Barack Obama: o inverossímil Prêmio Nobel da Paz (Foto: Internet) |
Por Atilio A. Boron, cientista político e sociólogo argentino –
reproduzido do jornal argentino Página/12,
edição de 01/09/2013
Não
há provas; “Se as têm, que as mostrem”, disse Vladimir Putin. Não as mostraram
nem o farão, simplesmente porque não existem. Igual que em 2003, quando difundiram
a escandalosa mentira das “armas de destruição massiva” no Iraque para
justificar a destruição dum país que, ainda hoje, continua submetido a um
interminável calvário de dor e morte. Agora repetem a cartilha, aos ouvidos duma
população domesticada, propensa a aceitar os argumentos mais absurdos – o
“consenso pré-fabricado” do qual fala Chomsky –, tais como aquele que diz que a
Síria constitui uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos. Mentem e o fazem
descaradamente; mentem ao seu próprio povo e à comunidade internacional. Ocultam
o fato decisivo de que foi Al Assad quem convocou os inspetores da ONU e não
Washington; que foi a Casa Branca quem, pelo contrário, pediu que esses
inspetores se retirassem do teatro de operações porque o castigo não podia
demorar nem um dia mais. Ocultam também que, a não ser pela hipótese de total
estupidez de Damasco, o governo sírio poderia ter detonado uma bomba
bacteriológica para matar quase 1.500 inocentes nas barbas dos inspetores vindos
a seu chamado. E se de algo deu mostras Al Assad nestes dias é de que não é nenhum
estúpido. O que ocorreu é uma clássica sabotagem, na qual os agentes da CIA são
especialistas. Como quando inventaram o incidente do golfo de Tonkin, em 1964,
para que a opinião pública estadunidense aceitasse entrar em guerra com o Vietnã.
Já em 1898 os bandidos haviam feito o mesmo: abater o encouraçado Maine, numa
sórdida autosabotagem, na entrada da baía de Havana, o que lhes permitiu
declarar guerra à Espanha e apoderar-se da ilha. Com suas mentiras, Obama e
Kerry escondem também a pérfida dupla moral do governo estadunidense, que
permaneceu imóvel quando seu então amigo Saddam Hussein intoxicava com armas
químicas “Made in America” (fabricadas nos Estados Unidos) as minorias turcas;
ou quando seus sócios israelenses utilizaram fósforo no brutal ataque à Faixa
de Gaza. Inteirado das atrocidades de Anastasio Somoza na Nicarágua, Franklin
D. Roosevelt encolhia os ombros e dizia: “Sim, mas é nosso filho da puta”. O mesmo
diziam dos crimes perpetrados por Saddam e Netanyahu, porém resulta que Al
Assad não é seu filho da puta e então merece um feroz castigo. Castigo que não
sofrerá ele e sim seu povo, as pessoas que aparecerão nos breves informes do
Pentágono como “danos colaterais”. Um império mentiroso até a medula, que
converteu os Estados Unidos, indiscutivelmente o seu centro, num Estado canalha:
não cumpre nenhuma lei internacional, nenhuma resolução da Assembleia Geral da
ONU merece ser obedecida, nenhuma norma moral pode se opor ao apetite do
“complexo militar-industrial”, cujos lucros variam na proporção direta das
guerras. Há que lançar mísseis, fretar porta-aviões, mobilizar helicópteros e
aviões e utilizar quanto armamento seja necessário. Do contrário, não há lucros
e sem eles não se podem financiar as carreiras de políticos como o inverossímil
Prêmio Nobel da Paz e cínico admirador de Martin Luther King. É uma grande
oportunidade: a Síria não se destaca por suas reservas petrolíferas (ocupa o
31º. lugar no mundo, abaixo da Argentina, segundo a OPEP), mas está no coração
do caldeirão do Oriente Médio. E eis a oportunidade, longamente acariciada por
Washington, para avançar em passos sucessivos rumo ao objetivo supremo: o Irã. Demasiadas
tentações para uma burguesia imperial que já se desvencilhou de qualquer norma
ética, e para um governante cujas convicções ficaram penduradas na grade da
Casa Branca no dia em que assumiu a presidência imperial.
Tradução: Jadson Oliveira
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