NO INTERIOR DA BAHIA, UMA “COMISSÃO DA VERDADE” MOSTRA OS CRIMES DA DITADURA


Professor Renaildo Pereira dos Santos, o Reizinho (Foto: Divulgação)



É uma “caravana” que já esteve em várias cidades baianas – de 2011 a 2013 - exibindo o filme “Do Buriti à Pintada – Lamarca e Zequinha na Bahia” e lançando o poema “A Longa Noite – álbum da dor”, ambos do professor Renaildo Pereira dos Santos, o Reizinho. As duas obras foram adotadas pela Secretaria da Educação do estado.

De São Paulo (SP) – É como se uma informal Comissão da Verdade se antecipasse à oficial Comissão Nacional da Verdade (instituída em maio/2012) e, desde o ano de 2011, começasse a trabalhar na Bahia para anunciar o que foi o terror da última ditadura brasileira (1964-1985).

De 2011 para cá, prossegue esse trabalho de mostrar, especialmente para a juventude, o que foi os anos do terrorismo de Estado. É bastante lembrar a programação deste mês de setembro: no dia 9, em Oliveira dos Brejinhos, no semi-árido baiano; no dia 12, em Barreiras, a maior cidade do oeste da Bahia; e no dia 27, em Santa Maria da Vitória, sudoeste do estado.

Trata-se da exibição do filme “Do Buriti à Pintada – Lamarca e Zequinha na Bahia”, relatando num excelente documentário, com tocantes depoimentos de gente que viveu a tragédia em agosto/setembro de 1971, em pleno horror presidido por Garrastazu Médici, quando o capitão do Exército Carlos Lamarca e José Campos Barreto (o Zequinha) foram caçados e metralhados no interior baiano por um comando da repressão militar.
(Foto: Divulgação)
O filme é dirigido por Renaildo Pereira dos Santos, conhecido como Reizinho, professor graduado em História pela UFBA que atualmente dirige o Centro Territorial de Educação Profissional do Velho Chico, em Ibotirama, cidade da região centro-oeste da Bahia, a mais de 800 quilômetros de Salvador, na margem do Rio São Francisco. É ele próprio que se coloca à frente dum grupo de “desbravadores” de mentes e corações para mostrar e dizer “a ditadura foi isso aí, gente!”

O filme foi lançado em 2011, aos 40 anos do assassinato de Lamarca e Zequinha

E o fazem desde 2011 (como menciono acima), quando o documentário teve lançamento nacional na cidade de Brotas de Macaúbas, a cerca de 600 quilômetros da capital, exatamente o município onde nasceu o Zequinha e onde ele viveu seus últimos dias em companhia de seu camarada de militância Lamarca.

O “capitão da guerrilha” (como chamaram em livro os jornalistas Emiliano José e Oldack Miranda) passou seus últimos dias escondido nas cercanias de Buriti Cristalino, povoado de Brotas de Macaúbas onde vivia a família do Zequinha. Depois de violento ataque do comando repressor, os dois conseguiram escapar do cerco e foram assassinados alguns dias depois em Pintada, povoado do vizinho município de Ipupiara (daí o nome “Do Buriti à Pintada”).
Exibição do filme em Seabra em 2011: Goiano (José Donizette, falando, era dirigente do movimento cultural Projeto Velame Vivo), Olderico Barreto (irmão do Zequinha) e Reizinho (Foto: Jadson Oliveira)
O filme foi lançado em junho/2011 e exibido novamente em setembro/2011, quando vários eventos cívicos e religiosos marcaram em Brotas de Macaúbas os 40 anos da morte dos dois patriotas Lamarca e Zequinha.

Tal homenagem foi facilitada por dois fatores: o município era governado na época por Litercílio Júnior, prefeito do PT (Partido dos Trabalhadores), e a região é beneficiada pela atuação progressista da Igreja Católica, dirigida pelo bispo da cidade da Barra, Dom Luís Cappio (aquele que ficou mais conhecido no Brasil porque fez greve de fome em protesto contra a transposição do Rio São Francisco).

De lá para cá, o documentário – que é narrado pelo ator Paulo Betti - continuou sendo exibido em várias cidades do interior baiano (eu próprio tive a felicidade de acompanhar a exibição em Seabra, na Chapada Diamantina, minha terra natal, a 460 quilômetros da capital, e em São Desidério, cidade próxima a Barreiras).
(Foto: Divulgação)
Neste mês de setembro, que finda hoje, dia 30, a programação (conforme citei acima) já contava com um novo reforço: o lançamento de “A Longa Noite – álbum da dor”, um belo poema onde o mesmo Reizinho bota pra fora toda a emoção destravada a partir da leitura de “Batismo de Sangue”, do Frei Betto, quando ainda estudante em Salvador.

O álbum – ilustrado por Pedro Lima, artista plástico que vive em Seabra, e apresentado pelo mesmo Paulo Betti - mostra em versos (como o documentário o faz em imagens e sons) a verdadeira história da ditadura militar (ou civil-militar, como dizem muitos hoje).

As duas obras do Reizinho vão continuar sendo mostradas em outros rincões baianos (e, espero,  brasileiros), fazendo o papel duma informal e ambulante Comissão da Verdade: é a “Caravana A Longa Noite do Buriti à Pintada”. O filme e o livro foram adotados pela Secretaria da Educação da Bahia como recursos paradidáticos aos alunos do ensino Fundamental e Médio para 2014, ano que marca os 50 anos do golpe militar.

Já postei neste meu blog a íntegra do poema do Reizinho. Deixo aqui o link: A longa noite (o álbum da dor). Deixo também um link duma das matérias que escrevi sobre o assunto: Ele esteve frente a frente com o carrasco Fleury (Memória de Olderico Barreto).

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