DITADURAS NÃO PODEM SER TRATADAS COMO ASSUNTO DO PASSADO NA AMÉRICA LATINA, DIZ AUTORA

Livro de Pilar foi lançado recentemente no Brasil (Foto: Boitempo/Opera Mundi)
Para Pilar Calveiro, Brasil pode seguir Argentina e julgar militares após Comissão da Verdade

Por Paulo Pastor Monteiro, de São Paulo - do Opera Mundi, de 06/11/2013

As ditaduras militares vivenciadas na América Latina foram expressões do poder estatal, e não ‘acidentes’ de percurso ou desvio de rotas. Essa é a defesa feita pela pesquisadora Pilar Calveiro, autora de “Poder e desaparecimento”, recém lançado no Brasil pela editora Boitempo. Em entrevista a Opera Mundi, Pilar, que foi sequestrada e ficou presa durante um ano e meio pela ditadura argentina, ressalta que é ‘perigoso’ tratar o regime ditatorial como “assunto do passado”, pois se “esses fatos continuam impunes, é uma permissão para que eles continuem acontecendo”.
 
A sua análise sociológica das ditaduras avançam ao ponto de, por exemplo, traçar um paralelo direto entre as motivações políticas que levaram à prática dos campos de concentração na Argentina e o presídio de Guantánamo, criado pelos Estados Unidos.  “As grandes redes de poder, públicas ou privadas, recorrem à desaparição forçada. Essa prática, de ‘prisões de exceção’, presente em diversos lugares, é administrada e praticada pela CIA e por outras grandes corporações”.
 
A autora também comenta o papel da Comissão Nacional da Verdade, e não vê a lei da anistia como impeditivo para julgamentos de repressores no Brasil. Ela lembra que, na Argentina, primeiro foi feita uma comissão, que interpretou e documentou os fatos, que depois foram levados à Justiça. Pilar reconhece e identifica, nas mais cruéis práticas da ditadura, a expressão de um projeto político e de poder, e não apenas resultado de um desvio de conduta de um grupo que chegou ao poder. 

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