Aram Aharonian (jornalista uruguaio, viveu na Argentina e depois na Venezuela) com o então presidente Hugo Chávez (Foto: Nodal) |
Redes
sociais como o Facebook e suportes como o Youtube são considerados exemplos de
conquistas na democratização da informação, sem se perceber que se trata de
empresas privadas que, dos seus centros de controle, podem eliminar um conteúdo
díscolo e fazer desaparecer um usuário.
A
imprensa escrita perdeu poder, o que se deve basicamente a duas situações
concorrentes: as notícias já viajam em tempo real por todo o mundo e se difundem
por diversas plataformas (os jornais diários trazem as notícias de ontem); e se
deve também a que os jornais perderam credibilidade desde que se converteram em
representantes de grandes corporações e esqueceram o rigor e a ética
jornalísticos.
Aram Aharonian, presidente da Fundação para a Integração Latino-americana (FILA), opina sobre o papel dos meios de comunicação na América Latina e Caribe, sobre as TVs Telesur e CNN e sobre o portal Nodal (Notícias da América Latina e Caribe).
Por Raúl Argemí, no portal Nodal, de 03/03/2014 (a entrevista vai aqui dividida em três partes; a primeira, que contém a introdução, foi postada no dia 16/abril, com seu título original: “Uma revolução nos meios de comunicação” (o título acima é deste blog)
(Continuação)
Resulta então inevitável falar de novas vias
que para os otimistas podem mudar governos e para os realistas podem ser um
meio, uma ferramenta mais, as redes sociais:
– Que papel está reservado às redes sociais
como via de comunicação e informação espontânea? Podem chegar a substituir os
meios tradicionais?
– A Internet é o meio de comunicação mais poderoso que
apareceu, desde o surgimento da televisão, mas não deixa de ser uma ferramenta.
No seu modo de uso (dentro de casa, o computador) pareceria o mais
individualista de todos. No entanto, pode se tornar coletivo, solidário,
articulado mundialmente (isso, em parte, os movimentos sociais têm conseguido).
Os conteúdos podem ser oferecidos gratuitamente. E o
alternativo compete com o comercial no mesmo plano, com ferramentas que podem
alcançar a mesma potência. E que podem ademais “absorver” todos os outros meios:
o rádio, o cinema, a televisão, as belas artes, e combiná-los numa nova criação.
Porém, diferentemente dos meios impressos ou audiovisuais, vão dirigidos a uma
massa crítica não identificada, num enorme mar de ofertas de conteúdos não
processados.
O risco da internet é pensar que se vive a democracia ao
vivo, quando é apenas uma democracia virtual. Na internet, o fenômeno da
concentração da informação e da escassez de pluralismo, ainda que de natureza
diferente, não é menos importante do que na imprensa tradicional. Redes sociais
como o Facebook e suportes como o Youtube são considerados exemplos de conquistas
na democratização da informação, sem se perceber que se trata de empresas
privadas que, dos seus centros de controle, podem eliminar um conteúdo díscolo
(desobediente, dissidente) e fazer desaparecer um usuário com a resignação duma
sociedade que nunca vê que estamos diante dum ataque à liberdade de expressão.
Já em 2014 a idade da inocência para usuários da internet
terminou. Os recentes acontecimentos dispararam a intranquilidade entre a
cidadania, sobretudo entre os usuários de redes sociais e serviços de grandes
companhias transnacionais, em virtude dos novos escândalos de espionagem, com o
sistema Prism e a recopilação de metadados telefônicos por parte da Agência
Nacional de Segurança dos Estados Unidos, como seu maior exemplo.
– No começo do século 20 os jornais eram o
principal meio de informação, influência e controle político. Agora esse papel
se concentra na televisão?
– A revolução tecnológica permitiu que as notícias viagem
dum lado a outro: já não era um problema enviar a informação. Mas a mudança
significou também que a notícia se converteu num bom negócio; obviamente não
como a conhecíamos, mas sim transformada em espetáculo, em show. O descobrimento
do enorme valor econômico da informação se deve à chegada do grande capital aos
meios de comunicação e à necessidade de manipular grandes mercados para
facilitar os grandes negócios e, também, a lavagem de dinheiro, grande parte
dele proveniente da venda de armas e de drogas. No mundo capitalista de hoje,
ter meios de comunicação é ter poder.
– Os jornais tradicionais estão em crise. Quando
somam leitores são leitores digitais, que não pagam pela edição de papel. Que
mudanças possíveis você vê? Jornais digitais mais vídeos, como o Nodal, onde você
escreve, ou todo o poder para a televisão?
– A revolução digital continua nos ameaçando com novas surpresas,
com novas ferramentas para a comunicação e a informação. A televisão digital
abre a porta a centenas de novos sinais televisivos, enquanto se tenta cercear
a liberdade na internet. A imprensa escrita perdeu poder, o que se deve basicamente
a duas situações concorrentes: as notícias já viajam em tempo real por todo o
mundo e se difundem por diversas plataformas (os jornais diários trazem as notícias
de ontem); e se deve também a que os jornais perderam credibilidade desde que
se converteram em representantes de grandes corporações e esqueceram o rigor e
a ética jornalísticos. Da Fundação para a Integração Latino-americana (FILA), apoiamos
e incentivamos o Nodal (Notícias da América Latina e Caribe, dirigido por Pedro
Brieger, jornalista argentino), porque é um intento sério para que os latino-americanos e caribenhos
nos vejamos com nossos próprios olhos. E mais, algumas emissoras de TV usam a
informação do Nodal, em seu esforço para ter uma agenda própria, nossa.
(Continua)
Tradução: Jadson Oliveira
Comentários