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FUNDAMENTALISMO AMBIENTAL PÕE EM RISCO O DESENVOLVIMENTO DO EQUADOR
Por Igor Fuser, no portal Carta Maior, de 11/10/2013
Uma feroz disputa política agita o Equador e suscita debates pelo mundo
afora. A polêmica tem como foco o Parque Natural de Yasuní, que o
presidente equatoriano Rafael Correa decidiu recentemente abrir para a
exploração petroleira. A questão foi submetida à votação da Assembleia
Nacional, em Quito, nesta quinta-feira, 3 de outubro, quando a posição
de Correa foi referendada por 108 votos a 25, em meio a protestos de
entidades ambientalistas dentro e fora do Equador. Junto com o futuro
desse parque amazônico – uma das principais reservas de biodiversidade
do planeta – está em jogo uma questão muito cara a todos os partidários
da ideia de um “outro mundo possível”: quando os ideais da preservação
ambiental entram em choque com as necessidades humanas da sobrevivência,
dignidade e bem-estar, qual dos dois lados deve prevalecer?
Em
teoria, esse conflito não deveria existir. Afinal, os trabalhadores
explorados pelo capitalismo são os maiores prejudicados pela devastação
da natureza e pela atual catástrofe climática, causada justamente pela
febre da acumulação incessante de capital. Ambientalistas e socialistas
marcharam juntos nos encarniçados embates contra as principais
instituições do capitalismo global, na virada do século, quando chegaram
a impedir a realização de uma reunião da Organização Mundial do
Comércio, em Seattle (EUA). Na América do Sul, essa aliança esteve
presente na formação de governos populares, na Bolívia (2006) e no
Equador (2007), que adotaram entre seus princípios o conceito indígena
do “bem viver”. Por essa expressão, um tanto imprecisa, entendia-se a
valorização da existência humana em um plano que vai além do consumismo
contemporâneo e inclui a busca do equilíbrio com a natureza.
Na
sua atuação prática, esses dois governos de esquerda logo se depararam
com escolhas difíceis que trouxeram à tona interpretações divergentes
sobre o “bem viver”. Na Bolívia, o presidente Evo Morales enfrentou em
2011 a duríssima resistência de organizações indígenas e ambientalistas
que, com forte apoio no exterior, tentaram bloquear o projeto de
construção de uma rodovia atravessando a reserva indígena conhecida pela
sigla Tipnis (Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Secure).
Marchas e protestos sacudiram o país durante meses. Morales defendia a
obra como indispensável para superar o isolamento econômico de uma
enorme região (a província do Bení) e incrementar a presença dos
serviços públicos na Amazônia boliviana. O impasse só se resolveu
quando, consultados em referendo, os habitantes nativos do Tipnis se
manifestaram, na sua maioria, a favor da estrada.
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