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Emiliano José (Foto: Carlos Augusto (Guto Jads) - Jornal Grande Bahia) |
“Nossos depoimentos não são meros
relatos individuais. Somos a voz dos mortos e assassinados que lá atrás
plantaram um sonho junto conosco”, define Emiliano.
Por Maira
Cortes, no sítio web da Tribuna da
Bahia, de 05/12/2013, com o título “Torturados pela ditadura contam à
Comissão da Verdade o que passaram” (o título acima é deste blog; matéria
reproduzida aqui a partir de divulgação feita pelo jornalista Oldack Miranda no Facebook; as quatro fotos abaixo são de Adenilson Nunes e Carla Ornelas/GOVBA)
Há 40
anos, o Brasil viveu um dos momentos mais tenebrosos e silenciosos de toda a
sua história. Após o governo democrático, muitas verdades passaram a ser ditas,
sobretudo, por quem sofreu as consequências de se opor àquele regime. Com
riqueza de detalhes da época, a jornalista Mariluce
Moura abriu, ontem (dia 4), o segundo dia de Audiência Pública pela
Comissão Estadual da Verdade da Bahia, realizada no salão nobre da Reitoria da
Universidade Federal da Bahia, no Canela. O deputado federal Emiliano José e um dos fundadores do
antigo Sindipetro, Marival Nogueira
Caldas, formaram a mesa de depoentes. (A comissão baiana é presidida por Joviniano Neto - foto acima -, incansável militante em favor dos direitos humanos).
A
jornalista Mariluce, além de ter sido presa e torturada enquanto estava
grávida, é viúva de Gildo Macedo Lacerda, sequestrado e morto em dependências
do Estado brasileiro e cujo corpo até hoje está desaparecido. “Fomos presos e
torturados no Quartel do Barbalho. Gildo logo foi levado para Recife, onde foi
torturado e executado no dia 28 de outubro de 1973. Dias depois, um capelão do
Exército me entregou um jornal com a notícia da morte dele”, relatou Mariluce.
A versão
oficial conta que Gildo teria sido assassinado em um suposto tiroteio no centro
da cidade de Recife. “A verdade apareceu e o Governo deu a anistia a
Gildo, pediu desculpas e reconheceu que ele foi morto. A luta agora é para que
haja uma declaração de quem provocou a morte dele”, espera a jornalista.
O
depoente seguinte, o jornalista, escritor e deputado federal Emiliano José,
também não poupou o público dos detalhes vividos. Ele não só relembrou momentos
de tortura (...) no Quartel do Barbalho, como também acusou o superintendente
da Polícia Federal, Luiz Artur de Carvalho, de também torturar os presos.
“Nossos depoimentos não são meros relatos individuais. Somos a voz dos mortos e
assassinados que lá atrás plantaram um sonho junto conosco”, define Emiliano,
em referência à Comissão da Verdade.
Emiliano
conta que a ditadura primeiro torturava e depois perguntava. Perguntas essas
que, para o sindicalista Marival, não faziam o menor sentido. Mesmo sem vínculo
partidário, ele foi preso e torturado por ser líder sindical. Fechando os
depoimentos no evento em Salvador, o sindicalista conta que “os torturadores
perguntavam qual o nosso partido político. Quanto mais a gente negava, mais
tapa no rosto a gente levava. Ou seja, sempre havia reação brusca se as
respostas não fossem do agrado deles”.
Marival
Nogueira acusou a Igreja Católica por avalizar as ações militares, deixando de
agir mais em favor do povo. Intermediando o depoimento do sindicalista, o
diretor-presidente da Tribuna, Walter Pinheiro, integrante da Comissão
da Verdade da Bahia, rebateu a afirmação, revelando que é de conhecimento de
todos que inúmeros religiosos acolheram os perseguidos do regime militar.
Assim
como Marival revelou ainda que outros sindicalistas também foram torturados
durante a ditadura militar. A próxima audiência pública deverá acontecer na
cidade de Vitória da Conquista, ainda sem data definida. As cidades escolhidas
têm relação direta com as ações de maior repressão do regime militar.
THEODOMIRO, HOJE JUIZ, ÚNICO
CONDENADO À MORTE
De acordo
com matéria também da Tribuna da Bahia,
de ontem, dia 4, assinada por Rivânia
Nascimento, sob o título “Comissão Estadual da Verdade ouve pessoas presas durante
a ditadura”, no primeiro dia da audiência pública prestaram depoimento:
O então
prefeito de Salvador no ano de 1964, Virgildásio
de Senna, preso durante o regime militar por 60 dias;
Theodomiro Romeiro dos Santos (foto) – juiz aposentado do Trabalho
que entrou para a história como o primeiro condenado à morte na República, e
depois anistiado –, que falou da sua participação em grupos de contestação ao
regime e das torturas e perseguições sofridas à época;
O
ex-militante Luiz Contreiras,
engenheiro e ex-dirigente do Partido Comunista Brasileiro, que fez um relato
minucioso do seu envolvimento nas ações e o sofrimento que lhe foi imposto
pelos órgãos de repressão;
O artista
plástico Juarez Paraíso, que fez
entrega de um documento com suas lembranças do período da ditadura;
Olderico Barreto (foto), preso e torturado, irmão de
José Barreto, que foi assassinado junto com Carlos Lamarca, em Brotas de
Macaúbas; e
Eliana Rolemberg, socióloga, presa, torturada e
exilada na década de 70.
Este blogueiro/repórter já fez várias matérias relacionadas
com o tema, especialmente no segundo semestre de 2011, quando dos eventos que
marcaram os 40 anos do assassinato do capitão do Exército Carlos Lamarca e
Zequinha Barreto. Deixo aqui links para duas matérias:
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