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(Foto: Página/12) |
Para
Verbitsky, há apenas uma mudança de tom nos discursos do principal
representante da igreja, mas não uma pretensão real de alteração em seus
fundamentos.
Por PEDRO IVO TOMÉ, de São Paulo, de 05/12/2013 (enviado pelo jornalista Otto Filgueiras, intitulando sua remessa com "O santo da ditadura" e com o título: "Pontífice prega uma coisa e fez outra, afirma desafeto do papa")
"O
cão." Esse é o apelido do jornalista e colunista político argentino
Horacio Verbitsky, 71, conhecido pela investigação sobre a ditadura
militar em seu país (1976-83).
Na semana passada, o jornalista veio a São Paulo para participar de uma audiência da Comissão da Verdade.
Verbitsky
também é autor de "O silêncio", no qual afirma que o jesuíta Jorge
Mario Bergoglio, hoje papa Francisco, foi cúmplice da ditadura argentina
ao denunciar sacerdotes aos militares.
O
papa e mesmo alguns ativistas de direitos humanos negam a acusação. À
Folha o jornalista fez uma análise das propostas de mudança na igreja
feitas pelo papa e questiona se serão profundas ou apenas "cosméticas".
"No
discurso de Bergoglio, tudo é maravilhoso e eu aplaudo com entusiasmo.
Mas há uma contradição entre o que ele fez na Argentina e o que ele diz
estar planejando hoje para a igreja", afirma.
Para
Verbitsky, há apenas uma mudança de tom nos discursos do principal
representante da igreja, mas não uma pretensão real de alteração em seus
fundamentos.
"No
tema da abertura aos homossexuais, a doutrina da igreja é muito clara a
respeito: há de ser compreensiva com os que buscam se aproximar de
Deus. Mas, nos termos da igreja, isso significa deixar de ser
homossexual."
Quando
se discutiu na Argentina a lei que permite aos homossexuais casar e
adotar filhos, Bergoglio encabeçou a oposição à lei e escreveu uma carta
a uma congregação religiosa instando-a a resistir, afirmando que essa
lei era "parte do plano do diabo para destruir a igreja."
No
mês passado, o papa divulgou um documento escrito só por ele. "Não há
mudança de doutrina. A posição da Igreja não muda a respeito do aborto e
do celibato sacerdotal", diz o jornalista, que também questiona a
posição de Bergoglio nos casos de pedofilia envolvendo sacerdotes.
"Na
Argentina, há o caso do sacerdote Julio César Grassi, condenado a 15
anos de prisão por pedofilia e preso em setembro. Bergoglio o defendeu
permanentemente e contratou um dos juristas mais renomados do país para
defendê-lo. Até agora, Grassi, mesmo preso, não perdeu o estado
sacerdotal."
Apoiador
dos governos de Néstor Kirchner (2003-07) e de Cristina, atual
presidente argentina, o jornalista diz acreditar que as políticas de
combate à pobreza dos dois "implicaram no mesmo fenômeno de luta contra
pobreza que o de Lula no Brasil".
"Bergoglio
questionava essas políticas, dizendo que eram clientelistas,
questionava os modos autoritários de [Néstor] Kirchner, quando ele,
Bergoglio, sempre foi autoritário em toda sua vida."
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