Mausoléu de Chávez no Quartel 4 F (Quartel da Montanha) (Foto: AVN) |
“Esse é o homem que nos tiraram. Um
imprescindível, como diria Brecht, que lutava sempre, todos os dias. Seu exemplo
reforça aquilo que Fidel dissera: ainda que nos digam que o mundo poderia
acabar em poucos anos, nossa obrigação deve ser lutar, lutar sem trégua, porque
o inimigo imperialista e seus lacaios colonizados não descansam”.
Por Atilio A. Boron, cientista político e sociólogo argentino –
reproduzido do jornal argentino Página/12,
edição de 19/08/2013
O
sábado, 17 de agosto, foi um dia muito especial. Os companheiros do Ministério
do Poder Popular para a Cultura da República Bolivariana da Venezuela levaram
todos os que vieram do exterior para a entrega do Prêmio Libertador do
Pensamento Crítico a visitar o novo Mausoléu onde se preservam os restos de
alguns dos maiores patriotas da independência da Grande Colômbia (os territórios
hoje da Colômbia, Venezuela e Equador faziam parte da “Gran Colombia”, criada
por Bolívar) e onde se encontra depositada a espada do Libertador Simón
Bolívar. Logo em seguida fomos ao Quartel da Montanha, rebatizado por Chávez
como o Quartel 4 F (4 de fevereiro de 1992) em homenagem ao levante militar por
ele encabeçado e que, como dissera, “por enquanto” fora derrotado. Ali, nessa
histórica fortaleza, pudemos visitar o túmulo que guarda seus restos, e todos os
visitantes fomos tomados por uma profunda emoção.
A mim me comove inclusive agora, um dia depois, escrever estas linhas para compartilhar com tantos militantes anti-imperialistas conscientes do imenso trabalho feito por Chávez no combate ao império que levou sua vida. No momento em que passei ao lado do seu túmulo e pude dar-lhe um último (“postrero”) abraço ao frio mármore que o protege, me embargou, e ainda não me abandona, um vulcânico sentimento de tristeza, dor e raiva. Uma raiva que poucas vezes senti em minha vida e que me levou a pensar – ou a delirar – que se se descobrisse quem foi o autor material da morte de Chávez (porque a cada dia estou mais convencido de que o mataram), me apresentaria como voluntário para cumprir a pena capital que qualquer Corte seguramente imporia para integrar o pelotão de fuzilamento que acabaria com a vida do canalha que assassinou nosso amigo. Declaro que não sou partidário da pena de morte, mas um magnicídio de tão enorme transcendência para as lutas dos nossos povos colocou em crise a solidez daquela convicção. A emoção e a raiva, essa mescla explosiva de dor e fúria, obedeciam também a comprovação física de que quem sempre me recebia com um sorriso e que invariavelmente entremesclava uma brincadeira com um raciocínio profundo e luminoso, já não estava mais entre nós. E que se trata duma perda irreparável.
Hoje vi pela TV Telesul uma reedição de um dos seus Alô Presidente (programa que apresentou durante vários anos aos domingos pela manhã na estatal Venezuelana de Televisão – VTV), e a brilhante forma com que explicou a lógica do capitalismo, a transformação dos valores de uso em valores de troca e, portanto, em mercadorias, e a inexorável consequência que este processo tem ao organizar e aprofundar a exploração dos trabalhadores, a divisão da mais-valia entre diferentes frações da burguesia e o empobrecimento da população, degradada ao nível de simples portadora da força de trabalho, me deixou estupefato. Em poucas palavras e com uma linguagem simples e direta, compreensível para o povo, e sumamente persuasiva, sintetizou brilhantemente o que Marx escrevera, com certeza, em O Capital ou no pequeno texto sobre Trabalho assalariado e capital; ou o que Engels explicara no Anti-Duhring. Esse é o homem que nos tiraram. Um imprescindível, como diria Brecht, que lutava sempre, todos os dias. Seu exemplo reforça aquilo que Fidel dissera: ainda que nos digam que o mundo poderia acabar em poucos anos, nossa obrigação deve ser lutar, lutar sem trégua, porque o inimigo imperialista e seus lacaios colonizados não descansam. Diferentemente de muitos “esquerdistas pós-modernos”, eles sim acreditam que a luta de classes é permanente e onipresente. Por isso, redobremos os esforços, melhoremos nossa organização e enriqueçamos nossa consciência política! Nos aproximam tempos muito tormentosos!
Atilio Boron é diretor do PLED, do Centro Cultural da Cooperação Floreal Gorini.
Tradução: Jadson Oliveira
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