VENEZUELA: "GUERRA ECONÔMICA" E ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Propaganda eleitoral de candidatos do chavismo nas eleições municipais em Caracas; pleito é "referendo" para processo bolivariano (Foto: EFE/Opera Mundi)
Pleito indicará perigos e oportunidades e servirá para medir o primeiro ano sem Chávez da Revolução Bolivariana


Por Juan Manuel Karg, no Opera Mundi, de 04/122013

No próximo domingo (08/12) acontecem na Venezuela importantes eleições municipais, no marco de um momento econômico convulsionado, com o governo de Nicolás Maduro tentando frear a especulação e o aumento dos preços fomentados por setores de poder concentrados da economia venezuelana. Por sua vez, a direita – representada pela MUD (Mesa da Unidade Democrática), coalizão de partidos da oposição – tenta plebiscitar a administração de Maduro nas urnas, procurando “centralizar” eleições naturalmente descentralizadas (já que serão eleitos prefeitos e vereadores).
 
Guerra econômica: especulação, desabastecimento e aumento de preços

A Venezuela vive um momento econômico sensível, no qual o governo de Maduro enfrenta a bagunça produzida pela especulação empresarial – e a avareza incalculável desses setores. O caso da rede de lojas de eletrodomésticos Daka é paradigmático porque ilustra um mecanismo parasitário de usura permanente, que também se dá em outras cadeias: comprando os eletrodomésticos no exterior, no dólar oficial (outorgados pelo Estado por meio da Cadivi [Comissão de Administração de Divisas]), estes empresários aumentavam o preço dos produtos, fazendo com que seus preços subissem astronomicamente – até 800%. Assim, montavam um “motor” de ganância contínua.

 
O governo interviu na Daka contra essa usura. Ordenou que os preços fossem baixados para que o povo pudesse ter acesso aos produtos, o que deu início a inumeráveis filas na frente dessas lojas para comprar os produtos a um preço muito menor do que se oferecia. Aqui aparece outro possível problema – derivado do primeiro –, interessante para analisar os processos de mudança social: o fenômeno do consumismo ilimitado que se deu no caso da compra compulsiva de eletrodomésticos nessas lojas depois das promoções. Despertou-se uma verdadeira febre de consumo. O próprio Maduro enxergou esse problema – secundário, mas real – e pediu à população venezuelana que promova uma cultura de economizar que não alimente o consumo irracional.
 

O momento da direita e o papel de Maduro
 

A direita venezuelana vê essas eleições como “seu” momento. Diz e repete, na imprensa local e internacional, o chavão “É agora”. A análise é concreta e parte de questões específicas:
 

a) Efetivamente, estiveram perto de atingir seu objetivo em abril, quando [Henrique] Capriles ficou a apenas 1,5% de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais.
 

b) A “guerra econômica” tem um impacto cotidiano. Vem acompanhada de uma “construção” midiática: “falta” é a palavra eleita para ilustrar o desabastecimento, provocado pelos empresários para culpar o governo.

Entretanto, aqui há um dado interessante: Maduro não apenas voltou a ter iniciativa, com uma intervenção estatal pertinente apoiada pelas organizações sociais e políticas, mas também surpreendeu a “classe política” da Venezuela com essas medidas. Por quê? Porque passou para o lado da ofensiva: está construindo sua liderança com essas medidas, acompanhado pelo governo da rua (iniciativa pela qual percorre “a pé” todos os estados do país), e pela reativação e dos conselhos comunais e das comunas – o que foi uma das últimas exigências de Chávez em vida, com o já famoso “Golpe de Timón”. Não ficou de braços cruzados e, com audácia, colocou em debate o papel dos empresários venezuelanos na estrutura produtiva de seu país.

E as eleições do 8D?

É nesse contexto que, neste 8 de dezembro, são convocadas eleições municipais no país. Serão uma nova medição de forças de dois modelos antagônicos -  para além do “verniz” progressista-discursivo de Capriles. Segundo os dados mais recentes da consultora ICS (International Consulting Services), os candidatos da coalizão governista Gran Polo Patriótico estarão disputando – e com boas chances – as principais prefeituras.

Um exemplo concreto: Ernesto Villegas, ex-ministro de Comunicação, poderia conseguir a prefeitura metropolitana da Grande Caracas. Ali, até o momento, poderia discutir-se um possível empate técnico com o seu atual prefeito, Antonio Ledezma (líder anti-chavista), com uma leve vantagem para Villegas (44% x 43%). Por sua vez, na prefeitura do município Libertador (o maior dentre os cinco municípios de Caracas), Jorge Rodriguez conseguiria ser reeleito, vencendo Ismael García (52% x 45% do candidato da MUD); e na cidade de Maracaibo (capital de Zulia, o estado mais forte do país, e a segunda maior cidade, depois da capital) haveria também – de acordo com a mesma pesquisa – uma leve vantagem de Pérez Pirela sobre Eveling Trejo (45% x 43%, para o candidato do GPP).

Mesmo sendo eleições municipais, terão seu desenlace observado minuciosamente por analistas internacionais e pelos meios de comunicação de massa, que buscarão constatar – como já tentaram em ocasiões anteriores – o “início do fim” do chavismo, com a intenção de promover em um futuro próximo a revogação do mandato de Maduro. Por outro lado, as forças progressistas – e revolucionárias – do mundo estarão atentas também ao processo: apesar de que não “está em jogo” a sobrevivência de um dos projetos de mudança social mais importantes em uma escala mundial, o 8D servirá como “termômetro”. Indicará perigos e oportunidades, e servirá para medir o primeiro ano sem Chávez da Revolução Bolivariana.


* Juan Manuel Karg é cientista político pela UBA (Universidade de Buenos Aires) e pesquisador CCC. Artigo originalmente publicado na Alai (Agência Latino-americana de Informação)

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