MADURO CONCLAMA À PAZ EM ARTIGO NO NEW YORK TIMES



Maduro disse que o momento é de diálogo e diplomacia (Foto: AFP/Página/12)
O presidente venezuelano publicou um artigo no influente jornal norte-americano: em meio duma crise sem precedentes na Venezuela, o chefe de Estado exortou ao diálogo com a oposição e criticou o papel dos meios de comunicação. Também pediu aos Estados Unidos que não apliquem sanções.

Matéria do jornal argentino Página/12, edição de hoje, dia 3/abril

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez ontem um chamamento à paz e ao diálogo e pediu que os Estados Unidos não imponham sanções a seu país, através do diário The New York Times. “Venezuela necessita de paz e diálogo para avançar. Damos as boas-vindas a qualquer um que deseje sinceramente nos ajudar a alcançar estes objetivos”, afirmou o presidente num artigo de opinião intitulado “Venezuela, um chamamento à paz”. Neste sentido, ele assegurou que agora é o tempo “para o diálogo e a diplomacia”, e acrescentou que seu governo estendeu uma mão à oposição para negociar, seguindo as recomendações da Unasul (União das Nações Sul-americanas). Maduro lembrou também que seus ministros se puseram em contacto com o presidente estadunidense, Barack Obama, para expressar-lhe seu desejo de voltar a intercambiar embaixadores. Não obstante, em outra parte do artigo, Maduro recordou como a Casa Branca apoiou o golpe de Estado de 2002 contra o então presidente Hugo Chávez e acusou Obama de gastar pelo menos cinco milhões de dólares anuais para apoiar a oposição.

No texto, Maduro apresentou sua visão sobre os protestos que desde fevereiro último causam o enfrentamento entre governistas e opositores. “Nos Estados Unidos, os manifestantes foram descritos como ‘pacíficos’ e se disse que o governo venezuelano os reprimiu violentamente. Segundo esta versão, o governo estadunidense se posiciona do lado do povo da Venezuela”, escreveu. “Na realidade, está ao lado do 1% que deseja arrastar o país ao passado, quando os 99% da população estavam apartados da vida política e somente uns poucos, incluídas aí as empresas estadunidenses, se beneficiavam do petróleo da Venezuela”, afirmou. No entanto, destacou que os protestos, sempre que sejam pacíficos, são uma forma de manifestação legítima. “A participação popular na política na Venezuela se incrementou significativamente na última década. Como um ex-sindicalista, creio profundamente no direito de associação e no dever cívico de manifestar insatisfações legítimas através do protesto pacífico com o objetivo de garantir que a justiça prevaleça”, expressou.

O governante venezuelano aproveitou também as páginas do jornal novaiorquino para criticar a imprensa estrangeira, acusando-a de distorcer a realidade do seu país e dos fatos em torno dos acontecimentos. “Espero que o povo estadunidense, ao conhecer a verdade, entenda que a Venezuela e sua gente não merecem esse castigo e que peça a seus representantes que não imponham sanções”, prosseguiu Maduro. Segundo o presidente, nos últimos dois meses se registraram pelo menos 36 mortos durante os protestos. “Os manifestantes são, acreditamos, diretamente responsáveis pela metade deles”, afirmou.

“Seis membros da Guarda Nacional foram alvejados e assassinados; outros cidadãos perderam a vida enquanto tentavam retirar obstáculos colocados pelos manifestantes para bloquear o trânsito”, denunciou Maduro. Ele acusou os opositores de atacar clínicas, incendiar universidades e lançar pedras e coquetéis molotov, e estimou em “vários milhões de dólares” os prejuízos causados pelos protestos, os quais, conforme disse, não são apoiados “pelos bairros de classe pobre e trabalhadora”. Maduro reconheceu que um “número pequeno” das forças de segurança foi acusado de participar de atos violentos em que morreram “várias pessoas”, o que motivou a resposta do governo ordenando a detenção dos suspeitos.

O sucessor de Chávez admitiu também que o país enfrenta sérios problemas econômicos, mas assegurou que trabalha para superá-los. “Enquanto que nossas políticas sociais têm sobretudo melhorado a vida dos cidadãos, o governo também  enfrentou sérios problemas econômicos nos últimos 16 meses, incluindo a inflação e a escassez de alguns produtos básicos”. Expressou que o novo sistema de câmbio conseguiu reduzir a inflação – uma das causas dos protestos, segundo os dirigentes opositores – durante as últimas semanas e que através do monitoramento de empresas o governo trabalha no sentido de impedir a especulação ou a estocagem de produtos.

Tradução: Jadson Oliveira

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