VENEZUELA/AMÉRICA LATINA: A AMEAÇA FASCISTA



Maduro numa manifestação chavista, ontem terça, diante do Palácio Miraflores (Foto: AFP/Página/12)
Para os Estados Unidos, a autodeterminação venezuelana e seus extraordinários esforços a favor da unidade da Nossa América equivalem a um intolerável e inadmissível desafio.

Um castigo exemplar, sempre dentro dos marcos da legalidade vigente, e a ativa mobilização das massas chavistas para sustentar a Revolução Bolivariana é o único caminho que permitirá suplantar o perigo dum assalto fascista ao poder.

Por Atilio A. Boron (*), cientista político argentino – reproduzido do jornal Página/12, edição de hoje, dia 19

A escalada desestabilizadora que atualmente sofre a Venezuela bolivariana tem um objetivo não negociável: a derrubada do governo de Nicolás Maduro. Não há nada de interpretação nesta afirmação. Foi expressa em reiteradas ocasiões não só pelos manifestantes da direita, como por seus principais líderes e inspiradores locais: Leopoldo López e María Corina Machado. Em algumas ocasiões se referiram a seus planos utilizando a expressão que usa o Departamento de Estado (dos Estados Unidos): “Mudança de regime”, forma amável de se referir a “golpe de Estado”. Esta feroz campanha contra o governo bolivariano tem raízes internas e externas, intimamente imbricadas e solidárias num objetivo comum: por fim ao pesadelo instaurado pelo comandante Hugo Chávez desde que assumiu a presidência, em 1999.

Para os Estados Unidos, a autodeterminação venezuelana – afirmada sobre as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo – e seus extraordinários esforços a favor da unidade da Nossa América equivalem a um intolerável e inadmissível desafio. Para a oposição interna, o chavismo significou o fim de sua coparticipação no saque e pilhagem organizados pelos Estados Unidos e que tiveram os líderes e organizações políticas da Quarta República como seus sócios menores e operadores locais. Esperavam uns e outros a derrota do chavismo uma vez morto o comandante, mas com as eleições presidenciais de 14 de abril de 2013 suas esperanças se esfumaram, ainda que por um percentual muito pequeno de votos. A resposta desses falsos democratas foi organizar uma série de distúrbios que custaram a vida de mais de uma dezena de jovens bolivarianos, bem como a destruição de numerosos edifícios e propriedades públicos. Se aplacaram porque a resposta do governo foi muito clara e com a lei nas mãos e, ademais, porque confiavam em que as eleições municipais de 8 de dezembro - que conceberam como um plebiscito -, lhes permitiriam derrotar o chavismo para exigir de imediato a destituição de Maduro ou um referendo revogatório antecipado. A jogada lhes saiu mal porque perderam por quase um milhão de votos e nove pontos percentuais de diferença.
Leopoldo López, após discursar para seus partidários, se entrega à Guarda Nacional Bolivariana numa praça de Caracas (Foto: AFP/Página/12)
Atônitos ante o inesperado do resultado – que pela primeira vez oferecia ao governo bolivariano a possibilidade de governar dois anos e administrar a economia sem ter que se envolver em virulentas campanhas eleitorais – peregrinaram por Washington para receber conselhos, dinheiro e ajudas de todo o tipo para seguir levando adiante o plano. Agora a prioridade era, como exigira Nixon para o Chile de Allende em 1970, “fazer fritar a economia”. Daí as campanhas de desabastecimentos programados, segundo recomenda o expert da CIA Eugene Sharp, a especulação cambial, os ataques na imprensa onde as mentiras e o terrorismo midiático não conheciam limites e, em seguida, “esquentar as ruas” buscando criar uma situação similar à de Benghazi na Líbia que desbaratasse por completo a economia e gerasse uma gravíssima crise de governabilidade que tornasse inevitável a intervenção de alguma potência amiga, que já sabemos quem é, que acudisse em auxílio para restaurar a ordem. Nada disso sucedeu, porém não cessaram nos seus propósitos sediciosos. López se entregou à Justiça e é de se esperar que esta faça cair, sobre ele e sobre Machado, todo o peso da lei. Levam várias mortes em suas mochilas e o pior que poderia acontecer para a Venezuela seria que o governo ou a Justiça não estivesse alerta para o que se oculta dentro do ovo da serpente. Um castigo exemplar, sempre dentro dos marcos da legalidade vigente, e a ativa mobilização das massas chavistas para sustentar a Revolução Bolivariana é o único caminho que permitirá suplantar o perigo dum assalto fascista ao poder que colocaria um sangrento fim na gesta bolivariana. E o que está em jogo não é somente o futuro da Venezuela, mas, indiretamente, o de toda América Latina.

* Diretor do PLED, Centro Cultural da Cooperação Floreal Gorini.

Tradução: Jadson Oliveira

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