A REVOLTA DOS BICHOS


As grandes jornadas de junho/2013 estão no centro das avaliações políticas da realidade brasileira (Foto: Internet)
“Hoje, petistas e comunistas de logotipo estão no poder, em aliança com setores reacionários e corruptos da vida brasileira. Apesar de alguns poucos contestarem aqui e ali, as alianças serão mantidas, inclusive com o partido de Paulo Maluf e Bolsonaro”.

Por Otto Filgueiras, de 18/11/2013 (o artigo, publicado no Correio da Cidadania, me foi enviado pelo autor, velho companheiro de lidas jornalísticas na Bahia que está há uns 20 anos em SP)

"A revolução não é como um jantar de gala, um desenho ou bordado, que faz com tanta doçura e amabilidade d’alma. A revolução é um levante, um ato de violência pelo qual uma classe derruba outra" (Mao Tse-Tung). 

Embora a revolução chinesa não tenha dado certo, como tantas outras, a frase de Mao é determinante nas escolhas dos que não desistiram do socialismo. E hoje mais do que nunca, quando o capitalismo enfrenta, desde 2008, uma crise sem precedentes, maior e mais profunda do que a de 1929.

Em várias partes do mundo, incluindo o Brasil, estão prontas as condições, objetivas e subjetivas, para a revolução. Mas nada acontece e o sistema capitalista prossegue, inclusive com o imperialismo estadunidense provocando guerras para continuar explorando e aviltando mulheres e homens.

No caso brasileiro, a revolta contra a exploração e corrupção vieram à tona em junho passado e ainda assim a maior parte da esquerda não conseguiu intervir no processo, mesmo com a bandeira tímida de um plebiscito de reforma política.

A rebeldia nas ruas, incluindo os quebra-quebras, não significou de antemão luta contra o capitalismo e pelo socialismo. Mas foi revolta contra bancos e capitalistas, embora permeada de agentes provocadores da polícia e da direita.

A esquerda institucionalizada condenou os excessos da revolta popular, principalmente no Rio de Janeiro, fazendo coro com a grande mídia, o governador Sérgio Cabral Filho e o governo federal. E continua contemporizando com a truculência da Polícia Militar, que persegue, prende e mata pobres e negros, confirmando ser representante da burguesia e defensora de seus interesses de classe.

Como garças, passeiam pela avenida Paulista, ruas do Rio de Janeiro e de outras capitais, alardeando em megafones institucionalizados a defesa dos interesses populares, que estão ao lado da revolta, mas também contra os black e seus excessos.

Uns se escandalizam e pedem até o paredão para os “vândalos”. Outros, mais comedidos, mas enquadrados pelo sistema, dizem ser contra os black, pois são despolitizados, infiltrados pela polícia e agentes provocadores.

A infiltração da polícia e de agentes provocadores não é novidade na realidade da esquerda brasileira: foi com o artifício da infiltração, cooptação e da truculência policial militar que a ditadura derrotou militar e politicamente as organizações de esquerda. Todas. Mesmo aquelas que não faziam a luta armada e não pregavam que a ditadura seria derrubada pela armas.

Hoje, petistas e comunistas de logotipo estão no poder, em aliança com setores reacionários e corruptos da vida brasileira. Apesar de alguns poucos contestarem aqui e ali, as alianças serão mantidas, inclusive com o partido de Paulo Maluf e Bolsonaro, o que impede a identificação das ossadas de desaparecidos políticos enterrados como indigentes pelos militares torturadores no Cemitério de Perus.

Ao contrário: há notícias de que Luiz Inácio Lula da Silva trabalha pela autonomia do Banco Central, que segue elevando os juros e engordando mais ainda o sistema financeiro nacional e internacional.

A revolta nas ruas ou revolta dos bichos, mesmo com infiltrações da polícia e de agentes provocadores da direita, pode ser um grito contra a opressão e exploração capitalista. Um grito desesperado de esperança.

Esperava-se de toda a esquerda, ou quase, que seguisse o exemplo do atual PCB, Partido Comunista Brasileiro: estar ao lado dos oprimidos, e não contemporizando com a repressão e com a farra dos comunistas de logotipo.

No caso brasileiro, o nacional-desenvolvimentismo não tem mais espaço, ao contrário do que dizem alguns movimentos populares. Mas é fundamental que, na Grécia, no Brasil e em qualquer outro lugar, o socialismo seja apresentado como modo de produção mais eficiente do que o capitalista, inclusive economicamente.

Um dia, mais hoje mais amanhã, vai se confiar ao povo exausto o plano de um mundo novo e muito mais humano.

Otto Filgueiras é jornalista e está lançando o livro Revolucionários sem rosto: uma história da Ação Popular.

Observação do Evidentemente: Com o devido pedido de licença ao caro companheiro Otto, dou um modesto pitaco: considero extremamente temerária a afirmação contida no artigo, segundo a qual “em várias partes do mundo, incluindo o Brasil, estão prontas as condições, objetivas e subjetivas, para a revolução.”

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