URUGUAI RECEBERÁ PRESOS DE GUANTÂNAMO



“O presidente dos Estados Unidos quer tirar este problema de seus ombros”, declarou Mujica (Foto: Página/12)
O presidente uruguaio aceitou o pedido de seu colega dos EUA, Barack Obama: Mujica, que foi um dos líderes do movimento guerrilheiro Tupamaros e esteve detido 13 anos em duras condições antes e durante a ditadura, explicou que aceitou o pedido porque ele próprio já esteve muitos anos preso.

Matéria do jornal argentino Página/12, edição de hoje, dia 21

O Uruguai receberá prisioneiros da prisão de Guantânamo na qualidade de refugiados. O presidente uruguaio, José Mujica, aceitou o pedido de seu colega dos Estados Unidos, Barack Obama, para abrigar por dois anos cinco presos dos que estão no cárcere estadunidense localizado em Cuba. Isto converte o Uruguai no primeiro país da região em aceitar essa solicitação de Washington, confirmou Montevidéu na quinta-feira. “É um pedido por uma questão de direitos humanos. Há 120 pessoas que estão presas há 13 anos. Não viram um juiz, não viram um promotor e o presidente dos Estados Unidos quer tirar esse problema de seus ombros”, declarou Mujica. “Mas o Senado lhe exige 60 coisas, então ele pediu a muitos países se podiam dar refúgio a alguns deles e eu lhe disse que sim”, acrescentou.

Mujica, que foi um dos líderes do movimento guerrilheiro Tupamaros e esteve preso durante 13 anos, em duras condições antes e durante a ditadura entre 1973 e 1985, explicou que aceitou o pedido porque ele próprio esteve muitos anos preso. “Vêm como refugiados e o Uruguai lhes dá um lugar se querem trazer a família e tudo mais”, disse o presidente, sem especificar quantos presos viriam nem quando. “Direitos humanos é isso”, disse. A condição é que os presos permaneçam dois anos e não cruzem as fronteiras.

“Não voltam a seu país de origem porque o presidente dos Estados Unidos não faz o que quer, faz o que pode, porque há uma comissão do Senado que o monitora: ‘Isto pode fazer e isto não’”, afirmou Mujica, ao explicar por que o presidente norte-americano apenas consegue avançar no seu intento de fechar a prisão em território cubano. Consultado sobre se pediu algo em troca ao governo dos Estados Unidos, Mujica respondeu: “Eu tampouco faço favores de graça, passo o boleto”. Mas em seguida esclareceu que “isto temos que fazê-lo porque sim”. Mujica viajará este ano aos Estados Unidos para reunir-se com Obama, numa viagem oficial originalmente prevista para o ano passado e postergada por questões de agenda.

Num comunicado, a embaixada dos Estados Unidos em Montevidéu assinalou que o governo do seu país está “em consulta a vários países da região” sobre o fechamento de Guantânamo e que conversou com o governo uruguaio “dado o papel de liderança que exerce na região o presidente José Mujica”. A embaixadora dos Estados Unidos no Uruguai, Julissa Reynoso, assegurou a jornalistas que os presos que seriam selecionados para vir ao Uruguai não representam perigo algum.

Segundo o semanário (uruguaio) Búsqueda (Busca), o Uruguai receberia cinco presos durante pelo menos dois anos. Búsqueda indicou que Mujica decidiu aceitar a proposta de Obama “depois duma série de consultas e de enviar emissários aos Estados Unidos e a Guantânamo”, além de conversar sobre o tema em janeiro, durante sua última viagem a Cuba, com o presidente Raúl Castro, que também apoiou a ideia.

Continua em espanhol:

En Washington, la portavoz del Departamento de Estado, Jen Psaki, sostuvo que el secretario de Estado norteamericano, John Kerry, se comunicó el lunes (na segunda-feira) con Mujica y que uno de los temas que analiza su gobierno con Uruguay es el cierre de la cárcel de Guantánamo. “Obviamente hay un proceso en marcha sobre cómo se toman estas decisiones, lo que incluye trabajar con el Congreso y otros”, indicó.

La organización internacional Human Rights First celebró el anuncio de Montevideo, considerándolo “una señal positiva de que la administración (estadounidense) seguirá teniendo como prioridad cerrar el centro de detención de Guantánamo”. Asimismo señaló que hay “más de 70 detenidos que hace tiempo han sido absueltos por las agencias de seguridad y la inteligencia de Estados Unidos y deben ser trasladados sin demora”.

Situada en una base naval bajo administración estadounidense, que Washington alquila (aluga) a Cuba desde 1903, la prisión de Guantánamo es un símbolo de la “guerra contra el terrorismo” del ex mandatario George W. Bush. Más de 800 hombres y adolescentes pasaron por el centro desde que se creó en enero de 2002.

Obama intenta cumplir con la promesa de cerrarla que realizó a inicios de su gestión y los traslados desde la prisión se aceleraron en los últimos meses, pero aún permanecen 154 prisioneros, muchos de los cuales nunca han sido juzgados y permanecen detenidos de manera “indefinida” bajo sospechas de terrorismo que no pudieron ser probadas hasta el momento.

Según el relato de la mayoría de los liberados, durante los interrogatorios en el lugar se los sometió a maltratos como privación de sueño, exposición a temperaturas extremas, música a fuerte volumen u obligación de permanecer durante horas en posiciones incómodas. Aunque el Congreso de Estados Unidos prohíbe el traslado de presos a suelo estadounidense, extendió en diciembre la posibilidad a Obama de ordenar traslados a terceros países.


Tradução: Jadson Oliveira

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