|
Sérgio Guerra e Quitério (o garçon mais querido do Quintal) no encontro dos "quintaleiros", dia 21, no Colon (Foto: Jadson Oliveira) |
De Salvador (Bahia) – Rui Santana que virou Rui
“Baiano” Santana depois de “exilado” em Ananindeua, região metropolitana de
Belém, deveria ter ido ao bar Colon na última segunda-feira, dia 21. Iria ver
ou rever e compartilhar casos/lembranças com duas dezenas de “quintaleiros”, os
hoje senhores e senhoras que atravessamos os anos 80 – os anos da transição da
ditadura -, no apogeu da juventude, discutindo política (e outras coisas mais)
nas mesas do Bar Quintal do Raso da Catarina.
(Para os
não “quintaleiros”: era (ou é) na região do Campo Grande em Salvador, ali
vizinho do Palácio da Aclamação, lá embaixo, a entrada precedida por uma
sinuosa e temerária escadaria).
O Quintal
era “um local de encontro
de boêmios, intelectuais, artistas, sindicalistas, políticos e militantes
sociais de diversas causas, durante o período de 22 de abril de 1979 ao
Carnaval de 1994(?)”, como diz Sérgio Guerra – célebre dirigente sindical dos
professores baianos, da famosa APLB, hoje APLB-Sindicato – na apresentação do
sítio aberto na Internet para coletar as memórias dos “quintaleiros”, visando a
feitura de um livro.
|
Rui em Salvador, em 2012, participando do III Encontro Nacional dos Blogueiros (os chamados "progressistas"). Ele agora é blogueiro, pilota o blog Ananindeua Debates (Foto: Jadson Oliveira) |
Foi
o mesmo companheiro Sérgio Guerra quem convocou a reunião no Colon (fica perto
do Quintal, na mesma região do Campo Grande), para marcar o encerramento das
contribuições para o citado livro. Claro que Rui “Baiano” Santana deveria estar
lá, mas eu, prazerosamente, me apresentei como seu representante, sabedor de
que se se fizer uma seleção dos “10 mais nostálgicos do Quintal”, com certeza
nosso “exilado” paraense estará incluído.
Sei
que tem saudades das militâncias baianas como músico, produtor musical,
sindicalista e petista, não sei se tanto quanto de sua vida de “quintaleiro”,
embora essas facetas da trajetória de cada qual terminem sempre entrelaçadas.
“Porra,
Rui, o Quintal não existe mais, AQUELE Quintal que está na sua cabeça, e também
na minha e de muita gente, que nós amamos e curtimos, AQUELE não existe mais.
Está lá o bar no mesmo lugar, com o mesmo nome, mas a gente que está lá é
outra, a conversa é outra, o ambiente é outro, as moças são outras (os rapazes
também), as músicas são outras, a época é outra, a política é outra, o papo é
diferente e nós também mudamos, eu não vou, não. Estive lá uma vez, depois dos
velhos tempos, e achei uma merda”.
Foi
o que respondi a ele (claro que escrevendo a gente arruma melhor o texto, mas
foi este o sentido) no último verão, na sua última visita à Bahia, à sua
“cidade negra” (se não me equivoco, é assim como ele gosta de chamar Salvador).
Tomamos umas num bar de Tororó e quando o nível alcoólico foi aumentando no
sangue, na hora de ir embora, Rui quis tomar a saideira – a imorredoura
saideira de todos os bebedores que se prezam! – aonde? Exatamente, no Quintal.
“Porra,
Rui, o Quintal não existe mais...”, disse eu, como já disse. Me recusei a
acompanhá-lo e ele foi em companhia de um casal amigo. Foi em busca de seus
“fantasmas”, como eu soube depois, já via e-mail, pois escrevi ao companheiro
tentando satisfazer minha curiosidade: o que, afinal, tinha achado do atual
Quintal?
“Na
verdade, companheiro Jadson – ele me respondeu -, minha ida ao ‘Quintal Novo’ é
uma busca aos ‘Fantasmas do Velho Quintal’. Depois de tomar uns ‘Príncipes
Malucos’, viajo, tenho visões: vejo o professor Sampaio, com seus óculos fundo
de garrafa, me falando: “Gordinho, cadê sua irmã que foi minha aluna?”; vejo Sérgio
Marinho e suas histórias repetidas, Quitério tomando seu famoso café às 3
da madrugada, zelando por nosso sono”.
E
continua: “Velho Quintal, Elomar e Xangai na madrugada cantando umas e outras.
Henrique e seu violão clássico, e suas histórias, segundo as quais já teria comido
todas as mulheres do Quintal, a Alemã e sua tosse insuportável. Franco zangado,
Sérgio Guerra, Contrim e Wilson Aragão no seu momento mais perfeito. É lá
onde eu encontro meus irmãos que já morreram (Sinho e Raimundinho), onde vejo
as lutas dos anos 80 passando na minha frente como um filme de Bertolucci”.
“Companheiro,
como aquele personagem de Dias Gomes, tenho as visões de ‘Um Quintal’ que
não volta mais, mas continua aqui no meu coração”.
OK, meu
amigo, segue uma seleção de fotos do encontro no Colon para que você se sinta
um pouco presente (espero não errar na identificação, pois a maioria eu não
conhecia):
|
Uma geral antes da chegada de outros "quintaleiros": no centro, Rita Rapold e Sérgio (Fotos: Jadson Oliveira) |
|
Américo Caetano, João Dagolmea e Valdimiro Lustosa, meu velho companheiro das lides sindicais bancárias |
|
Clara Arcela, Carmen Arruti, Vivalda de Bonfim e Joanete Pereira |
|
Franco Barretto, Paulo Bonfim e Mercedes Bonfim |
|
Gabriel Santos e Aurélio Dórea |
|
Silvia Neves |
|
Carmen, Rita e Sérgio |
|
Franco, Paulo e Mercedes |
|
Dagolmea, Lustosa e Jadson Oliveira (esta foi clicada por Silvia Neves) |
|
Antonio Capeba e Lícia Soares |
|
Desculpe, não anotei o nome deste que está ao lado do velho Quitério |
Segue o artigo "Os Moscas de Boi - Memória do Bar Quintal do Raso da Catarina", de autoria de Valdimiro Lustosa, postado logo abaixo.
Na web pode-se achar muita coisa sobre o Quintal e os "quintaleiros", a partir deste movimento liderado por nosso Sérgio Guerra: basta você jogar no Google "Memórias do Bar Quintal do Raso da Catarina".
Comentários
Clara Arcela