Igor Felipe, jornalista do MST, chamou a atenção para a força dos monopólios da mídia hegemônica também na Internet (Fotos: Jadson Oliveira) |
De
Belo Horizonte (MG) – Tem sido bem proveitoso o ciclo de debates
“Mídias, hegemonia e transformação social”, promovido pela turma que faz o
jornal Brasil de Fato em Minas (na
noite desta terça-feira, dia 10, será a vez do tema “Subjetividade e
identidade”, na Faculdade de Direito da UFMG).
Na
terça passada, dia 3, o jornalista Igor Felipe, coordenador de Comunicação do
MST, falou de “Webativismo – Experiências e limites do engajamento virtual” e
tocou num aspecto que me intriga há algum tempo: o peso da influência da
blogosfera chamada progressista (os blogs “sujos”, como xingou o ex-governador
José Serra).
Creio
que Igor relativizou acertadamente o poder de fogo da blogosfera do campo
democrático, popular e de esquerda (vamos demarcar assim) ao alertar, como fez
durante sua palestra, sobre a força na web dos sites/sítios, blogs e portais
mantidos pelos veículos da mídia tradicional, os mesmos veículos que constituem
a mesma “velha mídia”, detentora dos monopólios hegemônicos da comunicação.
Mesmo
jogando um papel de relevância – e mesmo heróico, notável -, claro que continuamos
bem minoritários também na arena digital. Um pouco melhor situados do que no
ranking da imprensona tradicional (jornais, revistas e emissoras de TV e
rádio), mas, repito, bem minoritários também na web (importante não subestimar
o ativismo dessa velha mídia e de outras forças da direita na Internet e redes
sociais).
Isadora Machado, da Mídia Ninja/MG, falou da nova forma de atuar na comunicação que se tornou mais visível a partir das grandes manifestações de rua em junho |
No centro da mesa, Maíra Gomes (entre Isadora e Igor), jornalista do Brasil de Fato, mediou os debates |
Já
temos munição para muitas vezes furar o cerco midiático da direita - é bastante
lembrar episódios como a “bolinha de papel” na cabeça do Serra e a denúncia da
sonegação milionária da Globo -, mas,
não custa matracar, continuamos minoritários. Mesmo constatando mais avanços com
as manifestações de rua anti-Globo e
com o surgimento de formas novas de fazer comunicação, como é o caso da Mídia Ninja.
Por que o governo
“petista” financia a velha mídia?
Posso
estar subestimando nossas forças (embora pequenininho, me incluo entre os
blogueiros “progressistas”), mas temos de tentar entender a realidade, sem nos
deixar levar apenas pela paixão e pelo voluntarismo: é por aí que julgo
entender o porquê do governo federal continuar se orientando por “critérios
técnicos” para continuar enchendo as burras da “mídia gorda” (expressão usada
na Caros Amigos pelo velho Mylton
Severiano, o Myltainho) na hora de destinar as verbas publicitárias.
Paga
para apanhar, como dizem alguns blogueiros, enquanto a proposta de
democratização da mídia continua engavetada.
Posso
estar totalmente equivocado, mas, para mim, não é “falta de coragem” ou “falta
de sensibilidade” da presidenta Dilma, como vejo muitas vezes nas abordagens
dos companheiros blogueiros (Lula, por seu lado, só passou a bater um pouco
mais nessa tecla depois que virou ex-presidente). É questão de força política
ou da velha e batida correlação de forças. (Sem falar que o governo – que a
mídia direitista chama de petista tentando estigmatizá-lo – é formado por uma
mixórdia de forças políticas, as quais vão da centro-esquerda até a
ultra-direita. Haja estômago!).
Aliás,
em se falando de avaliação da mídia, uma vez ouvi uma declaração que me deixou
abestalhado. Foi de um dos membros da mesa num dos debates do 3º. Encontro Nacional
dos Blogueiros, em Salvador-Bahia, em maio de 2012: o rapaz disse que era
besteira se preocupar com as “denúncias” da Veja,
pois era uma revista de apenas 1 milhão de exemplares, numa população de 200
milhões de habitantes, e não tinha tanto peso como se poderia imaginar.
Ora,
ora, fiquei com aquilo matutando no juízo. Pensei: como somente 1 milhão de
exemplares, se a toada é toda orquestrada? Toda “denúncia” da Veja, por mais
que seja sem fundamentação, vai diretamente para o próximo Jornal Nacional da Globo e para outras TVs e para as
manchetes dos jornalões “nacionais” e para os jornais estaduais e para as
rádios e para a web/redes sociais. Então não são somente 1 milhão de exemplares
da Veja.
E o deputado que
tinha uma rádio “comunitária”!?
Mais
um ponto importante: os principais meios de comunicação comunitários – rádio e
TV – poderiam ser “a salvação da lavoura” (ainda se usa esta expressão?). Não é
à toa que os chavistas lá na Venezuela dizem que rádios e TVs comunitárias são
a vacina mais eficaz contra o “terrorismo midiático”, para usar uma expressão
do agrado deles. Eles sabem o papel que jogaram os “comunicadores populares”
(outra expressão deles) na mobilização popular que reverteu o golpe de Estado
de abril de 2002 contra Hugo Chávez.
Phyl Martins, da Mídia Ninja, informou que o pico chegou a 50 acessos durante a transmissão ao vivo |
Participantes do evento no dia 3 no auditório do Sindicato dos Jornalistas |
Poderiam
– eu disse acima -, mas, na verdade, são mais um agravante para as dificuldades
dos que tentam fazer uma mídia contra-hegemônica. São tão poucas as realmente
comunitárias que logram sobreviver à feroz perseguição do governo (Anatel,
Polícia Federal e Ministério das Comunicações do “governo petista”) que podemos
dizer, sem medo de exagerar, que elas só existem no Brasil na cabeça de alguns
sonhadores.
Na
semana passada postei aqui no meu blog a matéria “Estado brasileiro processa
militante e criminaliza rádios comunitárias”, que trata duma audiência pública
na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. O autor, Bruno Marinoni, lembra um
lance engraçadíssimo: um deputado declarou que estava alegre em discutir um
assunto relevante como as rádios comunitárias, pois “eu mesmo já tive uma”. O
militante Jerry de Oliveira, paulista do Movimento Nacional de Rádios
Comunitárias (processado pela Anatel), se admirou e perguntou: “O senhor já
teve uma!?” Sua Excelência o deputado confirmou. “Então, não era comunitária”,
arrematou Jerry arrancando risos da plateia.
Na
primeira terça-feira do ciclo de debates sobre a mídia, referido na abertura
deste texto – os encontros são sempre às terças, a partir das 19 horas,
começaram no dia 20/agosto e vão até 17/setembro -, um dos debatedores, Arthur
William, do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC, do Rio), mencionou en passant que existem mais de 4.800
rádios comunitárias no Brasil. Me espantei, conversei com ele e ele me
confirmou: são as catalogadas, formalmente, como comunitárias. Dedução lógica:
a esmagadora maioria deve ser como a “comunitária” de propriedade do deputado.
Bem,
acho que falei demais, espero não ter falado muita asneira. Acrescento apenas
que o debate desta terça (dia 10) está dividido em dois itens: “Mídia e
construção da identidade brasileira” e “Mulher e mídia”, o segundo a cargo da
professora Raysa Sarmento (doutoranda em Ciência Política na UFMG). Repito:
será na Faculdade de Direito da UFMG (nas três primeiras terças, foi no Sindicato
dos Jornalistas).
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