VENEZUELA: “O DEBATE HOJE É COMO FREAR A VIOLÊNCIA OFENSIVA DA DIREITA NEOLIBERAL” (Parte 3)





Franck Gaudichaud (foto), membro do corpo editorial do Rebelión.org e autor de vários livros sobre América Latina, analisa a situação política na Venezuela.

“Sim ao diálogo e à paz, mas para quê e com quem? Tomara que o diálogo prioritário seja com os setores populares mobilizados...”

“Pequenas correntes, como Marea Socialista e outras fora do chavismo (libertárias, marxistas, trotskistas), propõem fazer frente à direita neoliberal adotando medidas revolucionárias: por exemplo, assumir o controle do comércio exterior, mas com fiscalização cidadã (para evitar a corrupção)...”


Por Valeria Ianni - Revista La Llamarada – entrevista reproduzida do portal Carta Maior, de 20/03/2014, dividida aqui em quatro partes. O título geral da matéria é o usado nesta Parte 3.

(Continuação)


Você se referiu criticamente ao caminho que o governo está adotando para frear a ofensiva da direita: qual seria, em sua opinião, o caminho mais eficiente para enfrentá-la?

Sem dúvida, como propõem alguns setores anticapitalistas venezuelanos, a melhor maneira de se defender é por meio do aprofundamento da revolução e das conquistas do processo; é reforçando uma visão crítica e popular, independente da burocracia ou da boliburguesi, apontando para um empoderamento desde baixo. Eu acredito que está perfeitamente justificada a intenção, por parte do governo, de colocar panos frios na violência das ruas, de fazer o chamado ao diálogo e à paz.

Agora, sim ao diálogo e à paz, mas para quê e com quem? Tomara que o diálogo prioritário seja com os setores populares mobilizados, com os trabalhadores organizados que buscam os caminhos do poder popular, com os trabalhadores do campo que querem a reforma agrária, com o povo indígena, juntamente com mais ações concretas para melhorar a situação econômica. Evidentemente, Maduro já fez alguns anúncios diante da “guerra econômica”, mas, além da “lei de preços justos”, que é positiva, foram medidas de ajuste e desvalorização.
 
Ao contrário, pequenas correntes, como Marea Socialista e outras fora do chavismo (libertárias, marxistas, trotskistas), propõem fazer frente à direita neoliberal adotando medidas revolucionárias: por exemplo, assumir o controle do comércio exterior, mas com fiscalização cidadã (para evitar a corrupção); combater fortemente a especulação e centralizar as divisas estrangeiras; intervir no sistema bancário para que a renda petroleira já não seja captada em parte pelos monopolistas; apoiar com mais decisões os conselhos comunais, a produção nacional de alimentos e um sistema de planejamento nacional democrático etc. Insisto, só estou retomando declarações de coletivos bolivarianos e anticapitalistas venezuelanos. É claro que avançar nessa direção significa também começar a pensar as contradições internas do movimento popular, assumir suas fragilidades e limitações, bem como o peso do bonapartismo político presente no PSUV, por exemplo. (Continua)

Comentários