A: Me escuta… ter um carro incrível em Los Angeles, viver cercado de estúdios, filmar dois filmes por ano, casa em Santa Mônica, esse fim de semana é de sol em Santa Mônica, tranquilo, lancha, ski, não te interessa isso? Não trabalharias…
D: Eu não sinto essa pulsão nesse momento para nada. Hollywood não me tira o sono, o Oscar não me tira o sono. (…) Me criticaram muito porque dizer que não tinha vontade de ir ao Oscar, não porque não tinha vontade, mas “como vai dizer que não tem vontade de ir ao Oscar? Cê tá brincando!’ Sim, não tenho vontade de ir no Oscar, qual é o problema? Por que tenho que ir ao Oscar? Por quê?
A: Por ser o Oscar.
D: Mas o que creem que é o Oscar? Que querem que aconteça? Eu já fui, já vi, já deu. Já vi, não fiquei muito feliz e estou aqui. A fantasia que se tem lá de fora, que é um ambiente, uma coisa (…) é exatamente por que digo que é cholo isso (Nota do Evidentemente: acho que "cholo" pode ser traduzido como "falso"). Não é sério. É cholo, entende? Tem a ver mais com a parafernália que rodeia a coisa do que com a coisa em si mesmo. A mim, ofereceram só uma vez uma coisa contundente e séria, à qual eu disse que não e depois começou a me incomodar um pouco porque não aceitavam da parte do diretor um não como resposta.
A: O que era?
D: Era um filme que fizeram que depois se chamou Chamas da Vingança, com Denzel Washington.
A: Quem era o diretor?
D: Tony Scott, o irmão do Ridley Scott.
A: Eu tenho que te dizer que não, hein…
D: Mas espera um segundo, antes de fazer essa cara… me escuta, me deixa argumentar. Me ofereceram fazer um traficante mexicano. E por que querem que eu faça um traficante mexicano? Parece que todos os traficantes são latino-americanos… no país que tem o maior consumo da face da Terra? Primeiro, não gostei. E, segundo, eu queria vir pra casa. Fazia seis meses que estava fazendo teatro em Madri. Queria vir pra casa ver minha mulher e meus filhos. Me encheu o saco porque a gente me disse que não aceitavam um não como resposta. E automaticamente, depois de uma semana eu dizendo não, não, não, todos os dias estavam na porta do teatro, depois disso passaram à outra faceta, que era “é uma questão de dinheiro? Mas isso não é nenhum problema”. Não, não! Não me interessa!
A: Mas você ganharia mais dinheiro.
D: E? Pra que serve?
A: Para viver melhor.
D: Melhor do que eu vivo? Eu tomo dois banhos quentes por dia. Estava indo bem no teatro, estava trabalhando com gente genial, vinham me abraçar na rua. A ambição pode te levar a um lugar muito obscuro, muito desolador. Eu sou o mais feliz que posso sem olhar para outro lado. (…) Tenho uma situação privilegiada, as coisas estão bárbaras, as pessoas me querem na rua, vejo sorriso, as pessoas vêm e me abraçam… o que mais você quer? Pra que mais? (…) Sou um cara muito privilegiado, tenho muita sorte. Me convidam pra trabalhar e se abrem as portas há mais de 30 anos as pessoas confiam em mim. (…) Se vou querer mais do que isso, se vou ambicionar mais do que isso, é porque estou vendo outro filme. Eu sou o mais feliz que posso ser.
Gustavo Mini explica que fez uma postagem anterior com diálogos errados da mesma entrevista, embora o sentido geral seja semelhante. Postou novamente com as correções, como está acima. Quem quiser ver sua explicação e, inclusive, o vídeo com a entrevista, é só clicar aqui.
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