Marcha das mulheres venezuelanas foi uma das mobilizações populares em apoio à Revolução Bolivariana nesses últimos dias conturbados (Foto: AVN) |
Nos últimos dias voltaram a
desnudar outra verdade por demais sabida, replicada no resto dos cenários da
região: o destacado papel que cumprem os meios de comunicação, tanto nacionais
como internacionais, nos intentos de desestabilização...
Por Agustín Lewit (*), no jornal argentino Página/12, edição de hoje, dia 25, com o título “O que mostra a
Venezuela” (o título acima é deste blog)
A Venezuela
ocupa, desde um pouco mais de uma década, um ponto nevrálgico da geopolítica
continental. Foi lá, nessa nação meio caribenha e meio sul-americana, onde nos
finais da década de 90 começou a se abrir a brecha por onde se vislumbraria
desde então a possibilidade dum novo tempo, não apenas para aquele país, mas
para grande parte da região. Desde a sua consolidação, dito processo atuou real
e simbolicamente como o motor do que – assumindo os riscos de toda generalização
– chamamos uma nova época no subcontinente. Por ocupar esse centro, é lá, em seu
incerto e convulsionado presente, onde se dirime também grande parte do futuro
regional.
O dito não
é de forma alguma um exagero: assim como a Revolução Bolivariana operou como a
condição para a possibilidade de muitos dos novos processos regionais, uma
queda da mesma – seja de que maneira for – significaria sem dúvidas colocar em
perigo todas essas experiências. Basta imaginar a Unasur ou a Celac sem a
participação venezuelana tal como ocorreu até então. Nem falar de blocos como a
ALBA ou o Petrocaribe, de fundamental apoio para muitas nações caribenhas e cujo
funcionamento depende de maneira crucial do governo de Maduro.
Mas também
a Venezuela, por ser talvez o processo onde as contradições ficaram mais expostas
e tensionadas, projete de maneira potencializada fenômenos presentes no resto
das experiências políticas surgidas nos últimos anos na região.
Por um
lado, os violentos acontecimentos das últimas semanas nos falam outra vez da
exasperação duma direita que não encontra as vias eleitorais para ter acesso ao
poder e apela, por isso mesmo, a ações golpistas. Sempre é bom recordar os 18
triunfos do chavismo nas últimas 19 eleições e os 10 pontos de vantagem que obteve
nas últimas eleições municipais, há apenas dois meses; quer dizer, é uma força
que se apresenta até agora francamente invencível nas urnas. Também nos últimos
dias voltaram a desnudar outra verdade por demais sabida, replicada no resto dos
cenários da região: o destacado papel que cumprem os meios de comunicação,
tanto nacionais como internacionais, nos intentos de desestabilização, operando
como caixa de ressonância da ira de setores minoritários e construindo,
mediante obscenas distorções e montagens midiáticas, cenários bastante distanciados
da realidade. É verdade que os setores populares venezuelanos têm algumas
reclamações contra o governo, sobretudo vinculadas às dificuldades para
adquirir certos bens básicos. Porém o agente por excelência dessas novas
jornadas violentas originou-se, sem dúvida alguma, nos bairros mais ricos dos
grandes centros urbanos, conhecidos localmente como “el sifrinaje”.
Continua
em espanhol:
Y, finalmente, la figura de Leopoldo López y sus vínculos con EE.UU.
echaron (jogaram) nuevamente luz sobre la silenciosa – y a veces no tanto –
injerencia del país del Norte en la región, que se mueve estratégicamente
brindando apoyo financiero a los distintos opositores locales. Conviene no
soslayar (minimizar) aquí el dato (o dado) de que Venezuela posee la principal
reserva comprobada de hidrocarburos (petróleo) del mundo, siendo el tercer
abastecedor de crudo de la nación estadounidense. Con ese antecedente deben
leerse las recientes declaraciones de Obama y su secretario de Estado,
manifestando “profunda preocupación” por la violencia en Venezuela.
Desde un plano más general (geral), los últimos acontecimientos en la
patria chavista confirman lo que parecería ser a esta altura una regla
implícita de la política latinoamericana contemporánea: si los gobiernos
conservadores tienen que convivir siempre con un cierto nivel de protesta
social, los gobiernos progresistas, por su parte, se encuentran condenados a
vivir con el acecho constante de la derecha, la cual – con formas más o menos
explícitas, dependiendo de la coyuntura política de cada país – termina
encauzando su accionar en intentos de desestabilización, potenciados por el
accionar de los medios (meios de comunicação) y por el gran dominio que estos
sectores poseen aún sobre los distintos mercados. Esa actitud constante de las
fuerzas conservadoras marca el verdadero desafío para todos los gobiernos que
se encuentran batallando por alterar las bases de sus realidades: cómo avanzar
transformando la realidad y hacer frente a una resistencia que siempre amenaza
con desbordarse y llevarse puesto al sistema democrático mismo. En definitiva,
es la propia capacidad de la democracia de conjugar inéditas experiencias de
transformación con fuerzas que se resisten al cambio (à mudança) por todos los
medios la que está en juego. Las últimas semanas le han enrostrado con furia
esta situación al gobierno de Maduro, quien dio algunos indicios de haber
comprendido su gravedad. En ese sentido, la apertura de diálogos con algunos
sectores de la oposición parece avanzar en la búsqueda de ese difícil y
contingente equilibrio, tan necesario para Venezuela como para el resto de la
región.
*
Investigador del Centro Cultural de la Cooperación.
Tradução:
Jadson Oliveira
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