Se não encontrarem caminhos seguros e eficientes de crescimento, a situação do país e de seus cidadãos não mudará no essencial.
Por Leonardo Padura, no portal Carta Maior, de 10/04/2014Os vizinhos mais recentes que chegaram ao meu bairro são beneficiários de uma das mudanças introduzidas pelo governo de Raúl Castro como parte da chamada "atualização do modelo econômico cubano".
Eles eram uma das famílias que, por uma razão ou outra, viveram durante anos em albergues coletivos e, por fim, tiveram a sorte de receber um dos milhares de locais onde antes havia funcionado um escritório do governo e que foram transformados em moradias, como forma de atenuar o déficit habitacional existente.
Esses vizinhos, que não pagaram -- nem poderiam pagar -- nada pelo imóvel que lhes foi entregue, vivem de um dos trabalhos mais modestos que existem na ilha: a coleta de restos de papel, papelão, vidro e alumínio para vender a centros de coletores de matérias-primas recicláveis.
Mas como seu trabalho não é suficiente para se manter, esses vizinhos beneficiados com uma moradia digna e gratuita agora a estão dividindo para vender uma parte, amparados em outra das mudanças introduzidas pelo governo: a da livre compra e venda de imóveis.
Dessa e de muitas outras maneiras, os cubanos tratam de melhorar a sua vida, mesmo que, no fundo, a estejam piorando, vendendo o pouco que têm ou realizando qualquer manobra econômica mais ou menos legal (ou ilegal) que lhes renda algum dinheiro. A raiz mais visível dos problemas é que os cubanos, sobretudo os que trabalham para o Estado, não ganham o suficiente para sobreviver.
Por isso, quem não tem um familiar no exterior que o ajude com dinheiro, ou algum que, de alguma forma, tenha acesso a lucros na moeda forte, deve contar seus centavos a cada dia de sua vida para satisfazer as necessidades básicas, como a alimentação e a higiene.
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