EL SALVADOR: A TERCEIRA VIDA DO COMANDANTE LEONEL



Em pleito apertado, o esquerdista Sánchez Céren, da FMLN, venceu o opositor Normán Quijano, do partido Arena, de direita (Foto: Giorgio Trucchi/Opera Mundi)

Protagonista da luta guerrilheira nos anos 80 e dirigente histórico da FMLN, Salvador Sánchez Cerén (outrora comandante Leonel) assume a presidência em 1º de junho


Por Breno Altman, de São Paulo, no portal Opera Mundi, de 23/04/2014

A FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), partido da esquerda salvadorenha, conquistou a presidência da República, pela primeira vez, há cinco anos. O candidato vitorioso, que chegará ao final de seu mandato no próximo dia 1º de junho, foi o jornalista Maurício Funes. Filiado à agremiação sem ter participado na guerra, mas com robusta trajetória progressista, seu nome transformou-se em opção triunfante ao atrair setores que ainda estavam contaminados pela campanha do medo impulsionada durante 20 anos pela direita e seus meios de comunicação.

O governo Funes, além de ter alcançado forte popularidade graças a políticas sociais e de redistribuição da renda, ajudou a neutralizar parte da guerra psicológica permanente contra a FMLN. Muitos eleitores foram se dando conta de que o cenário de caos e violência anunciado pelo conservadorismo não passava de golpe midiático.

Essa fase de transição, na qual o governo de esquerda era conduzido por um aliado político, não de uma liderança orgânica do partido, revelou-se fundamental para a segunda vitória presidencial, ocorrida no último dia 9 de março, dessa vez levando à chefia do país um dirigente histórico, o professor Salvador Sánchez Cerén, outrora comandante Leonel González, atualmente vice-presidente.

O presidente eleito foi protagonista da luta guerrilheira nos anos 80, encabeçando uma das cinco formações político-militares que deram origem a FMLN. Sua organização, as Forças Populares de Libertação, era considerada a mais influente e numerosa pela maior parte dos estudiosos. Durante 12 anos, entre 1980 e 1992, na montanha e na clandestinidade, Salvador foi Leonel, em uma época na qual a política e o fuzil caminhavam juntos.

A resistência armada tinha irrompido depois do assassinato do monsenhor Óscar Romero, em 24 de março de 1980, por um atirador de elite do Exército salvadorenho, enquanto rezava uma missa. Era o sinal da brutal reação de direita às lutas populares, restabelecendo a tutela militar sobre governos fantoches que se subordinavam à oligarquia local e à política de guerra fria dos Estados Unidos, empenhados em isolar as revoluções cubana e nicaraguense.

Mais tarde veio à tona que a ordem para matar o sacerdote progressista partira do major Roberto D’Aubuisson, um dos caciques dos esquadrões da morte envolvidos em ataques contra as mobilizações sociais e seus representantes. Esse oficial, falecido de causas naturais em 1992, fundaria o partido Aliança Republicana Nacionalista, que governou o país durante vinte anos. Até hoje seu busto decora a entrada da sede partidária e todas as campanhas areneiras começam com uma homenagem a esse prócer anticomunista.

A guerrilha unificada na FMLN resistiu, sem jamais ser derrotada, à coalizão entre o Exército nacional, os bandos clandestinos de extermínio e a intervenção indireta dos norte-americanos. Ao não ser batida, venceu. O governo, incapaz de dobrá-la, perdeu. A própria Casa Branca, no início dos anos 90, percebendo que seria impossível um triunfo militar sobre a esquerda, aceita abrir negociações de paz e obriga o governo salvadorenho a sentar na mesa de negociação.

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