pelo atual
presidente Juan Manuel Santos, deu-se a partida às articulações para formar as
alianças de partidos, conquistar o eleitorado, e por fim, dar a conhecer as
propostas programáticas que ficaram na sombra em meio às denúncias de supostas ligações
com criminosos em ambas as campanhas.
Ontem o
Ministério Público insistiu junto à Procuradoria para que entregue as provas
que, se supõe, Álvaro Uribe forneceu recentemente após denunciar que a campanha
de Santos recebeu dinheiro do narcotráfico. Do hacker contratado pela equipe de
Zuluaga se sabe que continua nas mãos da Justiça, mas ainda não se atua
judicialmente contra o próprio candidato. “Isso seria escandaloso, um desastre
para esta época eleitoral e a democracia colombiana”, opina o cientista político
Ariel Ávila que, em entrevista ao Página/12, fez uma análise sobre a situação
de olho na votação em segundo turno.
Até ontem,
nem a esquerda, nem os conservadores, nem a alternativa Aliança Verde, que somaram
mais de cinco milhões de votos nas urnas neste final de semana, anunciaram sua
posição diante das duas opções. O prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, que já havia
oficializado seu apoio a Santos, entregou ontem a seus homens de confiança a
campanha do atual chefe de Estado. Jorge Enrique Rojas, Aldo Cadena e José
Miguel Sánchez se afastaram do secretariado de Petro para “reforçar a Unidade
Nacional de Juan Manuel Santos na Frente Ampla pela paz. A aliança foi firmada com
a esperança de influir sobre o eleitorado de Bogotá e da Costa Atlântica, visando
que a presidência da República fique em mãos do santismo”. Para Ávila, dirigente
da Fundação Paz e Reconciliação, a aliança Petro-Santos “se saiu muito mal,
porque foi feita por baixo do pano. Recordemos que Santos vinha duma disputa
muito forte contra Petro (o expulsou temporariamente de seu cargo,
recentemente), e nem tudo é aceito; então isto nos fala de como será a crise”.
Ávila
explicou a este jornal que, embora os resultados fossem previsíveis a nível
geral, no específico foram inesperados. Assegura que “é raro que um presidente
em exercício perca e que tenha ficado em terceiro lugar em Bogotá; também que
Oscar Iván Zuluaga logre uma votação tão impressionante. O interessante é que
Zuluaga é um João ninguém (“un don nadie”). Isto mostra que o uribismo tem muito
poder, tem força entre os mais pobres e entre os mais ricos, como o bom
populismo, e Uribe continua tendo uma força e um poder impressionantes”.
Quanto
aos indícios delituosos em que estão envolvidos os candidatos, em especial o vídeo
revelado pela Revista Semana sobre Zuluaga pedindo informação de como estão
interceptando ilegalmente comunicações sobre as negociações de paz em Havana, o
investigador social (Ávila) opina que “a sociedade colombiana não condenou os
escândalos. A campanha de Oscar Iván teve acesso à informação do Estado, a
difundiu e a usou em seu benefício. É um delito e a sociedade deu as costas a
isto. Isto significa que a sociedade não analisou isto na hora de votar, e ademais
que há militares que passam informação ao uribismo, quatro anos depois que
Uribe deixou o poder. Ou seja, que o próprio presidente (Santos) tem tido
instituições que não consegue controlar totalmente”.
Para
alguns, como a colunista Claudia Julieta Duque, “em 15 de junho a Colômbia elegerá
presidente entre a quarta e a quinta geração do crime organizado”. Passando por
Uribe, Zuluaga e o próprio Santos, se acumulam acusações por delitos que vão
desde a formação de grupos paramilitares até execuções extrajudiciais, escutas
ilegais, entrega indevida de subsídios agrícolas para camponeses a grandes fazendeiros,
e relações com o narcotráfico. O debate, no entanto, está centrado no processo
de paz entre o comando das FARC e uma delegação do governo colombiano em Cuba.
“Suspender
as conversações em Havana significa que vai acabar o processo de paz. Isso tem
que ficar claro ante os colombianos”, assinalou o presidente do Congresso, Juan
Fernando Cristo, após se saber o anúncio do candidato Zuluaga de que, se chegar
a ser presidente, em 7 de agosto próximo suspenderia os diálogos para forçar a
guerrilha a um cessar-fogo definitivo, oferecendo-lhes seis anos de cárcere.
Para Ávila, “nunca houve um processo de paz tão avançado nem umas FARC tão
comprometidas com tal processo. No segundo turno se vai escolher entre a paz e a
guerra. Os diálogos ofuscaram todo o debate eleitoral. Este processo de paz, se
ganha Oscar Iván, acaba; as condições que ele coloca são inviáveis. Se ganha
Santos, muito seguramente vamos assinar a paz em breve”.
Segundo o
analista (Ávila), Santos não conseguiu explicar ao país a importância dos
diálogos. “Esta é uma sociedade cheia de preconceitos; e nas sociedades
urbanas, que não são as que sofreram com o conflito, mas sim onde mais se vota,
o presidente não ganhou. Se o acordo de paz for assinado ou não, a vida dos que
vivem nas zonas urbanas não muda a curto prazo”. O que segue, segundo Ávila, é
que Santos recupere votos em Bogotá pois, conforme sua visão, “o presidente na
Colômbia é definido por Antioquia (um dos 32 departamentos/estados do país),
Bogotá e a Costa Atlântica, então ambos os candidatos devem fazer um esforço
regional e, a nível político, uma mudança em suas campanhas, porque o país
necessita conhecer seus programas, as realizações de Santos na presidência, e
ver mais além da continuidade do processo de paz. Segue uma guerra mortal entre
os dois candidatos”.
Tradução: Jadson Oliveira
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