Apesar de tentativas de golpe em vários dos países que têm governos
progressistas – entre eles a Venezuela, a Argentina, a Bolívia, o
Equador, Honduras e Paraguai (nestes dois últimos com sucesso) –, os EUA
(hoje) têm que enfrentar mecanismos regionais que atuam para dirimir os
conflitos.
Por Emir Sader, de 20/11/2013, no Blog da Boitempo
O secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry (foto), fez sua estreia na OEA em
grande estilo: anunciou o enterro da Doutrina Monroe. Doutrina formulada
pelos EUA no século XIX, para dar cobertura às infindáveis intervenções
– diretas e indiretas – nos países do continente, sob o pretexto de
resolver conflitos hemisféricos dentro do continente.
O lema “A
América para os americanos” tinha poucas ambiguidades, dado que os
próprios norte-americanos tentam monopolizar a América para eles mesmos.
A suposta proteção do continente de intervenções de potências de outras
regiões serviu para a reserva da região para a hegemonia
norte-americana.
Não haveria
melhor cenário para o discurso de Kerry que a OEA. Porque tanto a
Doutrina Monroe quanto a própria OEA já são cadáveres políticos há
tempos. A possibilidade dos Estados Unidos intervirem em países do
continente suporia a capacidade de criar as condições políticas para
fazê-lo.
Desde o
momento da formulação dessa doutrina, os EUA se arvoraram no direito de
impor seus interesses pela força, invadindo países, arquitetando golpes
de Estado, impondo sua vontade à OEA. Até que os países do continente
resolveram criar instâncias de integração independentes dos EUA. São os
casos do Mercosul, da Unasul, do Banco do Sul, do Conselho Sul-americano
de Defesa, da Comunidade de Estados da América Latina e o Caribe (Celac).
Quando a
América Latina decidiu assumir seus problemas no marco da integração dos
seus países, a Doutrina Monroe e sua herdeira, a OEA, foram enterradas.
Apesar de tentativas de golpe em vários dos países que têm governos
progressistas – entre eles a Venezuela, a Argentina, a Bolívia, o
Equador, Honduras e Paraguai (nestes dois últimos com sucesso) –, os EUA
têm que enfrentar mecanismos regionais que atuam para dirimir os
conflitos, como é o caso do Conselho Sul-americano de Defesa e de uma
doutrina solidária para o não reconhecimento de governos nascidos de
golpes militares.
As soluções
pacíficas para os conflitos entre a Colômbia, o Equador e a Venezuela
– assim como as ações de solidariedade, que ajudaram o governo boliviano a
derrotar tentativas separatistas – já haviam demonstrado que as
soluções dos nossos conflitos não passam pela OEA e, menos ainda, por
qualquer tipo de atuação dos EUA.
O discurso
de Kerry chega muito tarde, quando a própria realidade e os governos
latino-americanos já enterraram a Doutrina Monroe e a OEA se encontra
completamente superada pelos processos de integração regional.
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