Manoel dos Santos Guerra Júnior, um dos espiões contratados pela CIA no Brasil, segundo documentos do Cenimar (Foto: Correio do Brasil) |
Assim, a ação do segmento acusado de espionar as principais empresas brasileiras, entre elas a Petrobras e a própria presidenta do país, segue disfarçada nos “assuntos diplomáticos” dos dois países. Este é o fato que revela a matéria do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, em matéria assinada pelo jornalista Marco Antônio Martins.
Segundo o renomado repórter, “pelo menos uma vez por semana, dois agentes da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, chegam a um dos prédios da Polícia Federal em Brasília, no setor policial sul da capital. Em menos de cinco minutos, eles passam pela portaria e se dirigem a uma reunião em um dos edifícios onde ficam os cerca de 40 agentes brasileiros da Divisão Antiterrorismo (DAT). A desenvoltura dos (norte-)americanos não é por acaso: ali, os computadores, parte dos equipamentos e até o prédio, dos anos 90, onde estão reunidos e trabalham os policiais que investigam terrorismo no Brasil, foram financiados pelos EUA”.
“Nas duas últimas semanas, a Folha entrevistou policiais federais, militares da inteligência do Exército e funcionários do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República. Todos admitem que os acordos de cooperação entre a Embaixada dos EUA e a PF são uma formalidade. E que, na prática, os americanos têm atuação bastante livre em território brasileiro. Procurada, a Embaixada dos EUA no Brasil não se pronunciou. Segundo a Folha apurou, a atuação da inteligência (norte-)americana no Brasil não se limita à espionagem eletrônica, revelada em documentos do ex-analista da NSA (Agência de Segurança Nacional) Edward Snowden”, acrescenta.
Segundo Martins, “os (norte-)americanos estão espalhados pelo país atrás de informações sobre residentes no Brasil, brasileiros ou não. Eles dão a linha em investigações e apontam quem deve ser o alvo dos policiais federais, dizem essas fontes. Na prática, os (norte-)americanos acabam se envolvendo em operações das mais diversas. Em 2004, por exemplo, a Operação Vampiro, que desmantelou uma quadrilha que atuava em fraudes contra o Ministério da Saúde na compra de medicamentos, teve participação da CIA. Em 2005, os (norte-)americanos estiveram diretamente envolvidos no rastreamento do lutador de jiu-jítsu Gouram Abdel Hakim, suspeito de pertencer a uma célula da rede terrorista Al Qaeda”.
Mas a parceria entre a Embaixada dos EUA e a Polícia Federal, formalizada por meio da assinatura de um memorando em 2010, mas ativa na prática desde muito antes disso, não escapa da polêmica. Um dos críticos é o ex-secretário nacional Antidrogas Walter Maierovitch.
– Opinei pela não oficialização do convênio, em relação às drogas, porque era um acobertamento para a espionagem desenfreada, sem limites – lembra Maierovitch.
À época, a justificativa para o convênio era que o auxílio entre americanos e brasileiros serviria para o combate às drogas. Depois do 11 de Setembro, no entanto, o foco passou a ser o terrorismo. “Os norte-americanos mantêm escritórios próprios no Rio, com a justificativa da realização da Copa do Mundo e da Olimpíada de 2016, e em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, para vigiar a atuação das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) na fronteira”.
– O que mais tem é (norte-)americano travestido de diplomata fazendo investigação no Brasil – afirma o policial federal Alexandre Ferreira, diretor da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef).
A CIA, no entanto, já agia no passado, com a mesma desenvoltura de agora, protegida pela facção mais à direita no Exército Brasileiro, responsável pelo golpe de Estado em 1964, que durou mais de duas décadas. Uma das práticas da agência norte-americana é a cooptação de olheiros no país-alvo da espionagem, a exemplo de Manoel dos Santos Guerra Júnior, hoje com 81 anos. O Cenimar o trata como informante da repressão brasileira e da CIA.
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