TARSO GENRO: O CAPITAL ESTÁ VENCENDO. COMO A ESQUERDA PODE BARRÁ-LO?

O MST deu um belo exemplo ao vincular a Reforma Agrária ao tema da produção de alimentos saudáveis para os cidadãos de todas as classes.


Por Tarso Genro (foto), no portal Carta Maior, de 21/042014

A  lenta, mas firme desagregação da esquerda européia depois da quebra da URSS, está  ancorada em fatores “objetivos”, tais como as mudanças no padrão de acumulação capitalista -“pós-industrial” como já analisavam alguns economistas  há  trinta anos - que atravessaram a sociedade de alto a baixo. Estas mudanças alteraram  as expectativas políticas, o modo de vida, as demandas do mundo do trabalho e da constelação de prestadores de serviços, dos técnicos das atividades da inteligência do capital, dos sujeitos dos novos processos do trabalho e de amplos contingentes da juventude. Estes, originários de famílias das classes médias, que perderam o seus “status” social e o seu poder aquisitivo, adquiridos na era de ouro da social-democracia. A social-democracia não se renovou, nem o comunismo, para responder a estas transformações.

A desagregação, todavia,  também está ancorada na ausência de respostas - fator “subjetivo” dominante -dos núcleos dirigentes da esquerda comunista e social-democrata. Esta falta de formulação superior pode, parcialmente, ser atribuída a uma ausência de “caráter” - pela “acomodação” teórica e doutrinária dos seus dirigentes - mas este não é, certamente, o fator preponderante: o vazio de respostas de esquerda à nova crise do capital tem outras determinações mais fortes. Mesmo aqueles que se jogaram para uma posição “movimentista” - mais, ou menos, corporativa - aparentemente radical  (ou os que se propuseram a enfrentar o retrocesso com práticas de Governo ou com novas elaborações no âmbito acadêmico) não conseguiram - nos seus respectivos espaços de interferência - abrir novos caminhos que se tornassem hegemônicos.

A adesão da social-democracia francesa, italiana, espanhola e portuguesa – para exemplificar -aos remédios exigidos pela União Européia (leia-se Alemanha), põe por terra as esperanças que algum governo europeu, num futuro próximo,  possa inspirar mesmo uma saída social-democrata novo tipo à crise atual. Tudo indica que a recuperação da Europa capitalista virá por um canal “social-liberal”, depois de um longo período de reestruturação das classes em disputa. Teremos perdas significativas para os trabalhadores do setor público e privado, para as  micro, pequenas e médias empresas, que são responsáveis pela maior parte da oferta de empregos. A isso se agregará uma forte pressão sobre os imigrantes e a crescente redução dos gastos públicos, destinados à proteção social. Paralelamente a este desmantelamento tudo indica que crescerão as alternativas nacionalistas de direita, de corte autoritário e mesmo neo-fascistas, pois o vazio que gera desesperanças pode fazer renascer o irracionalismo das utopias da direita extrema.

Se isso é verdade, o nosso problema brasileiro é bem maior do que parece. A contra-tendência instituída no Brasil, que criou dez milhões de empregos no mesmo período em que foram destruídos mais de sessenta milhões de postos de trabalho em todo o mundo, está sob assédio. O nome deste assédio é a garantia do pagamento rigoroso - com juros elevados - da dívida pública, para que o sistema financeiro global do capital possa ter reservas destinadas a bancar as reformas e por em funcionamento um novo  ciclo de crescimento das economias do núcleo orgânico do capitalismo global.

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Comentários

O pensamento de esquerda precisa revitalizar-se. Não se pode mais pensar a transformação revolucionária a partir de um locus de poder, o Estado, construto da dominação burguesa. A burguesia domina porque cada burguês tem poder. Desse modo,também a classe trabalhadora só dominará quando cada trabalhador for investido de poder individual. Representação não funciona se o representado não tem ascendência sobre o representante. Penso que seja por essa via de empoderamento do operário através da redistribuição de renda, de socialização dos lucros por unidade do produção e pela adoção e criação de todo tipo de instrumento capaz de conferir poder efetivo à classe trabalhadora que se construirá uma alternativa ao capitalismo. Por mais longínqua e utópica que seja, a extinção do Estado tem que estar no horizonte de qualquer teoria que se pretenda revolucionária.
O pensamento de esquerda precisa revitalizar-se. Não se pode mais pensar a transformação revolucionária a partir de um locus de poder, o Estado, construto da dominação burguesa. A burguesia domina porque cada burguês tem poder. Desse modo,também a classe trabalhadora só dominará quando cada trabalhador for investido de poder individual. Representação não funciona se o representado não tem ascendência sobre o representante. Penso que seja por essa via de empoderamento do operário através da redistribuição de renda, de socialização dos lucros por unidade do produção e pela adoção e criação de todo tipo de instrumento capaz de conferir poder efetivo à classe trabalhadora que se construirá uma alternativa ao capitalismo. Por mais longínqua e utópica que seja, a extinção do Estado tem que estar no horizonte de qualquer teoria que se pretenda revolucionária.
Jadson disse…
Companheiro, acho que vc toca em questões pertinentes, mas complicadas.
Vou tentar discuti-las num texto, vou tentar, para que sirva pelo menos para incentivar vc a escrever mais.
Lembre que já sugeri que vc escreva de vez em quando para o nosso Evidentemente, cujos leitores estão em constante crescimento.
Os acessos nestes últimos sete dias estão oscilando entre 500 e 600.
Jadson disse…
Acessos diários, quero dizer.