(Foto: Internet) |
“Qual
sua opinião sobre as chamadas 'guarimbas?'”: 38,6% as consideram negativas e
33,5% “muito negativas” (somando 72,1%); enquanto isso, 22,2% as vêem como
positivas, e somente 1,9% “muito positivas”.
Por Eleazar Díaz Rangel, no portal
venezuelano Aporrea.org, de 16/03/2014
Cada vez com maior frequência os meios de comunicação estão
difundindo diversas expressões de repúdio aos “guarimberos” (ver observação),
desde o enfrentamento entre cidadãos - com uns a favor e outros contra -, até
os ataques violentos que chegaram ao extremo de assassinar moradores ou funcionários
(inclusive policiais) que limpam as zonas afetadas. Os atemorizados
comerciantes apenas se atrevem a expressar sua insatisfação por temor a represálias,
habitantes de Chacao (município da zona dos mais ricos, Leste da cidade)
disseram estar dispostos a se mudar dessa área para o Oeste de Caracas.
A existência das “guarimbas” durante este mês de ações violentas deixa um saldo de 28 mortes, destruição, incêndios, interrupção do trânsito, milhares de moradores imobilizados em suas residências, ambientes poluídos com fumaça e gases, pânico e terror, árvores derrubadas... Enfim, nunca um setor de Caracas e de outras cidades tinha vivido uma experiência tão negativa, calamitosa e deplorável como esta. Quando se tinha visto na Venezuela a destruição duma pista de atletismo como forma de protesto? Como explicar o incêndio dum caminhão com 40 toneladas de alimentos para o povo? Como se explicam os selvagens ataques às estações do Metrô, a instalações de Cantv e de Corpoelec (empresas estatais de telefonia e de eletricidade, respectivamente)? O que buscavam com o saque à Torre Britânica? E depois de tanta destruição e morte, o que ganharam, que não seja o repúdio?
Essa conduta e essas ações tiveram o repúdio da imensa maioria dos venezuelanos, e em particular, dos moradores da Grande Caracas.
Aqui no Últimas Notícias (jornal diário, da rede privada, de maior circulação no país, do qual o autor do artigo é diretor de Redação) publicamos na semana passada o resultado duma pesquisa que em apenas dois dias responderam 2.400 pessoas, das quais 64% condenavam as “guarimbas”.
Agora, a empresa Pronóstico nos oferece as respostas da pesquisa realizada no começo de março na Grande Caracas e no estado de Carabobo. A primeira das perguntas: “Qual sua opinião sobre as chamadas “guarimbas?”: 38,6% as consideram negativas e 33,5% “muito negativas” (somando 72,1%); enquanto isso, 22,2% as vêem como positivas, e somente 1,9% “muito positivas”. Se supõe que esse 24% seja dos opositores mais recalcitrantes. Os resultados de Carabobo têm apenas pequenas diferenças: a soma das opiniões negativas é 71,4%.
Antes que vissem as últimas cenas de saques, incêndios, destruição de instalações, lhes perguntaram se são violentas e 77,7% as consideraram violentas, contra 22,3%. Note-se que 81,6% dos segmentos mais pobres (classes D e E) opinaram que eram violentas. Os resultados de Carabobo não têm maiores diferenças. E perguntados se acham que as “guarimbas” violam direitos dos demais de forma abusiva, responderam quase invariavelmente: 80% que sim, violam tais direitos; entre os mais pobres tal porcentagem chegou a 87,9%.
Diante da pergunta sobre se a motivação das “guarimbas” é “protestar contra alguns problemas”, ou tirar Maduro do poder, 36,9% acreditam que o fazem como protesto, mas 63,1% disseram que têm como objetivo tirar Maduro do poder. O percentual mais alto (78,7%) corresponde aos mais pobres, das classes D e E. Como se vê, nesses segmentos sócio-econômicos há maior consciência dos verdadeiros fins da rede de “guarimbas”, onde os níveis de repúdio são mais altos.
Poderíamos inferir que esta visão da maioria dos venezuelanos, e em particular dos mais pobres, rechaça as ameaças expressas por altos dignatários dos EUA, como o vice-presidente, o secretário de Estado e o chefe do Comando Sul. Tudo isso deveria fazê-los refletir, e como lhes disse o presidente Maduro, supor que desestabilizar a Venezuela é desestabilizar toda a região.
Foi de alta significação a decisão da Unasul em Santiago. Por unanimidade, aprovaram respaldar o esforço do governo venezuelano para concertar o diálogo com todos os segmentos políticos do país, acolher a petição que fez o Executivo nacional de enviar uma comissão que participe da Conferência Nacional pela Paz, e que apresentará um informe à presidência pro-tempore. A esta decisão da Unasul temos que acrescentar a decepcionada declaração de John Kerry, o chanceler de Washington, que “reconheceu que até agora não teve êxito em suas intenções” no sentido de que os países vizinhos da Venezuela escutem sua posição contra o governo de Maduro. A América Latina é outra, é o caso de se avaliar as mudanças havidas que se manifestaram primeiro na OEA (29 votos a três: EUA, Canadá e Panamá), e depois, por unanimidade, na Unasul.
Um dos efeitos políticos do desenvolvimento de duas linhas - uma radical violenta, e outra democrática ou de moderação -, foi a divisão em dois pedaços iguais das simpatias dos opositores. Perguntados por “Pronósticos” na Grande Caracas: “No caso de realização de eleições presidenciais, em quem votaria? – (Henrique) Capriles obteria 16,5% e Leopoldo López 17,1%; e no estado de Carabobo a proporção é similar: 16,1% e 16,8%, respectivamente. Quem ficou totalmente fora, apesar de vincular-se com os radicais, foi Antonio Ledezma (prefeito metropolitano de Caracas), com 1,3% em Caracas, e 1,9% em Carabobo. E de María Corina Machado (deputada federal que se posiciona bem próxima de López) nem falar: 0,7 e 0,6. Em troca, Maduro atrai 40,3% em Caracas e 37,8%. Tal como opinamos em várias oportunidades, as ações violentas guardam relação com as divergências internas da MUD (a Mesa da Unidade Democrática, como se intitula a aliança de quase 30 partidos antichavistas).
A existência das “guarimbas” durante este mês de ações violentas deixa um saldo de 28 mortes, destruição, incêndios, interrupção do trânsito, milhares de moradores imobilizados em suas residências, ambientes poluídos com fumaça e gases, pânico e terror, árvores derrubadas... Enfim, nunca um setor de Caracas e de outras cidades tinha vivido uma experiência tão negativa, calamitosa e deplorável como esta. Quando se tinha visto na Venezuela a destruição duma pista de atletismo como forma de protesto? Como explicar o incêndio dum caminhão com 40 toneladas de alimentos para o povo? Como se explicam os selvagens ataques às estações do Metrô, a instalações de Cantv e de Corpoelec (empresas estatais de telefonia e de eletricidade, respectivamente)? O que buscavam com o saque à Torre Britânica? E depois de tanta destruição e morte, o que ganharam, que não seja o repúdio?
Essa conduta e essas ações tiveram o repúdio da imensa maioria dos venezuelanos, e em particular, dos moradores da Grande Caracas.
Aqui no Últimas Notícias (jornal diário, da rede privada, de maior circulação no país, do qual o autor do artigo é diretor de Redação) publicamos na semana passada o resultado duma pesquisa que em apenas dois dias responderam 2.400 pessoas, das quais 64% condenavam as “guarimbas”.
Agora, a empresa Pronóstico nos oferece as respostas da pesquisa realizada no começo de março na Grande Caracas e no estado de Carabobo. A primeira das perguntas: “Qual sua opinião sobre as chamadas “guarimbas?”: 38,6% as consideram negativas e 33,5% “muito negativas” (somando 72,1%); enquanto isso, 22,2% as vêem como positivas, e somente 1,9% “muito positivas”. Se supõe que esse 24% seja dos opositores mais recalcitrantes. Os resultados de Carabobo têm apenas pequenas diferenças: a soma das opiniões negativas é 71,4%.
Antes que vissem as últimas cenas de saques, incêndios, destruição de instalações, lhes perguntaram se são violentas e 77,7% as consideraram violentas, contra 22,3%. Note-se que 81,6% dos segmentos mais pobres (classes D e E) opinaram que eram violentas. Os resultados de Carabobo não têm maiores diferenças. E perguntados se acham que as “guarimbas” violam direitos dos demais de forma abusiva, responderam quase invariavelmente: 80% que sim, violam tais direitos; entre os mais pobres tal porcentagem chegou a 87,9%.
Diante da pergunta sobre se a motivação das “guarimbas” é “protestar contra alguns problemas”, ou tirar Maduro do poder, 36,9% acreditam que o fazem como protesto, mas 63,1% disseram que têm como objetivo tirar Maduro do poder. O percentual mais alto (78,7%) corresponde aos mais pobres, das classes D e E. Como se vê, nesses segmentos sócio-econômicos há maior consciência dos verdadeiros fins da rede de “guarimbas”, onde os níveis de repúdio são mais altos.
Poderíamos inferir que esta visão da maioria dos venezuelanos, e em particular dos mais pobres, rechaça as ameaças expressas por altos dignatários dos EUA, como o vice-presidente, o secretário de Estado e o chefe do Comando Sul. Tudo isso deveria fazê-los refletir, e como lhes disse o presidente Maduro, supor que desestabilizar a Venezuela é desestabilizar toda a região.
Foi de alta significação a decisão da Unasul em Santiago. Por unanimidade, aprovaram respaldar o esforço do governo venezuelano para concertar o diálogo com todos os segmentos políticos do país, acolher a petição que fez o Executivo nacional de enviar uma comissão que participe da Conferência Nacional pela Paz, e que apresentará um informe à presidência pro-tempore. A esta decisão da Unasul temos que acrescentar a decepcionada declaração de John Kerry, o chanceler de Washington, que “reconheceu que até agora não teve êxito em suas intenções” no sentido de que os países vizinhos da Venezuela escutem sua posição contra o governo de Maduro. A América Latina é outra, é o caso de se avaliar as mudanças havidas que se manifestaram primeiro na OEA (29 votos a três: EUA, Canadá e Panamá), e depois, por unanimidade, na Unasul.
Um dos efeitos políticos do desenvolvimento de duas linhas - uma radical violenta, e outra democrática ou de moderação -, foi a divisão em dois pedaços iguais das simpatias dos opositores. Perguntados por “Pronósticos” na Grande Caracas: “No caso de realização de eleições presidenciais, em quem votaria? – (Henrique) Capriles obteria 16,5% e Leopoldo López 17,1%; e no estado de Carabobo a proporção é similar: 16,1% e 16,8%, respectivamente. Quem ficou totalmente fora, apesar de vincular-se com os radicais, foi Antonio Ledezma (prefeito metropolitano de Caracas), com 1,3% em Caracas, e 1,9% em Carabobo. E de María Corina Machado (deputada federal que se posiciona bem próxima de López) nem falar: 0,7 e 0,6. Em troca, Maduro atrai 40,3% em Caracas e 37,8%. Tal como opinamos em várias oportunidades, as ações violentas guardam relação com as divergências internas da MUD (a Mesa da Unidade Democrática, como se intitula a aliança de quase 30 partidos antichavistas).
(...)
Observação do Evidentemente: “Guarimberos” – guarimbeiros – vem de “guarimbas”, como são chamadas pelos venezuelanos as barricadas, com atos violentos, armadas pelo pessoal da ultradireita para bloquear ruas de bairros da zona Leste de Caracas, a região cuja maioria dos moradores é rica e elege prefeitos da oposição. Um exemplo é a Praça Altamira, sempre bloqueada por “guarimbas”, no município de Chacao, um dos cinco que compõem a capital e que é governado por prefeito antichavista.
Eleazar Díaz Rangel (foto) - Jornalista formado na Universidade Central da Venezuela (UCV). Ganhador do Prêmio Nacional de Jornalismo e de menções em diversas especialidades. É diretor do jornal Últimas Notícias desde 2001. Professor titular aposentado da UCV, cuja Faculdade de Comunicação Social dirigiu (1983-86). Presidente da VTV (a estatal Venezuelana de Televisão) de 1994 a 1996. Presidente da Associação Venezuelana de Jornalistas.
Tradução:
Jadson Oliveira
Comentários