Velhos militantes contra a ditadura e novos militantes do Levante Popular da Juventude na marcha feita do Iceia ao Forte do Barbalho, no último dia primeiro (Estas duas fotos: Jadson Oliveira) |
Hugo "Pacotinho" (em pé) junto a seus companheiros do Levante no auditório quando do ato feito no Forte do Barbalho, dia primeiro |
A
luta contra a impunidade dos crimes de lesa humanidade faz parte da meta mais
ampla do LPJ por mais democracia. Não é por acaso que o movimento tornou-se
mais conhecido nacionalmente pelos “escrachos” realizados contra militares
acusados de tortura.
De
Salvador (Bahia) – São os rapazes e moças do Levante Popular
da Juventude (LPJ) que na última terça-feira, dia primeiro, deram o tom mais
festivo e aguerrido durante a manifestação de antigos militantes políticos –
grande parte ex-presos e ex-torturados - contra a ditadura brasileira
(1964-1985) no Forte do Barbalho, antigo quartel do Exército onde funcionou o
maior centro de tortura da capital baiana, atualmente transformado em Memorial
de Resistência do Povo da Bahia.
O pessoal do Levante agitou o pequeno percurso feito
pelos manifestantes, duma parte lateral do Iceia (Instituto Central de Educação
Isaías Alves, no Barbalho) até o Forte, lançando brados principalmente contra a
impunidade dos torturadores da ditadura, até hoje acobertados pela Lei da
Anistia (na verdade, lei de autoanistia) de 1979, avalizada há quatro anos pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) para indignação dos democratas e ativistas dos
direitos humanos.
“Nós não vamos esquecer / a tortura nunca mais /Se o povo
se unir / a impunidade vai cair”, entoavam eles, dentre outros bordões:
“Juventude que ousa lutar constrói o poder popular”, “Para que nunca mais se
esqueça, para que nunca mais aconteça”.
A luta contra a impunidade dos crimes de lesa humanidade,
que configuram o terrorismo de Estado, faz parte da meta mais ampla do LPJ por
mais democracia. Não é por acaso que o movimento tornou-se mais conhecido
nacionalmente pelos “escrachos” realizados contra militares acusados de tortura
(denúncia da presença do torturador, com cartazes e faixas, geralmente na
frente de sua residência, tentando chamar a atenção dos vizinhos).
Em Salvador, militantes do Levante já fizeram um “escracho”
contra Dalmar Caribé, da família dona da Associação de Karatê da Bahia,
instalada no bairro Costa Azul. Ele é acusado de atuar como torturador quando
servia ao Exército no mesmo Forte do Barbalho.
Integrantes do Levante e representantes do movimento democrático da Bahia, na frente do Fórum Ruy Barbosa, fazem manifestação de apoio a Emiliano José (Foto: do site do LPJ) |
Eles se manifestaram também, em frente ao Fórum Ruy
Barbosa, em apoio ao jornalista Emiliano José, que está sendo processado pelo
ex-oficial da PM e atual pastor da Igreja Batista Átila Brandão, apontado como
torturador do professor Renato Afonso, conforme relato de sua mãe Maria Helena
Rocha Afonso de Carvalho que consta no artigo “A premonição de Yaiá”, de
autoria de Emiliano, publicado no jornal A Tarde (link para matéria no sítio do
LPJ: “Torturador impune: de acusado a acusador”).
Atuação
em bairros populares
O Levante nasceu em 2006 em Porto Alegre, influenciado
pelo trabalho de mobilização feito no campo pelo MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem-Terra), e já chegou a 22 estados.
Seu objetivo é ajudar na formação e organização dos
jovens nas grandes cidades, conforme informações de Hugo dos Santos, conhecido
como “Hugo Pacotinho”, que participa da coordenação em Salvador. Ele tem 26
anos e é estudante de Serviço Social na Ufba (Universidade Federal da Bahia).
Segundo Hugo, o movimento começou na Bahia em 2012 e tem
trabalho em bairros populares como Cajazeiras, Alto das Pombas, Fazenda Grande
do Retiro e Sussuarana. Tem atuação também entre os estudantes na Ufba, na Uneb
(Universidade do Estado da Bahia) e na Unijorge (Universidade Jorge Amado).
Pela
reforma do sistema político
Pedi a Hugo para formar nos leitores uma ideia das
atividades e preocupações políticas do Levante, muito resumidamente: ele disse
que os jovens atuam em lutas por direitos e pela soberania nacional, aí
incluída, claro, a luta contra o imperialismo estadunidense.
Se bateram contra o leilão de Libra (pela soberania da
Petrobras na exploração do petróleo), contra o uso dos agrotóxicos na lavoura e
pela reforma agrária.
E encampam, de modo geral, a proposta feita pela
presidenta Dilma Rousseff logo após as grandes manifestações de junho/2013 para
se fazer a reforma política. Hugo explicita a proposta, dentro da visão do LPJ:
plebiscito popular por uma Constituinte exclusiva e soberana, para levar
adiante a reforma do sistema político.
(Esta
é a segunda matéria deste blog sobre a manifestação no Forte do Barbalho. Uma
terceira será ainda publicada)
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