POCHMANN: ESTAMOS ASSISTINDO AO FIM DA IMPRENSA COMO A CONHECEMOS


“A sociedade está aprendendo a identificar o potencial da rede, que parece ser enorme” (Foto: Fórum)

"Parece que os jornais assumiram aquilo que eles criticavam na imprensa comunista", sustenta o economista ao afirmar que os periódicos "escrevem para seus militantes"


Por Marcelo Hailer, no sítio da revista Fórum, de 26/12/2013

Marcio Pochmann, economista e professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudo Sindicais e de Economia do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), recebeu a reportagem da revista Fórum para conversar sobre o primeiro ano de sua gestão à frente da Fundação Perseu Abramo (FPA). Ele também falou sobre a cobertura política da imprensa e o papel das redes no ativismo.

Segundo Pochmann, a imprensa clássica não dialoga com a geração atual, mas apenas com “seus militantes”.

Seguem algumas perguntas e respostas selecionadas por este blog Evidentemente:


Fórum Qual tem sido o papel da rede/internet no embate no político?

Pochmann – O papel da rede não é, está sendo. É um processo de construção e essa construção é permeada de idas e vindas. A sociedade está aprendendo a identificar o potencial da rede, que parece ser enorme, e a forma como isso pode ser usado por um lado e pelo outro. A nossa preocupação em relação às mídias digitais é em torno da regulação, a construção de um marco civil.

Fórum Você acredita na aprovação do Marco Civil com a neutralidade de rede?

Pochmann – Se não for pra isso, eu não sei qual é o sentido de ter um Marco Civil.


Fórum Recentemente, tivemos a descoberta da máfia dos fiscais a partir de uma investigação da atual gestão municipal de São Paulo. Posteriormente, a cobertura jornalística acabou misturando as responsabilidades da administração Haddad e da gestão Serra-Kassab. Como encarou essa cobertura?

Pochmann – É uma cobertura coerente com a forma de imprensa que temos no Brasil. Incoerente se ela tivesse dado uma certa imparcialidade, o que não aconteceu.

Trabalhei na gestão da Marta (2001-2004), é impressionante a presença da chamada grande imprensa. Encerrado o governo da Marta, iniciou-se outro governo e praticamente desapareceu. Quando tinha um problema na Secretaria de Transporte, a chamada era “O governo da Marta está com um problema assim…”, depois que mudou o governo era “Secretaria X…”, nunca estava vinculado ao prefeito. Na verdade, quando você define a pauta, já é uma coisa muito ideológica. Então, vejo com coerência, incoerência é a nossa de imaginar que a imprensa faria uma cobertura imparcial.

Fórum Há 20 anos Perseu Abramo escreveu o ensaio “Padrões de Manipulação da grande imprensa” e lá ele já identifica a imprensa enquanto uma força política. Acredita que hoje vivemos isso de maneira aprofundada?

Pochmann – Parece que os jornais assumiram aquilo que eles criticavam da imprensa comunista. Você tinha o Pravda, que sempre tinha uma crítica ao capitalismo, ou seja, era um jornal que escrevia para os seus militantes. Os jornais que temos hoje também escrevem para os seus militantes, escrevem o que eles querem ouvir, e por isso esses jornais estão com dificuldades para ampliar o seu número de leitores, é por isso que os jovens não interagem com esses jornais. Mas eles têm um público cativo, e para manter esse público cativo ficam alimentando uma visão que é, a meu ver, insustentável, isso não tem futuro. Estamos assistindo ao fim desse tipo de imprensa. Está em construção uma outra imprensa, uma outra cobertura, que é a coisa digital e isso também está em construção.

Clicar aqui para ler a entrevista completa. Ele fala de outros assuntos. Sobre as manifestações de junho, afirma que não se pode fazer uma leitura dos atos tendo como referencial as organizações sociais do século XX.

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