“FORA LACERDA”: UMA HISTÓRIA DE APARENTE SUCESSO NA COMUNICAÇÃO




Fidelis Alcântara acredita que as sementes do movimento ainda podem germinar (Fotos: Jadson Oliveira)
De Belo Horizonte (MG) – O movimento “Fora Lacerda” (Márcio Lacerda, prefeito de BH, do PSB), surgido entre jovens militantes da capital mineira em 2011, ao menos pelo nome – muito panfletário – tinha tudo para não vingar (creio eu). Mas, pelo menos no tocante às comunicações (alternativas), foi bastante exitoso. Um dado atestaria isso: sua agitação chegou ao conhecimento de cerca de 15% dos belorizontinos.


A informação é do publicitário Fidelis Alcântara, que poderia ser catalogado como uma das lideranças do movimento, embora essa coisa de líder esteja banida do vocabulário atual de jovens militantes, com atuação “horizontal” – as novas tinturas anarquistas -, que navegam como peixes n’água pelas redes sociais da web. Ele garante que a zuada do “Fora Lacerda” chegou realmente a incomodar o prefeito e o detalhe dos 15% chegou até eles através de vazamento do resultado duma pesquisa mandada fazer pelo próprio Lacerda.
Experiências de movimentos sociais em debate na Faculdade de Direito: Aerton Silva, Raissa Galvão, Joana Tavares, Maíra Gomes (mediadora), Fidelis Alcântara, Decanor Nunes e Clebin Querino
Fidelis contou que a senha para o surgimento do movimento foi algumas medidas arbitrárias adotadas pelo governo municipal, como a tentativa de proibir protestos de rua e de mexer numa tal “feira hippie”, no centro da capital, muito popular por aqui. A militância atacou então com site na Internet, página no Facebook e lista de e-mails, além das formas tradicionais como panfletos (de papel) e manifestações de rua.


(Atacaram, portanto, através de formas alternativas, já que nos órgãos comerciais, na mídia hegemônica, francamente de direita, criminalizadora por excelência dos movimentos sociais, não conseguiram nenhuma brecha).


Ativistas refluíram após serem estigmatizados como petistas


A agitação ia de vento em popa, mas, no período eleitoral do ano passado (campanha de reeleição de Lacerda), quando, aparentemente, teria tudo para crescer ainda mais, o movimento refluiu. É que o prefeito, que tinha rompido sua aliança com o PT, acusou os ativistas de estarem a serviço e financiados pelos petistas. Era mentira, mas os militantes se sentiram constrangidos com tal estigmatização. De acordo com esta visão – que é a visão de Fidelis -, a tática do prefeito acertou em cheio.
A bandeira do "Fora Lacerda" no Grito dos Excluídos, em 7 de setembro
Mas ele diz que as sementes do “Fora Lacerda” ainda estão por aí e podem germinar numa hora dessas. Lembrei a ele que no Grito dos Excluídos, dia 7 de setembro, havia um rapaz com uma bandeira do movimento (postei aqui no blog, embora só agora estou entendendo). E ele me disse que no último final de semana em BH, quando de uma “virada cultural”, houve manifestações de retorno do “Fora Lacerda”.


Foi este relato – um pouco mais resumido – que Fidelis apresentou no dia 17, último dia do ciclo de debates “Mídia, Hegemonia e Transformação Social”, promovido pelo grupo que faz o jornal Brasil de Fato, edição de Minas Gerais. Foram cinco terças-feiras – de 20/agosto a 17/setembro – de bons temas para a militância democrática e de esquerda, com a participação de umas 20 a 40 pessoas em cada noite, presença pelo menos dobrada através da cobertura ao vivo da Mídia Ninja (esta é a terceira matéria que posto aqui neste meu blog sobre o evento).


Neste último encontro, na Faculdade de Direito da UFMG (os primeiros foram no Sindicato dos Jornalistas), foi justamente a vez de movimentos sociais mineiros falarem de sua experiência, focando mais no manejo de meios alternativos e populares de comunicação.
A quarta edição mineira do Brasil de Fato
A jornalista Joana Tavares, por exemplo, que dirige o núcleo mineiro do Brasil de Fato, fez uma breve exposição sobre a resistência representada pela imprensa alternativa desde o surgimento mesmo da imprensa, passando pelas várias fases da história brasileira. Falou especialmente sobre a dura luta do seu jornal, fruto dos esforços da militância de vários movimentos sociais, lembrando não ter ainda alcançado uma meta com a qual surgiu há 10 anos: tornar-se uma publicação diária (é ainda um semanário).


Foram apresentadas e debatidas também outras experiências, sob a coordenação da jornalista Maíra Gomes, da equipe mineira do Brasil de Fato: dos coletivos Fora do Eixo/Mídia Ninja (por Raissa Galvão), da Articulação do Semi-árido brasileiro – ASA-Minas (Decanor Nunes), da Associação Imagem Comunitária (Clebin Querino) e do programa de TV Extra-Classe, do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (da rede privada) – Sinpro (por Aerton Silva).

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