(Foto: Internet) |
A esta altura do campeonato, quem deve, ou deveria, estar em polvorosa é a oposição
Por Ricardo Melo (enviado pelo companheiro Antônio Carlos Santos, de Salvador-Bahia)
Poucos governos foram tão alvejados quanto o de Dilma Rousseff nos
últimos meses. Na grande mídia, tudo foi motivo de crítica pesada: Copa do
Mundo, inflação, crescimento, Petrobras, relação com empresários, Mais Médicos
etc, etc, etc. Subiu ao palco até aquela agência de risco famosa por dar nota
azul a bancos que, semanas depois, lideraram a maior crise do capitalismo desde
1929. Chumbo grosso.
Eis que, diante de tudo isso, as pesquisas de opinião mostram, sim, um
recuo da popularidade de Dilma. Era esperado, até previsível. Especulador
ganhou muito dinheiro com isso. O inesperado, para quem se diz portador do
novo, da juventude, da mudança, foi o que aconteceu com o tucano Aécio Neves e
o filotucano Eduardo Campos: estacionaram como aquelas caçambas que ocupam
vagas preciosas no meio-fio à espera do lixo de condôminos. Considerando a margem
de erro do Datafolha, ficaram literalmente empacados.
Isso não quer dizer que o mundo esteja a mil maravilhas para o governo.
Há um desejo de mudança, de melhora, de iniciativas corajosas. Mas aí vem o
detalhe: entre os que querem novos ares, a maioria considera que o mais apto a
fazer isto é Lula, seguido por Marina e, depois por... Dilma! É de provocar
vergonha alheia.
A esta altura do campeonato, quem deve, ou deveria, estar em polvorosa é
a oposição. Com toda a exposição dos últimos meses, seus candidatos não
conseguiram convencer os eleitores de que são os arautos de um Brasil próspero.
Não é por menos. Tucanos e filotucanos têm dificuldades conhecidas em lidar com
o povo a céu aberto. Preferem a pouca luz de bastidores. Nos meios tradicionais
e jantares selecionados, operam com saliência e desenvoltura: trocam favores
relacionados a heliportos pela cabeça de jornalistas, intimidam oposicionistas
em seus Estados, mas, quando se trata de Brasília, posam de Catão.
Com a cara mais lambida do mundo, Aécio e Campos pedem agora CPIs sobre
a Petrobras; já em suas searas, vestem a roupa do coronelismo mais retrógrado.
Nunca é demais recordar: governos tucanos, que há mais de uma década rapinam o
Tesouro paulista em conluio com multinacionais, jamais aceitaram a criação de
uma mísera CPI estadual para investigar as denúncias de roubalheiras no Metrô e
na CPTM. Uma única!
Mas em Brasília o pessoal troca de uniforme, finge-se de vestal e quer
(quer mesmo?) uma devassa na Petrobras. Parece não perceber que manobras
mesquinhas não são suficientes para colocar água em torneiras à beira de
racionamento, melhorar a segurança pública ou resolver a situação vexatória dos
transportes públicos sob sua responsabilidade. E ainda nem começou o horário
eleitoral, no qual os partidos governistas dispõem de uma larga vantagem sobre
os adversários.
Nada disso sugere que o governo dirigido pelo PT ostente uma situação
confortável e possa viver da indigência dos rivais. O Planalto tem contas a
prestar sobre a série de denúncias indicando que a máquina pública serve de
balcão de negócios para interesses privados e partidários. Tão hipócrita quanto
dizer que a prática começou nos governos do PT é tentar esconder que certos
hábitos infelizmente são multipartidários. O governo Dilma Rousseff tem nas
mãos a chance de romper essa inércia.
Comentários