O histórico líder Manuel Marulanda (ou Tirofijo - Tiro Certeiro em tradução literal), um dos fundadores das FARC, morreu em 2008 aos 77 anos (Foto: Internet) |
A principal guerrilha colombiana,
criada sob inspiração das ideias do marxismo-leninismo e de Simón Bolívar, forjou
uma história de luta pelos oprimidos; com os anos apelou também para o
sequestro, o narcotráfico e a morte, com uma guerra que se diversificou pela
aparição do fenômeno do paramilitarismo.
Nota do jornal argentino Página/12, edição de ontem, dia 27
Faz 50 anos,
com apenas oito dias de diferença, se criavam as Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia (FARC) e o Exército de Libertação Nacional (ELN), ambas guerrilhas
protagonistas inegáveis da trágica história contemporânea do país caribenho,
que atualmente apostam na possibilidade histórica de assinar um acordo de paz
com o governo e passar à atividade política convencional. Não foram as primeiras
guerrilhas colombianas nem as únicas que surgiram a partir dos convulsionados anos
60, mas são as que se mantiveram vigentes ao longo de meio século, o que as
transforma nas mais antigas do continente e as únicas que conservam um poder de
fogo que torna razoável para o governo tentar colocar fim a este conflito
sangrento pela via da negociação.
Em 1961, o
governo lançou uma operação militar de milhares de homens para repor a soberania
do Estado nas regiões que, de Bogotá, eram consideradas “repúblicas
independentes” em mãos de camponeses alçados em armas. Os camponeses resistiram
o quanto puderam, em clara minoria numérica, e conseguiram escapar nas montanhas.
Ali Pedro Antonio Marín, codinome Manuel Marulanda ou Tirofijo, e o líder
comunista Jacobo Arenas fundaram em 27 de maio de 1964 uma guerrilha chamada
Bloque Sur (Bloco Sul), que dois anos mais tarde adotou o nome de FARC,
inspirado nas ideias do marxismo-leninismo e de Simón Bolívar. As FARC forjaram
uma história de luta pelos oprimidos; com os anos apelaram também para o sequestro,
o narcotráfico e a morte, com uma guerra que se diversificou pela aparição do
fenômeno do paramilitarismo, que em muitas ocasiões atuou coordenadamente com
as forças regulares do Estado colombiano.
Políticos
como a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt e sua companheira Clara
Rojas, governadores, deputados, contratistas do Pentágono, policiais, militares
e civis estiveram cativos durante anos nas selvas da Colômbia. Em seus melhores
momentos, finais dos anos 90, as FARC chegaram a contar com 20 mil homens
armados e o objetivo insurgente chegou a parecer possível. Chegaram a cercar
Bogotá e tomaram povoados e cidades inteiras.
O ELN não
conseguiu se sentar ainda na mesa de conversações, apesar de ter feito várias
propostas, desde somar-se aos diálogos de Havana a abrir uma negociação própria,
onde aparece como provável a figura do presidente do Uruguai, José Mujica, como
mediador. Tanto as FARC como o ELN, que se constituíram por razões comuns e com
objetivos similares, poucas vezes concordaram em seus posicionamentos. Mas hoje
estão mais unidos do que nunca frente às ofensivas militares e, sobretudo, na
busca de acordos com o governo que lhes permitam deixar as armas e reconverter-se
numa proposta política.
Tradução: Jadson Oliveira
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