Presidente Nicolás Maduro: enfrentando uma guerra econômica (Foto: AVN) |
Essa manobra multifacetada,
“desabastecimento-inflação-dólar-terrorismo midiático”, pretende constituir um
virtuoso círculo vicioso que logre a profecia auto-anunciada: situação insustentável
(El País – jornal espanhol), para que inevitavelmente tenha lugar uma explosão
social/rebelião popular (La Nación – jornal venezuelano) com conflitos e mortes
pelos alimentos (Clarín – jornal argentino).
Por Alfredo Serrano Mancilla (doutor em Economia), no jornal argentino Página/12, edição de 01/10/2013
São
mais de 14 anos perdendo eleições após várias candidaturas, tentativas de
golpes de Estado, boicotes petroleiros e outras tantas estratégias de
desestabilização. A última, de 14 de abril, foi a gota d’água que derramou o
vaso para certos poderes econômicos e seus representantes políticos na
Venezuela. Nesta última vez, não se perdeu contra (Hugo) Chávez, e sim contra o
chavismo. (Nicolás) Maduro ganhou contra um (Henrique) Capriles que continua sem
assumir duas medalhas de prata consecutivas. O campo eleitoral, portanto, não
parece frutífero para derrocar este governo e, em consequência, os guardiões do
capitalismo neoliberal optaram por uma significativa mudança tática: aprofundamento
da guerra econômica contra o povo venezuelano. O plano se centra em
desabastecimento e escassez, acompanhados duma campanha comunicacional, interna
e externa, para procurar criar as condições objetivas e subjetivas, em formato
de tormenta perfeita, para desferir o golpe na democracia que derrube o governo
chavista. A isso cabe somar duas conhecidas armas de destruição massiva: inflação
e dólar. Essa manobra multifacetada, “desabastecimento-inflação-dólar-terrorismo
midiático”, pretende constituir um virtuoso círculo vicioso que logre a profecia
auto-anunciada: situação insustentável (El País – jornal espanhol), para que
inevitavelmente tenha lugar uma explosão social/rebelião popular (La Nación –
jornal venezuelano) com conflitos e mortes pelos alimentos (Clarín – jornal
argentino).
Quando a democracia brilha em seu máximo esplendor, os oligopólios privados de forma alguma estão satisfeitos. A Venezuela desejada para todos e impulsionada pela revolução bolivariana é realmente o oposto do padrão econômico que Capriles (e companhia) defende. O chavismo logrou marcar uma linha divisória entre dois modelos: uma economia capitalista (neoliberal) versus a economia socialista bolivariana. A primeira alternativa é a economia de mercado, do capital, do viver melhor concentrado para uns poucos, das décadas perdidas. A proposta chavista é a outra: uma economia do povo, de riqueza social distribuída, da década ganha. Desta discordância surge inexoravelmente a disputa. No campo eleitoral, sempre se dirimiu nas urnas a favor da opção chavista. No entanto, no plano econômico, a oligarquia econômico-financeira ainda não está disposta a cruzar os braços e por isso atua atentando contra os princípios democráticos mais fundamentais.
Ninguém questiona que a revolução bolivariana tem ainda grandes desafios econômicos estruturais para fazer sustentável este projeto emancipador: uma revolução fiscal, uma gestão eficiente, uma mudança da matriz produtiva. Estas políticas, já fixadas no Plano da Pátria 2013-2019 (plataforma política de Chávez na eleição de 07/outubro/2012), sem dúvida permitirão controlar a inflação, melhorar a gestão do dólar e ajudar no provimento dos bens e serviços que o povo exige. Entretanto, não apenas são necessárias essas políticas, mas também se necessita por freio à guerra econômica que vem desenvolvendo grande parte da concentrada estrutura empresarial privada. A guerra capitalista contra o povo venezuelano não tem finalidades imediatas de melhorar sua taxa de lucros - sendo capazes de estocar sem vender -, mas sim a finalidade de obter uma maior rentabilidade quanto ao poder político. O ponto-chave é que apostam num plano de desgaste nas próximas eleições municipais, para procurar o assalto completo nas eleições legislativas e/ou no referendo revogatório de 2015. E para isso a inflação é um mecanismo ideal, na forma de golpe de mercado, para substituir os golpes militares que derrubam governos democráticos. É verdade que os preços estão mais altos do que o desejado, mas é igualmente verdade que a inflação é uma questão herdada; a inflação média das décadas neoliberais (34%) é superior à década chavista (22%). A inflação não se explica pelas políticas expansivas de gastos, e sim pela estrutura oligopólica. Mas, além disso, a inflação está intimamente relacionada não com a escassez de dólares, mas com a retenção/fuga dos mesmos por parte dos que teriam que utilizá-los na importação de bens necessários para a população.
Incomoda à oposição antichavista, partidária e empresarial, nacional e internacional, que a Venezuela não esteja isolada; que seja membro pleno do Mercosul; que a China seja sua grande aliada; que cresçam as relações econômicas com a Rússia, Índia e Irã; ou que agora seja a Unasul (União das Nações Sul-americanas) ou a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) onde se tomam decisões regionalmente. Lhes incomoda que não possam pedir auxílio ao FMI, aos Estados Unidos, ou apelar ao Ciadi (Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos) para dirimir pendências e obter sentenças a seu favor. Lhes incomoda que a democracia seja isso, democratização também da economia. Como canta Carlos Puebla, “aqui pensavam continuar ganhando cem por cento”.
Tradução: Jadson Oliveira
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