Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (Foto: Internet) |
A reportagem é de Eric Nepomuceno e publicada no jornal argentino Página/12, 10-11-2013. A tradução é de André Langer. (Reproduzido do site do Instituto Humanitas Unisinos, de 13/11/2013)
Primeiro. As estatísticas não são totalmente confiáveis. Mas, fazendo uma média das projeções pode-se dizer que no Rio de Janeiro, talvez a cidade mais emblemática do meu país, e nessa vasta região que chamam de Grande Rio, existem mais de mil favelas. Nelas vivem mais ou menos 1,3 milhão de pessoas, de uma população de sete milhões. Quase 20% do total.
Da população dessas favelas, uma parte considerável – cerca de 60% – vive sob o jugo do narcotráfico. Outra – cerca de 35% – vive sob as “milícias”, grupos integrados por policiais civis, ou seja, pela polícia judicial, polícia militar e bombeiros. A parte que resta, 5%, vive por conta própria, livre da pressão dos narcotraficantes ou dos milicianos.
Ou seja: no Rio de Janeiro e arredores, de uma população de cerca de sete milhões de habitantes, pouco mais de um milhão sofre de maneira direta, a cada minuto de cada hora do dia das suas vidas, a opressão de organizações criminosas, tanto narcotraficantes como paramilitares.
O Estado jamais soube encontrar uma solução para semelhante cenário. Durante décadas, governadores tentaram determinar regras de convivência entre o morro, ou seja, as favelas, e o asfalto, ou seja, a cidade. As tentativas do Estado de intervir nessas zonas não passaram de tentativas.
Há poucos anos, o atual governador do Rio, Sérgio Cabral, inventou a UPP – ou seja, a Unidade de Polícia Pacificadora – que consiste em tropas da polícia militarizada que, com aviso prévio, invade as favelas e permanece ali. Com isso desaparecem dos becos os tipos armados com metralhadoras e fuzis pesados, acaba o toque de recolher ditado pelos narcotraficantes e acaba o negócio paralelo da venda ilegal de TV a cabo e de conexões de luz. Pode-se circular pelos becos estreitos, e até há festas para as classes médias do asfalto, que sobem os morros para se divertir.
Ou seja, segue a mil o tráfico, mas sem a guarda de escoltas fortemente armadas. Já não há toque de recolher, mas os traficantes sabem os movimentos de cada morador.
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