SLAVOJ ZIZEK: O FRACASSO SOCIALISTA DE MANDELA

Obama e Raul Castro se cumprimentam durante as homenagens a Nelson Mandela: quem estava do lado certo da História?

PS do Viomundo: Alguns jornalistas descerebrados, que se encantam com a oratória de Obama, se esquecem do essencial. Os Estados Unidos deram décadas e décadas de sustentação ao regime do apartheid, aberta ou clandestinamente. Enquanto isso, milhares de cubanos morreram na luta contra os racistas africanos. Ao defender o regime do MPLA em Angola, deram uma sova militar tão grande no regime do apartheid que contribuíram para seu enfraquecimento e isolamento. Quem estava do lado certo da História: os antecessores de Obama ou Fidel Castro?

Por Slavoj Zizek, em The Stone (reproduzido de Viomundo, com o título "Slavoj Zizek: o herói que esconde a máscara da derrota amarga", de 10/12/2013)




Nas duas últimas décadas de sua vida, Nelson Mandela foi celebrado como modelo de como a libertação de um país de seu colonizador pode ser feita sem que se caia na tentação do poder ditatorial e na pose anticapitalista.

Em resumo, Mandela não era Mugabe, a África do Sul continuou sendo uma democracia pluripartidária com imprensa livre e economia vibrante bem integrada ao mercado global e imune às ligeiras experiências socialistas.

Agora, com sua morte, sua estatura como homem santo e sábio parece confirmada para a eternidade: existem filmes de Hollywood sobre ele – ele foi interpretado por Morgan Freeman que, por sinal, também fez o papel de Deus em outro filme; astros do rock e líderes religiosos, atletas e políticos, de Bill Clinton a Fidel Castro, estão todos unidos em sua beatificação.

É muito simplista criticar Mandela por ter abandonado a perspectiva socialista depois do fim do apartheid: mas ele realmente tinha escolha?

E essa é toda a história? Dois fatos-chave continuam escondidos por esta visão celebratória.

Na África do Sul, a vida miserável da maioria pobre em geral continua a mesma de antes do apartheid, e o crescimento dos direitos civis e políticos é contrabalançado pelo aumento da insegurança, da violência e do crime.

A grande mudança é que à antiga classe branca dominante se somou a nova elite negra.

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