Ilustração do blog Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim: "O Conversa Afiada reproduz impecável artigo do professor Wanderley Guilherme, extraído do Cafezinho, que faz impecável trabalho de desnudar a Globo – nas ilhas Virgens e em Delaware:" |
“No Brasil de hoje o direito eficaz de livre
expressão está subjugado ao inacreditável regime de apropriação de uma
concessão pública, operado por minúsculo número de entidades privadas que
controlam TVs, rádios, jornais e revistas. Acreditar que, no Brasil, prevaleça
o direito de livre expressão equivale a entregar-se a uma servidão voluntária”.
Por Wanderley Guilherme dos Santos,
cientista político – reproduzido do blog O
Cafezinho, de Miguel do Rosário,
com o título “O imperfeito
republicanismo brasileiro”. O título e o destaque acima são deste blog
(Sugestão do companheiro Geraldo Guedes,
advogado de Brumado-Bahia)
(...)
Até recentemente,
o direito de livre expressão de pensamento não ultrapassava a materialidade dos
compêndios de direito e dos exemplares impressos da Constituição de 88. Na
prática, ele se limitava à liberdade de subir em um banquinho e arengar aos
passantes. Sua eficácia era igual a zero. Com a concentração oligopólica dos
meios de comunicação, a oportunidade de concorrer ao apoio da opinião pública,
via expressão de argumentos e idéias, desapareceu. São poucos os comentaristas
e cronistas a dispor dos meios de persuasão social, ao abrigo de contraditas e
concorrência. Assim se gera um conjunto de celebridades, altamente narcisistas,
que exploram até a exaustão o direito de dizer o que bem entendem sobre o que
bem entendem. A taxa de sandices à disposição do público é formidável, sem que,
também de forma eficaz, se mostre a esse mesmo público que os filósofos,
pensadores, cronistas do quotidiano, analistas de política e sociólogos de
algibeira não passam em muitos casos de charlatães. No melhor dos casos,
inconscientes do que o são.
No Brasil de hoje o direito eficaz de livre expressão está subjugado ao
inacreditável regime de apropriação de uma concessão pública, operado por
minúsculo número de entidades privadas que controlam TVs, rádios, jornais e
revistas. Acreditar que, no Brasil, prevaleça o direito de livre expressão
equivale a entregar-se a uma servidão voluntária. O poder corruptor do sistema
é imenso, fascinando os mais diversos segmentos da sociedade. Poucos são os
políticos que resistem ao fascínio de dez segundos de televisão. Para nada
dizer dos membros do Executivo, da burocracia e do poder judiciário.
Este é o aspecto mais relevante dos novos meios de conexão: a quebra
material do oligopólio que usufruiu até agora o direito constitucional de livre
manifestação do pensamento. É mérito da tecnologia em si, assim como os devidos
à imprensa escrita e ao rádio. Nada impede que, tal como ocorreu com as
inovações anteriores, estas sejam postas a serviço do mal – e com freqüência o
são. Crucial foi o aparecimento de meios materiais que viabilizam o usufruto do
direito de livre expressão, mesmo que ainda sem músculos suficientes para se
sobrepor aos meios de comunicação privadamente seqüestrados.
(...)
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