"A
revolução não é como um jantar de gala, um desenho ou bordado, que faz com
tanta doçura e amabilidade d’alma. A revolução é um levante, um ato de
violência pelo qual uma classe derruba outra" (Mao Tse-Tung).
Embora
a revolução chinesa não tenha dado certo, como tantas outras, a frase de Mao
é determinante nas escolhas dos que não desistiram do socialismo. E hoje mais
do que nunca, quando o capitalismo enfrenta, desde 2008, uma crise sem
precedentes, maior e mais profunda do que a de 1929.
Em
várias partes do mundo, incluindo o Brasil, estão prontas as condições,
objetivas e subjetivas, para a revolução. Mas nada acontece e o sistema
capitalista prossegue, inclusive com o imperialismo estadunidense provocando
guerras para continuar explorando e aviltando mulheres e homens.
No caso
brasileiro, a revolta contra a exploração e corrupção vieram à tona em junho
passado e ainda assim a maior parte da esquerda não conseguiu intervir no
processo, mesmo com a bandeira tímida de um plebiscito de reforma política.
A
rebeldia nas ruas, incluindo os quebra-quebras, não significou de antemão
luta contra o capitalismo e pelo socialismo. Mas foi revolta contra bancos e
capitalistas, embora permeada de agentes provocadores da polícia e da
direita.
A
esquerda institucionalizada condenou os excessos da revolta popular,
principalmente no Rio de Janeiro, fazendo coro com a grande mídia, o
governador Sérgio Cabral Filho e o governo federal. E continua
contemporizando com a truculência da Polícia Militar, que persegue, prende e
mata pobres e negros, confirmando ser representante da burguesia e defensora
de seus interesses de classe.
Como
garças, passeiam pela avenida Paulista, ruas do Rio de Janeiro e de outras
capitais, alardeando em megafones institucionalizados a defesa dos interesses
populares, que estão ao lado da revolta, mas também contra os black e seus
excessos.
Uns se
escandalizam e pedem até o paredão para os “vândalos”. Outros, mais
comedidos, mas enquadrados pelo sistema, dizem ser contra os black, pois são
despolitizados, infiltrados pela polícia e agentes provocadores.
A infiltração
da polícia e de agentes provocadores não é novidade na realidade da esquerda
brasileira: foi com o artifício da infiltração, cooptação e da truculência
policial militar que a ditadura derrotou militar e politicamente as
organizações de esquerda. Todas. Mesmo aquelas que não faziam a luta armada e
não pregavam que a ditadura seria derrubada pela armas.
Hoje,
petistas e comunistas de logotipo estão no poder, em aliança com setores
reacionários e corruptos da vida brasileira. Apesar de alguns poucos
contestarem aqui e ali, as alianças serão mantidas, inclusive com o partido
de Paulo Maluf e Bolsonaro, o que impede a identificação das ossadas de
desaparecidos políticos enterrados como indigentes pelos militares
torturadores no Cemitério de Perus.
Ao contrário:
há notícias de que Luiz Inácio Lula da Silva trabalha pela autonomia do Banco
Central, que segue elevando os juros e engordando mais ainda o sistema
financeiro nacional e internacional.
A
revolta nas ruas ou revolta dos bichos, mesmo com infiltrações da polícia e
de agentes provocadores da direita, pode ser um grito contra a opressão e
exploração capitalista. Um grito desesperado de esperança.
Esperava-se
de toda a esquerda, ou quase, que seguisse o exemplo do atual PCB, Partido
Comunista Brasileiro: estar ao lado dos oprimidos, e não contemporizando com
a repressão e com a farra dos comunistas de logotipo.
No caso
brasileiro, o nacional-desenvolvimentismo não tem mais espaço, ao contrário
do que dizem alguns movimentos populares. Mas é fundamental que, na
Grécia, no Brasil e em qualquer outro lugar, o socialismo seja apresentado
como modo de produção mais eficiente do que o capitalista, inclusive
economicamente.
Um dia,
mais hoje mais amanhã, vai se confiar ao povo exausto o plano de um mundo novo
e muito mais humano.
Otto Filgueiras é jornalista e
está lançando o livro Revolucionários sem rosto: uma história da Ação
Popular.
Observação
do Evidentemente: Com o devido pedido de licença ao caro
companheiro Otto, dou um modesto pitaco: considero extremamente temerária a
afirmação contida no artigo, segundo a qual “em várias partes do mundo, incluindo o Brasil,
estão prontas as condições, objetivas e subjetivas, para a revolução.”
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