Juremir Machado (Foto: Viomundo) |
“Sem o trabalho da
imprensa, não haveria legitimidade para a derrubada do presidente João Goulart”
Por Juremir Machado, no Facebook
- publicado em 10/03/2014
(enviado pelo companheiro Geraldo Guedes,
de Brumado-Bahia)
Estou com
livro novo. Escrevi “1964 golpe midiático-civil-militar” para me divertir.
Trabalhei como um cão, mas senti prazer. De que trata realmente meu livro?
De como jornalistas e escritores hoje cantados em prosa e verso apoiaram
escancaradamente o golpe: Alberto Dines, Carlos Heitor Cony, Antonio Callado,
Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Otto Maria Carpeaux, Rubem Braga
e outros.
Alguns,
como Cony, arrependeram-se ainda na primeira semana de abril. Outros só mudaram
depois de 1968 e do AI-5. Alguns permaneceram fiéis ao regime. Os mais
espertos, como Alberto Dines, reescreveram-se.
Como
sempre em meus livros, apresento as provas. O poeta Drummond, que deveria ser
uma antena da aldeia, só captou o senso comum conservador do seu bairro: “No
caso do Sr. Goulart a verdade é que ele pediu, reclamou, impôs sua própria
deposição”.
A lógica do poeta, bom de verso e péssimo de reflexão
social, era a do machista que culpa a minissaia da mulher pelo estupro. Jango
provocou os militares com sua obsessão por reformas, como a agrária, que só
fariam bem para o Brasil.
Alberto Dines (Foto: Viomundo) |
O caso
mais impressionante de apoio ao golpismo foi o de Alberto Dines, diretor de
redação, à época, do Jornal do Brasil. Dines, atualmente, dirige o site Observatório
de Imprensa, site de crítica de mídia. Jamais fez um bom mea-culpa.
O homem
que agora posa de decano do jornalismo comprometido com a democracia era, em
1964, um golpista a serviço do pior do Brasil: “Só podíamos dedicar um único
editorial contra cada ato ou falação de Goulart. No dia seguinte, já havia
outros para atacar”.
Dines não
pôde se conter: “Jango permitira que na vida brasileira se insuflassem tais
ingredientes que, para extirpá-los, seriam necessários não mais o ‘jeitinho’.
Desta vez, teriam de ser empregadas a força e a violência”. Alberto Dines
apoiava a queda de Jango, ansiava pelos militares, tentava ajudá-los assustando
cada vez mais a população.
Antonio
Callado, que se tornaria um ícone da resistência à ditadura, foi um medíocre
preparador da atmosfera para o golpe. Escreveu: “O triste, no episódio tão
pífio e latrino-americano da deposição de Jango, é que realmente não se pode
desejar que as Forças Armadas não o traíssem”. Callado praticou o
sensacionalismo mais barato.
Tentou
encontrar razões psicológicas para as atitudes de Jango em sua condição física:
“Ao que se sabe, muitos cirurgiões lhe garantiram, através dos anos, que
poderia corrigir o defeito que tem na perna esquerda. Mas o horror à ideia de
dor física fez com que Jango jamais considerasse a sério o conselho. Talvez por
isso tenha cometido o seu suicídio indolor na Páscoa”.
Já Carlos
Heitor Cony ajudou a escrever os editoriais “Basta!” e “Fora!”, publicados pelo
Correio da Manhã, nos quais se clama pelo desrespeito à Constituição e pela
deposição do presidente. Tudo porque Jango mexeu nos muitos privilégios dos
ricos. Dou essa palhinha. Deixo o essencial para quem ler o livro, que poderia
se chamar também origens ou consolidação da imprensa golpista.
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