CHILE: CHEGOU O MOMENTO DE BACHELET PENSAR GRANDE?



Michelle Bachelet no encerramento da campanha eleitoral ontem, dia 14 (Foto: Página/12)
Seu programa de governo, apresentado no final do mês passado, é centrado no fortalecimento do Estado e na fundação dum novo ciclo político baseado numa nova Constituição. A atual vem se mantendo intocada como a deixou a ditadura de Pinochet. Promete ainda reformas da educação e tributária.

De Salvador (Bahia) - Os eleitores do Chile escolhem novo presidente no próximo domingo, dia 17, quando a ex-presidenta Michelle Bachelet só não será eleita se acontecer algo totalmente inesperado – a dúvida é se ganha agora ou no segundo turno, dia 15/dezembro. Está disparada nas pesquisas: chega a quase 50% das intenções de voto, enquanto os demais candidatos, juntos, somam cerca de 30%.

Há um detalhe importante neste pleito que é o fato do voto ter deixado de ser obrigatório – a primeira vez na história do Chile -, uma mudança que poderá ter influência acentuada nos resultados. Me parece que é uma situação nova da qual os analistas políticos não têm se ocupado com bastante atenção. Vamos conferir o tamanho dessa influência após o comparecimento às urnas e a apuração dos votos.

Tenho acompanhado o noticiário, especialmente pelo jornal argentino Página/12, um diário que dá uma visão bem diferente da imposta pelo rolo compressor da mídia hegemônica, que monopoliza as informações também no Chile, assim como no Brasil (na Argentina, um pouco menos, porque, além do Página/12, tem a TV Pública/estatal, atuante, combativa, não é como a nossa pálida TV Brasil. E a partir de agora, deve avançar mais a comunicação popular com a vigência plena da lei que democratiza as concessões de rádio e TV, a chamada Ley de Medios, que acaba de ser referendada pela Corte Suprema argentina depois de quatro anos de batalhas judiciais entre o governo e o Grupo Clarín, a Globo de lá).
40 anos depois do tenebroso golpe de 11 de setembro de 1973, o fantasma de Pinochet continua vivo na Constituição e na economia neoliberal (Foto: Página/12)
A expectativa é grande, no meio da esquerda, quanto à provável futura gestão de Bachelet, do Partido Socialista (de boa imagem creio que devido ao grande Salvador Allende), antes numa coalizão centrista chamada Concertação, agora na chamada Nova Maioria, que parece ter espichado mais um pouquinho para a esquerda (ou centro-esquerda) com o apoio do Partido Comunista.

Digo isto porque, apesar do ôba-ôba mais ou menos generalizado, Bachelet fez no período 2006-2010 um governo bem atrasado ou moderado, do ponto de vista dos interesses democráticos e populares e da luta anti-imperialista. Dos mais atrasados da América Latina, embora sempre incluído ou lembrado quando se fala nos chamados governos progressistas da região. É bastante lembrar – não precisa citar mais nada para a avaliação se mostrar clara - que seu governo assinou um Tratado de Livre Comércio com o império estadunidense.

Agora, depois que a ofensiva dos movimentos sociais chilenos - sob a liderança do movimento estudantil na luta por uma educação pública e gratuita -, conseguiu desgastar o governo direitista de Sebastián Piñera, tudo indica que um futuro governo Bachelet terá que adotar uma postura mais à esquerda, mais combativa.

Nova Constituição e reformas tributária e da educação

Mostra disso ela deu ao apresentar no final do mês passado seu programa de governo, centrado no fortalecimento do Estado e na fundação dum novo ciclo político baseado numa nova Constituição. A atual vem se mantendo intocada como a deixou a ditadura de Pinochet. Quer dizer, o ditador caiu em 1990 e, mesmo com duas décadas de governos da Concertação, os pilares do neoliberalismo fincados na economia e na Carta Magna pinochetista se mantêm sobranceiros.

Sob os louvores generalizados dos monopólios da mídia hegemônica - a mão mais visível da direita na América Latina -, a economia chilena vem nesses anos todos pós-ditaduras e pós-auge do neoliberalismo alargando mais ainda as desigualdades sociais no Chile, na contra-mão da maioria dos governos progressistas da região, propulsores de políticas de inclusão social.

É essa herança maldita que Bachelet promete, finalmente, enfrentar num segundo mandato presidencial, conforme matéria publicada pelo Página/12, edição de 28/10/2013, com o título: “É o momento de pensar grande”, entre aspas porque é uma declaração textual da ex e provável futura presidenta.

É de se anotar, como fez a matéria do diário argentino, que a médica candidata favorita, filha de militar que morreu na prisão da ditadura – sua principal opositora, candidata de Piñera, Evelyn Matthei, é filha de militar pinochetista -, não esclareceu qual o mecanismo que pensa usar para elaboração da nova Constituição e nem mencionou uma Assembleia Constituinte, como defendem organizações políticas e sociais.

Do seu plano de governo constam também uma reforma tributária e, óbvio, uma reforma da educação, alvo prioritário das gigantescas mobilizações democráticas e populares dos últimos anos no país. No encerramento da campanha, ontem, dia 14, Bachelet, além de bater na tecla da nova Constituição, prometeu educação gratuita e propôs um aumento de 20 a 25% nos impostos das empresas.

Comentários

Anônimo disse…
Oi Jadson, digamos que a LOCE, os conflitos indígenas e a problemática das hidroelétricas no sul do Chile deponham bastante contra o viés social da senhora Gordis.