O episódio do coronel da PM (Reynaldo Simões Rossi) terá sido uma armação?, pergunta o articulista (Foto: Internet) |
Por Alipio
Freire, no Brasil de Fato, de 29/10/2013 (enviado pelo
companheiro Otto Filgueiras, jornalista baiano vivendo há muitos anos em
SP; acrescentei no título a parte referente aos black blocs)
Cantarei versos de
pedras./ Não quero palavras débeis para falar do combate./ (...)/ Prefiro o
punhal ou foice às palavras arredias./ Não darei a outra face.
Assim escreveu a poeta gaúcha Lara de Lemos,
que conheceu como poucos o caminho das pedras – presa e interrogada que foi,
pela polícia política de Porto Alegre, depois do golpe de 1964. Passados 50
anos, o poema de Lara de Lemos continua atual.
Durante passeata na noite da sexta-feira
passada (25 de outubro), em São Paulo, black blocs teriam supostamente agredido
o coronel da Polícia Militar Reynaldo Simões Rossi – também supostamente uma
flor de candura. E o poema nos ocorreu logo em seguida, com a manifestação de
um certo humanismo extemporâneo e desastrado que, orquestrado pela grande mídia
comercial, acabou por invadir os corações e mentes de alguns companheiros,
camaradas e entidades de esquerda, galgando, por fim, a rampa do
Planalto.
Deixemos de lado – como sugere Lara – as palavras arredias:
O que é, que métodos utiliza e a que/quem
serve a PM, sabemos de sobra. Impossível qualquer solidariedade, enquanto assim
for e se comportar a corporação.
Quanto ao movimento Black Bloc, este sugere algumas preocupações.
Entendemos seu surgimento no Brasil, consequencia da
profunda desigualdade social (verdadeiro apartheid); da violência dos agentes
do Estado (particularmente da PM, muitas vezes agindo em parceria com o crime
organizado), e que costumam ter como alvo os jovens dos bairros populares e de
baixa renda das periferias (sobretudo, os negros). Isto, por si, legitima sua
violência. Mais ainda: faz com que esta violência seja justa: legítima defesa.
Mas, para uma ação política ser adequada e
eficaz, não é suficiente que seja legítima/justa – a lutarmada dos anos
1960-1970 ilustra bem o que pretendemos dizer. E o dizemos com a tranquilidade
de quem dela participou, não se arrependeu, mas que foi capaz de autocrítica
política (jamais moral). As profundas mudanças imprescindíveis ao País
necessitam muito mais do que coragem, pois não carecem de heróis, mitos, ou
mártires, mas de programa e organização, capazes de serem entendidos e
assumidos pela classe trabalhadora (os assalariados) e o povo (os demais
explorados e oprimidos). Não carecem de guias geniais dos povos, mas de quadros
capazes de traçar estratégias e táticas adequadas à nossa realidade.
Lembramos
aqui Bertold Brecht: “Triste país aquele que necessita de heróis”.
E é exatamente neste ponto, que os amigos do Black Bloc
falham. Sua prática os isola da maioria da população, que ainda se pauta por
“dar a outra face”, e é ainda incapaz de perceber as muitas violências a que é
submetida diariamente pelos “caprichos” do grande capital. Isto permitiu, entre
outras coisas, que diversos jovens fossem enquadrados na famigerada Lei de
Segurança Nacional, fazendo renascer – com o apoio e/ou indiferença da maioria
da sociedade – esse instrumento de terror, que já deveria ter sido abolido da
nossa legislação.
E mais: como para o tipo de prática que
escolheram, são obrigados a usar os rostos cobertos, cria-se um terreno fértil
para a infiltração de todo tipo de provocadores e agentes do inimigo, o que nos
permite a dúvida: o episódio do coronel da PM terá sido uma armação?
Comentários
Estudantes baianos expulsão Demétrio Magnoli da Flica 2013, sob protestos de racismo!!!
http://youtu.be/0O205_61xys