EUA ABRIGARIAM ESPIÕES DA CIA NO BRASIL COM APOIO DA PF

Manoel dos Santos Guerra Júnior, um dos espiões contratados pela CIA no Brasil, segundo documentos do Cenimar
Manoel dos Santos Guerra Júnior, um dos espiões contratados pela CIA no Brasil, segundo documentos do Cenimar (Foto: Correio do Brasil)
Por Correio do Brasil, de 17/09/2013

A agência central de inteligência norte-americana (CIA, na sigla em inglês) age com desenvoltura no Brasil, amparada por um convênio firmado entre o governo dos EUA e a Polícia Federal brasileira (PF), em 2010, logo após a posse da presidenta Dilma Rousseff. 

Assim, a ação do segmento acusado de espionar as principais empresas brasileiras, entre elas a Petrobras e a própria presidenta do país, segue disfarçada nos “assuntos diplomáticos” dos dois países. Este é o fato que revela a matéria do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, em matéria assinada pelo jornalista Marco Antônio Martins.

Segundo o renomado repórter, “pelo menos uma vez por semana, dois agentes da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, chegam a um dos prédios da Polícia Federal em Brasília, no setor policial sul da capital. Em menos de cinco minutos, eles passam pela portaria e se dirigem a uma reunião em um dos edifícios onde ficam os cerca de 40 agentes brasileiros da Divisão Antiterrorismo (DAT). A desenvoltura dos (norte-)americanos não é por acaso: ali, os computadores, parte dos equipamentos e até o prédio, dos anos 90, onde estão reunidos e trabalham os policiais que investigam terrorismo no Brasil, foram financiados pelos EUA”.

“Nas duas últimas semanas, a Folha entrevistou policiais federais, militares da inteligência do Exército e funcionários do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República. Todos admitem que os acordos de cooperação entre a Embaixada dos EUA e a PF são uma formalidade. E que, na prática, os americanos têm atuação bastante livre em território brasileiro. Procurada, a Embaixada dos EUA no Brasil não se pronunciou. Segundo a Folha apurou, a atuação da inteligência (norte-)americana no Brasil não se limita à espionagem eletrônica, revelada em documentos do ex-analista da NSA (Agência de Segurança Nacional) Edward Snowden”, acrescenta.

Segundo Martins, “os (norte-)americanos estão espalhados pelo país atrás de informações sobre residentes no Brasil, brasileiros ou não. Eles dão a linha em investigações e apontam quem deve ser o alvo dos policiais federais, dizem essas fontes. Na prática, os (norte-)americanos acabam se envolvendo em operações das mais diversas. Em 2004, por exemplo, a Operação Vampiro, que desmantelou uma quadrilha que atuava em fraudes contra o Ministério da Saúde na compra de medicamentos, teve participação da CIA. Em 2005, os (norte-)americanos estiveram diretamente envolvidos no rastreamento do lutador de jiu-jítsu Gouram Abdel Hakim, suspeito de pertencer a uma célula da rede terrorista Al Qaeda”.

Mas a parceria entre a Embaixada dos EUA e a Polícia Federal, formalizada por meio da assinatura de um memorando em 2010, mas ativa na prática desde muito antes disso, não escapa da polêmica. Um dos críticos é o ex-secretário nacional Antidrogas Walter Maierovitch.

– Opinei pela não oficialização do convênio, em relação às drogas, porque era um acobertamento para a espionagem desenfreada, sem limites – lembra Maierovitch.

À época, a justificativa para o convênio era que o auxílio entre americanos e brasileiros serviria para o combate às drogas. Depois do 11 de Setembro, no entanto, o foco passou a ser o terrorismo. “Os norte-americanos mantêm escritórios próprios no Rio, com a justificativa da realização da Copa do Mundo e da Olimpíada de 2016, e em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, para vigiar a atuação das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) na fronteira”.

– O que mais tem é (norte-)americano travestido de diplomata fazendo investigação no Brasil – afirma o policial federal Alexandre Ferreira, diretor da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef).

A CIA, no entanto, já agia no passado, com a mesma desenvoltura de agora, protegida pela facção mais à direita no Exército Brasileiro, responsável pelo golpe de Estado em 1964, que durou mais de duas décadas. Uma das práticas da agência norte-americana é a cooptação de olheiros no país-alvo da espionagem, a exemplo de Manoel dos Santos Guerra Júnior, hoje com 81 anos. O Cenimar o trata como informante da repressão brasileira e da CIA.

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